O blogue teve em 2023, 35.671 visitas; 48.603 em 2022; 117.160 (2021); 50.794 (2020); 48.799 (2019); 98.329 (2018) e 106.801 (2017) +++ e mais de 838mil desde julho/2010, tendo atingido meio milhão em 5/6/2020

2.12.11

Livros revisitados - "O Banqueiro Anarquista"

O Livro desta semana, “O banqueiro anarquista”, de Fernando Pessoa, na edição da chancela Ática, da Guimarães Editores (ISBN 978-972-665-556-5), no ano de 2009, envolve-nos numa esotérica viagem, pelo mundo do “realismo ficcional”, de que só Fernando Pessoa seria capaz, desvendando a contradição entre a filosofia anarquista, muito ao gosto do primeiro quartel do Sec.XX e a profissão de banqueiro.
A trama da ficção, desenrola-se numa conversa entre um banqueiro, aparentemente anarquista que justifica os seus ideais a um amigo, que pensa inconciliável o estatuto de banqueiro com a política anárquica. O banqueiro expõe, então uma série de pontos de vista e ideias com a mais racional linha de pensamento, justificando a sua profissão, dizendo-se ainda um homem praticamente livre, uma vez que é imune ao peso do capital.
Sendo uma ficção, com o traço de génio de um Pessoa, é hoje especialmente interessante revisitá-lo, nomeadamente pela actualidade do conceito do “Banqueiro” do mundo, seja ele quem for, que parece alimentar-se numa cada vez maior “anarquia”, que destrói continentes, países, Cidades e aldeias, famílias e pessoas.
Neste “caos de milhões”, com que diariamente somos bombardeados, redescobrimos a importância das coisas simples, como o prazer do convívio com os amigos numa Cidade com Monumentos abertos todo o dia, com o gosto de ter um Rio mais limpo ou com a benesse de sabermos que todas as crianças, nossos filhos ou netos, podem ir ao cinema ou ao teatro, independentemente de viverem no campo ou na cidade, como nalguns Concelhos deste País.
Como o autor nos interpela directamente para a luta dos tempos idos, presentes e futuros, com um “realmente, quem se esquiva a travar um combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado, porque não se bateu”, diz o banqueiro que se acha anarquista. E na vida diária do nosso Concelho não será assim?
A quantos combates, quem nos tem governado, se tem procurado esquivar até hoje? Quantos mais falhanços no desenvolvimento de Tomar serão precisos, para que percebamos que nem somos governados nem por banqueiros, nem por anarquistas, mas pela pior das soluções humanas: os imobilistas?
Pessoa desafia-nos, nesta obra, a reencontrarmos o conceito de liberdade, “…para si e para os outros, para a humanidade inteira.”, “estar livre da influência ou da pressão das ficções sociais”, “ser livre tal qual nasceu e apareceu no mundo, que é como em justiça deve ser; e quer essa liberdade para si e para todos os mais”.
Ora, não é mesmo chegado o tempo de Tomar se libertar dos imobilistas, incapazes de resolverem qualquer dos problemas que o Concelho padece há anos, lhes juntou outros problemas, como por exemplo o pagar milhões por uma obra que vale tostões? Porquê e com que interesse? Quem ganha com a falta de liberdade no nosso Concelho? Quem e porquê nos quer mais pobres hoje em Tomar, do que éramos há 14 anos atrás? Não será altura de nos libertarmos destas amarras, desta falta de rasgo e humanidade, de quem nos tem governado?