
Além da tese da construção do PPD pela junção de três “linhas”, que segundo Rebelo Sousa, foram a “linhagem católico-social, nascida entre 1955-65, como reacção contra o corporativismo de Estado”, como primeira linha e como segunda, a “linhagem social-liberal e, aqui e ali, também social-democrata, defensora da democratização do Estado Novo, com intervenção destacada na pessoa de muitos dos deputados da chamada ‘ala liberal’ durante boa parte dos anos do Marcelismo (1969-73)”. A estas duas, a páginas 14, soma o autor uma terceira, “linhagem tecnocrático-social, sobretudo preocupada com os imperativos de desenvolvimento e justiça.(…) A SEDES – associação para o desenvolvimento económico e social – criada em 1970, onde pontuou entre outros, o futuro primeiro-ministro António Guterres, que nunca trilhou esta “junção” que fundou o adversário PPD.
Sintomático dos tempos então vividos, a frase que Galvão Teles terá dito a Rebelo Sousa a 27 de Abril de 1974, à saída da faculdade de direito: “Se não fosse a ala liberal [da Assembleia Nacional 1969-73], a SEDES e o Expresso, agora haveria um enorme vazio à direita dos socialistas”, posiciona desde logo o PPD, para ser o adversário natural e fundamental da visão de liberdade, igualdade e solidariedade, perseguida e já promovida então pelo Partido Socialista. A misturada de variados interesses, ideologicamente antagónicos, socialmente espúrios, conservativos dos valores e do status quo, dentro do já citado “caos organizativo”, suportado por interesses económicos e órgãos de comunicação social, fizeram a génese daquilo que o PPD é, até hoje.
E isso nota-se. Em Tomar é aliás por demais evidente, nesta semana em que os locais escolhem a sua liderança, entre o arrivismo extremista camarário, de matiz ecuménica enganosamente assumida, mas imprópria para as resposta exigidas ao desesperado momento do Concelho e o conservadorismo liberal, pequeno-burguês, mas geracionalmente adequado nas respostas que pretende dar aos problemas que criaram, e que nos últimos dois anos geriram, com evidente insucesso. Em todo o caso, tal como no início do PREC, retratado no livro, Tomar com este PPD, onde auguro e desejo a continuidade da vitória do grupo liderado por João Tenreiro, não sairá da cepa torna: as mesmas soluções, para os velhos problemas, darão sempre os mesmos resultados. E o que o PPD tem para mostrar em Tomar, são mais de 14 anos de falhanço, atraso em relação às terras vizinhas e inveja e luta fraticida pelo poder.
“Caos”, diz Rebelo Sousa. Eu não diria melhor!