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22.6.12

PRESIDENTE VISITA DISTRITO E CRAVA ALMOÇO A TOMAR

A Presidência da República Portuguesa custa, a todos nós contribuintes 16 milhões de euros por ano, mais do que custa ao Estado espanhol a respetiva casa real, cerca de 3,5 milhões, apesar de esta aí representar um dos poucos fatores de unidade do respetivo País.

Além de cara a nossa Presidência da República tem tido nos últimos anos, com o atual inquilino, um desprestígio cada vez maior, quer pela incapacidade de representar a cidadania, quer pelas permanentes tomadas de posição de um conservadorismo atroz, numa lógica de paróquia, seguidora de um ultramontanismo, só parecido com o tempo do Américo corta-fitas, último Presidente da República do regime fascista deposto pelo 25 de Abril.

Trata-se por isso de uma instituição em completa queda, na sua participação no processo político nacional e mais importante ainda, no reconhecimento público de que sirva para alguma coisa, num momento de grave crise económica e principalmente social. Basta observar os últimos números sobre a imagem das figuras públicas nacionais, onde o Presidente da República aparece em 6º lugar, atrás de todos os líderes dos 5 principais partidos políticos.

Longe vão os tempos, para esta instituição – a Presidência da República, de uma gestão política realizada pelos estadistas seus ocupantes. Mário Soares e Jorge Sampaio foram referências para todo um País, desde os que os elegeram até aos que os não elegeram. O equilíbrio e temperança nas decisões políticas então tomadas, aliadas à perspetiva de defesa das artes e da cultura, nas suas múltiplas e diversas expressões, fizeram da Presidência da República, durante vinte anos, um farol e uma identificação de todo um País com a única instituição nacional que ninguém discutia.

Hoje é o que sabemos. O titular é uma sombra dos Homens que o antecederam. A política que segue, totalmente deslocada do espaço e do tempo em que estamos. A instituição que o serve, propiciadora de um conjunto sucessivo de polémicas, desde pseudo-escutas, interferências não autorizadas em setores críticos da vida nacional, enfim…

Claro que o recente episódio de que os vereadores foram informados na última reunião de Câmara, só ajuda a consubstanciar este afastamento da realidade que a Presidência da República Portuguesa, vive no momento presente. O Presidente visita um conjunto de empresas do Distrito no início de Julho, tendo intenção de usar o Convento de Cristo como palco para um balanço no final da mesma. Nada contra. O Convento de Cristo é propriedade do Estado e a Presidência tem todo o direito de dispor dessa infra-estrutura para a sua atividade constitucional. O que a Presidência já não tem o direito, como o fez através do seu assessor David Justino, segundo o que o nosso Presidente de Câmara informou, é de pedir que seja o Município de Tomar a PAGAR O ALMOÇO A TODA A COMITIVA no final do balanço que irá ser feito no Convento.

Como Vereador e como Tomarense, tenho vergonha que a Presidência, sabendo a situação difícil em que todas as autarquias do País se encontram, fruto de uma redução de atividade económica propiciada por políticas erradas e por um ataque sem par realizado ao poder local democrático, por uma governação socialmente insensível, da mesma cor política daquela que propala pela Presidência, venha pedir que o Município lhes pague o almoço.

Acaso quando recebe dignatários estrangeiros e os leva a visitar o Mosteiro dos Jerónimos, pede ao Município de Lisboa para lhes pagar o Almoço? Claro que não. Então porque o quer fazer em Tomar?

Uma Presidência que gasta mais de 44.000€ por dia, segundo o orçamento em vigor, tem a LATA de vir CRAVAR o almoço a realizar num monumento nacional, cuja receita vai integralmente para Lisboa? É se calhar o momento de fazer como aquando da coroação, em Tomar e no Convento de Cristo de Filipe II de Espanha, como primeiro de Portugal (1580), em que os Tomarenses de então fizeram das tripas coração para boicotar a alimentação da corte trazida a Tomar.

A Presidência da República que ganhe vergonha na cara e que pague a ALMOÇO que vai oferecer ao seu SÉQUITO e já agora que o faça recorrendo a empresas do Concelho que vem, desavergonhadamente, tentar CRAVAR!

(Publicado no Jornal "A Cidade de Tomar" em 22/6/2012)