(B)oas e (J)ustas Férias |
O tema das sociedades "secretas" surge, ciclicamente, na comunicação social, como um recurso com sucesso quando faltam outras notícias mais sensacionalistas ou quando se procura desviar a atenção da opinião pública para factos mais graves.
O sensacionalismo foi sempre um expediente utilizado como elemento de diversão, explorando a emotividade e a avidez natural da opinião pública pelo escândalo ou pelo estranho e desconhecido.
Os exemplos vão-se amontoando ao longo dos últimos anos, com a repetição de títulos e notícias, com a publicação e listas, ao bom estilo inquisitorial, bem como o desenvolvimento de insinuações ou sobre os membros da Maç:. ou sobre os seus propósitos. Apesar disso e, fruto da vertiginosa velocidade a que hoje as notícias fluem, o que é hoje notícia fantástica, cai amanhã, no mais completo esquecimento, fruto de outra polémica, de outra fantasiosa notícia de grande relevo que aparece. Assim é este admirável mundo novo.
Não será por acaso que, nos últimos anos, fruto dessa publicidade de tendência negativa, mas que apenas aguça o interesse daqueles que estão um pouco mais atentos ao que os rodeia e, bem assim, auguram obter as respostas habituais das pessoas sérias e inteligentes, as quais julgam saber, poder encontrar nas organizações Maçónicas, pilar da estabilidade ética da República e trave mestra dos valores e princípios que fundam a História moderna, depois da Revolução Francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Todos os detentores do poder político, quer sejam ou não maçons, sabem bem as linhas éticas, de valores e de princípios que não podem ser violadas, sob pena do edifício da credibilidade, da seriedade e da legítima expetativa de confiança, nos atores públicos e políticos ser violada.
Aos que estão na politica, na vida pública, espera-se que tenham um comportamento que valorize os princípios e os valores base e comumente aceites pela sociedade que visam representar, seguindo os ditames da ética, não interferindo em assunto de interesse próprio, não perseguindo pessoas em razão do seu sexo, raça, religião, pensamento ou ação, não cometendo os comuns crimes de perjúrio ou assédio, enfim procurando pelo seu exemplo, impor uma conduta que seja, única e exclusivamente assente, na defesa do interesse geral e no respeito solidário pelos companheiros de jornada.
Nem é preciso ser Maçon, para saber que é e tem de ser.
Mas afinal o que é uma associação secreta, como comumente se diz ser a Maçonaria. Uma abordagem de definição aponta-nos para que secreto seja "o que se conserva oculto; que está em segredo; ignorado; não divulgado; escondido; encoberto; não revelado; não sabido", podendo ainda ser, segundo outros, secreto será "o que se limita a um conhecimento reservado em virtude do mistério que o envolve". Nesta perspetiva secreto aparece quase como sinónimo de discreto, de reservado. Assim são tratados os circuitos de informações (de inteligência) militares e civis, de defesa da República, bem como muitos dos acordos entre Estados, entre grupos políticos dentro de um país e, muito especialmente, entre membros de uma família, para defesa dos seus interesses gerais e comuns.
Para terminar esta leve abordagem, sobre a essência do secretismos, na vida e na Maçonaria, neste texto de apelo ao mais elementar bom senso do leitos, nas vésperas de mais uns milhares deixarem de ler "coisas pesadas" e dedicarem-se à simplicidade de viver a vida despreocupadamente, estirados na rede gentilmente segura pelas colunas J e B, deixo-vos com um simpático pensamento de Fernando Pessoa, que ao defender a existência da Maçonaria, contrariando o argumento de que se tratava de uma associação secreta e por isso "perniciosa", este escreveu que: "dada a latitude desta definição [de secreta], e considerando que por associação, se entende um agrupamento mais ou menos permanente de Homens, ligados por um fim comum, e que por secreto se entende o que, pelo menos parcialmente, se não faz à vista do público, ou, feito, se não torna inteiramente público, posso, desde já, denunciar aos poderes "fáticos" do tempo presente, uma associação secreta - o Conselho de Ministros! De resto, tudo quanto de sério ou de importante se faz em reunião neste mundo, faz-se secretamente".
(texto elaborado com o primoroso contributo de "uma História da Maçonaria em Portugal 1727-1986, de António Ventura, numa edição do Circulo de Leitores)