O Livro desta semana, “O fim do petróleo”, do autor norte-americano James Kunstler, numa edição Bizâncio (ISBN 978-972-530-298-9), de 2006, questiona-nos mesmo antes da brutal crise financeira, económica e social que se seguiu a 2007, as razões para esta e todas as crises, no advento de uma sociedade com energia muito mais escassa e, naturalmente, mais cara.
Mas se o leitor espera encontrar um livro técnico, cheio de impenetráveis gráficos e tabelas, desengane-se. Kunstler é autor de romances e de ensaios, onde se destaca “Geografia de lugar nenhum”(1993), sempre no sentido de questionar o caminho que vimos seguindo, no “banquete de consumo do petróleo” e, através dele, da economia e da sociedade baseada na energia barata. O autor adverte-nos, no inicio da sua obra, com uma citação de Carl Jung, um dos fundadores da psicologia: “as pessoas não suportam realismo em excesso”. Pois nós em Tomar sabemos bem isso…
Tive oportunidade de assistir a conferência que o autor deu em 2006, na Fundação Caloust Gulbenkian, numa antevisão das consequências do pico de produção de petróleo na passagem do milénio, do pico do consumo mundial de energia, em 2008 e do exponencial aumento dos conflitos, dificuldades de abastecimento de diversos bens e disponibilidades financeiras para os adquirir, até hoje.
Kunstler afirma-se como um pensador da “longa emergência”, que ele está convicto ser o período de várias décadas que passaremos até nos adaptarmos a um mundo onde a energia não estará disponível, nem nas quantidades necessárias, nem em preço acessível: alimentos baseados no petróleo, como é a grande produção cerealífera mundial, estilo de vida suburbana com transportes individuais e colectivos para vencer grandes distâncias diárias, num permanente desafio pela posse da terra, sem mecanização extensiva, … Enfim, um retorno rápido aos níveis de vida e de conforto de à 250 anos atrás.
“Durante a longa emergência, a sociedade terá de concentrar-se novamente em vilas e pequenas cidades e em terras de cultivo existentes entre elas”, desafia-nos a páginas 314, dando-nos mais interessantes pistas de adaptação: “estas vilas localizam-se perto de rios, (…) que possuem muitos locais adequados à produção local de energia hidráulica. Estão rodeadas de terras de cultivo, (…). Os centros das vilas e os seus velhos bairros de habitação, concebidos na era anterior ao petróleo barato, são compactos e densos, podendo-se andar a pé, e estão, em geral, intactos, embora os edifícios se encontrem em mau estado. (…) Podem ser arranjados e convertidos com muito mais facilidade do que as povoações construídas segundo o modelo dos subúrbios. Durante a longa emergência, as obras far-se-ão devagar, prédio a prédio (…)”.
Ao ouvi-lo em 2006, fiquei com a sensação que o nosso Concelho tinha futuro, devendo ser preparado e adaptado para estes desafios que, hoje, ninguém duvida que serão resolvidos pela nossa geração. Urge então colocar mãos à obra, preparando a nossa Cidade, o nosso Concelho, para o desenvolvimento sustentável, como muitos defendem repetidamente, desde 2004. O caminho, quanto a mim, é por aí!