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24.7.16

A instrução e o operariado nas vésperas da República - Maçonaria e história

(Continuando as abordagens de recolha e partilha de saberes sobre a Maçonaria e, também sobre a História da nossa sociedade, abordamos hoje a questão da educação (instrução) e do operariado, nas vésperas da implantação da República a 5 de outubro de 1910)
 
As elites culturais da época entendiam que a instrução - hoje a educação, seria a razão de modificações sociais, o que muito diz da influência do Marxismo no final do sec.XIX e princípios do Sec.XX, e daí, positivistas [ver Augusto Comte] e republicanos acreditarem na construção do "Homem Novo" -, neste caso o "cidadão republicano". por isso, o esforço continuado de levar a instrução (a educação) ao operariado e, em geral, às camadas mais desfavorecidas da sociedade, utilizando comos e diria hoje a Educação como "elevador social".
 
São múltiplas as iniciativas lançadas, entre 1870 e 1910, com esse mesmo propósito, especialmente com duas origens distintas: as de inspiração maçónica e as de génese sindicalista, não sendo ainda hoje possível determinar os respetivos cruzamentos e influências mútuas.
 
É por esta altura que aparecem os "Grémios", que Tomar também teve, onde hoje está o edifício do notário na Rotunda Alves Redol (nome bem a propósito), sendo estes Grémios na sua maioria uma versão profana das Lojas Maçónicas, ao mesmo tempo que se intensifica a ação no campo da instrução pública das associações para maçónicas, como a do livre pensamento ou a do registo civil e também a rede de Jardins Escola João de Deus.
 
Por outro lado, surgem inúmeras escolas da iniciativa das associações de classe e sindicatos. Aliás as Escolas sindicais desempenharam nessa altura um importante papel na organização social e profissional de milhares de operários de Lisboa e do Porto, papel esse que por vezes é também sublinhado com a criação de cooperativas de consumo - fenómeno aliás que se viria a repetir a seguir ao 25 de abril de 1974... 
 
Os grandes sindicatos de Lisboa, como o da construção civil e o dos metalúrgicos, dispunham de sedes onde também funcionavam escolas, na maioria das vezes em horário noturno. É de destacar também o caso dos corticeiros de Silves e dos marítimos de Setúbal, no sentido de conseguirem instalações condignas para a criação de Escolas.
E mesmo em sindicatos de menor dimensão ou de exíguos recursos financeiros, as dificuldades económicas ou de instalações nunca constituíram um impedimento absoluto para a construção de escolas. por vezes, verifica-se mesmo a associação de várias estruturas de classe no sentido de partilharem um espaço único para esse fim, hoje chamar-se-iam, "fábricas de cultura" ou "ninhos de empresas", onde às despesas com a sala de aulas se somava o material escolar e o pagamento a uma professora.
 
Este fenómeno, consolidava, por um lado, os laços das comunidades que giravam em volta das instituições promotoras e, por outro, contribuía para levar aos alunos quadros de valores republicanos, sociais e laicos, em muito afastados dos que eram praticados no ensino oficial e religioso (que era a esmagadora maioria da oferta até então existente).
 
Que bom seria que nas últimas décadas esse tivesse sido o quadro estratégico de atuação, promovendo a laicização do ensino, com promoção pública e não confessional de todos os graus de ensino, na promoção dos valores da igualdade, da liberdade e da solidariedade. Uma escola inclusa, onde TODOS pudessem desenvolver as suas competências, mas também promovesse o livre-arbítrio como fator indispensável deste "Homem Novo", sempre reinventado que ansiosamente procuramos...