Livro revitado desta semana, na habitual coluna do Jornal "O Templário"
“Comparada com os horrores da Europa medieval, ou com os horrores que
subsistem em grande parte do mundo muçulmano, a influência da religião no
Ocidente até parece relativamente benigna. Mas não nos deixemos iludir por tais
comparações. O grau com que as ideias religiosas continuam a determinar as
políticas dos Governos constitui um perigo sério para todos nós”, escreve Sam
Harris, o filósofo americano que escreveu o livro desta semana.
Numa edição de 2007, da Tinta da China, com o ISBN
978-972-8955-21-2, sob o título O FIM DA
FÉ, este livro é auto-considerado com o livro negro da religião, construído
numa abordagem pós-11 de Setembro, onde as considerações realistas sobre a
influência das religiões no mundo antigo e moderno, nos levam à pergunta:
porquê e para quê? Será este o tempo em que evoluamos, finalmente, para o fim da fé?
Neste livro, a Fé é apresentada
como a principal fonte da violência mundial, na medida em que é ela que lança as bases para a intolerância
dogmática e que “justifica” o tratamento inumano das populações que
professa, ou não professam, outros credos. “A
Bíblia [O livro mais lido e vendido no
mundo até hoje], tudo leva a crer, é obra de um conjunto de homens e
mulheres perdidos no deserto que julgavam que a terra era plana e para quem um
carrinho de mão representaria um extraordinário exemplo de tecnologia de ponta”,
dispara o autor, numa provocação da irracionalidade
subjacente à Fé, às religiões e aquilo que elas podem representar num mundo
onde proliferam as armas e se aumentam como nunca as possibilidade de fazer mal
ao próximo.
Este é um livro que não deverá ler, se partir do preconceito de que há coisas que não se discutem. Nele,
também a moderação religiosa ou ateísta é igualmente contestada, pois promove a
ideia de que a fé pertence exclusivamente ao foro privado e íntimo, colocando-o
numa espécie de santuário inviolável, onde não há espaço para o debate público.
“Mas a mim parece-me por demais evidente
que as pessoas normais não podem queimar académicos geniais na praça pública só
porque estes supostamente blasfemaram contra o Alcorão [em 1994 em Islamabad, um reputado Médico foi indiciado
por o fazer e barbaramente assassinado pelo povo em fúria], ou celebrar
a morte violenta dos seus filhos [homens-bomba
suicidas, todas as semanas em algum lugar do médio oriente], a menos que
acreditem em algumas coisas altamente improváveis sobre o universo. Como a
maioria das religiões não possui mecanismos através dos quais as suas crenças
fundamentais possam ser testadas e validadas, cada nova geração de crentes está
condenada a herdar as superstições e os ódios tribais dos seus predecessores”,
conclui www.sam.harris.org.
Uma, entre as muito curiosas
comparações e realidades analisadas, é que “a influência da fé nas nossas leis
penais tem um preço considerável. (…) quando olhamos para as nossas leis sobre
drogas – melhor, para a totalidade das nossas leis contra o vício – o único
princípio organizador que parece fazer sentido entre elas é que qualquer coisa
que possa ofuscar radicalmente a oração e a sexualidade procriativa como fonte
de prazer seja declarada ilegal. (…) as preocupações com a saúde dos cidadãos,
ou com a sua produtividade, são meros pretextos neste debate, como a legalidade
do álcool e dos cigarros bem comprova”.
Um
livro, a que seguramente ninguém é indiferente e que vivamente recomendo a
leitura, agora que estamos na época das peregrinações e a tentação a poucos minutos do nosso pé.