A Presidência da República
Portuguesa custa, a todos nós contribuintes 16 milhões de euros por ano, mais
do que custa ao Estado espanhol a respetiva casa real, cerca de 3,5 milhões, apesar
de esta aí representar um dos poucos fatores de unidade do respetivo País.
Além de cara a nossa Presidência da
República tem tido nos últimos anos, com o atual inquilino, um desprestígio
cada vez maior, quer pela incapacidade de representar a cidadania, quer pelas
permanentes tomadas de posição de um conservadorismo atroz, numa lógica de
paróquia, seguidora de um ultramontanismo, só parecido com o tempo do Américo
corta-fitas, último Presidente da República do regime fascista deposto pelo 25
de Abril.
Trata-se por isso de uma
instituição em completa queda, na sua participação no processo político nacional
e mais importante ainda, no reconhecimento público de que sirva para alguma
coisa, num momento de grave crise económica e principalmente social. Basta
observar os últimos números sobre a imagem das figuras públicas nacionais, onde
o Presidente da República aparece em 6º lugar, atrás de todos os líderes dos 5
principais partidos políticos.
Longe vão os tempos, para esta
instituição – a Presidência da República, de uma gestão política realizada
pelos estadistas seus ocupantes. Mário Soares e Jorge Sampaio foram referências
para todo um País, desde os que os elegeram até aos que os não elegeram. O
equilíbrio e temperança nas decisões políticas então tomadas, aliadas à perspetiva
de defesa das artes e da cultura, nas suas múltiplas e diversas expressões,
fizeram da Presidência da República, durante vinte anos, um farol e uma
identificação de todo um País com a única instituição nacional que ninguém
discutia.
Hoje é o que sabemos. O titular é
uma sombra dos Homens que o antecederam. A política que segue, totalmente
deslocada do espaço e do tempo em que estamos. A instituição que o serve,
propiciadora de um conjunto sucessivo de polémicas, desde pseudo-escutas,
interferências não autorizadas em setores críticos da vida nacional, enfim…
Claro que o recente episódio de que
os vereadores foram informados na última reunião de Câmara, só ajuda a
consubstanciar este afastamento da realidade que a Presidência da República
Portuguesa, vive no momento presente. O Presidente visita um conjunto de
empresas do Distrito no início de Julho, tendo intenção de usar o Convento de
Cristo como palco para um balanço no final da mesma. Nada contra. O Convento de
Cristo é propriedade do Estado e a Presidência tem todo o direito de dispor
dessa infra-estrutura para a sua atividade constitucional. O que a Presidência
já não tem o direito, como o fez através do seu assessor David Justino, segundo
o que o nosso Presidente de Câmara informou, é de pedir que seja o Município de
Tomar a PAGAR O ALMOÇO A TODA A COMITIVA no final do balanço que irá ser feito
no Convento.
Como Vereador e como Tomarense, tenho vergonha que a Presidência, sabendo a situação difícil em que todas as autarquias do País se encontram, fruto de uma redução de atividade económica propiciada por políticas erradas e por um ataque sem par realizado ao poder local democrático, por uma governação socialmente insensível, da mesma cor política daquela que propala pela Presidência, venha pedir que o Município lhes pague o almoço.
Acaso quando recebe dignatários estrangeiros e os leva a visitar o Mosteiro dos Jerónimos, pede ao Município de Lisboa para lhes pagar o Almoço? Claro que não. Então porque o quer fazer em Tomar?
Uma Presidência que gasta mais de 44.000€ por dia, segundo o orçamento em vigor, tem a LATA de vir CRAVAR o almoço a realizar num monumento nacional, cuja receita vai integralmente para Lisboa? É se calhar o momento de fazer como aquando da coroação, em Tomar e no Convento de Cristo de Filipe II de Espanha, como primeiro de Portugal (1580), em que os Tomarenses de então fizeram das tripas coração para boicotar a alimentação da corte trazida a Tomar.
A Presidência da República que ganhe vergonha na cara e que pague a ALMOÇO que vai oferecer ao seu SÉQUITO e já agora que o faça recorrendo a empresas do Concelho que vem, desavergonhadamente, tentar CRAVAR!
(Publicado no Jornal "A Cidade de Tomar" em 22/6/2012)