Nota do dia da Rádio Hertz, nesta quarta-feira (dia 22 de fevereiro) e artigo de opinião no Jornal "O Cidade de Tomar", nesta sexta-feira (dia 24 de fevereiro)
O conceito já não é nada novo e quiçá, para alguns, é já uma permanente repetição. Falamos de
ambientes criativos, aqueles onde as pessoas e as organizações cooperam para se
desenvolverem, para somarem dois com dois e o resultado ser sempre um pouco
mais do que quatro. Genericamente são assim, por exemplo, os espaços escolares,
onde a transmissão de conhecimento cria valor.
Mas não só. Também a nova indústria, com elevada incorporação
tecnológica, seja direta ou indiretamente, contribuem para aumentar o conceito
de que partilhar saberes, experiências e abordagens, fomentando a discussão
criativa, é sempre melhor que o secretismo, a sonegação de informação, a fuga
ao natural confronto de ideias.
Portugal só há bem poucos anos, muito fruto dos espaços
criativos fomentados pelas universidades e a cada vez maior expansão dos campus Universitários, com inúmeros
alunos advindos de dezenas e dezenas de países, começou a integrar na sua forma
de viver, os ambientes criativos.
Também as cidades que mais se abriram, fruto da sua
localização estratégica ou intermodal, ou fruto de grandes necessidades de
emprego – como as áreas metropolitanas,
com o decurso dos anos, acabaram por favorecer a criação dee valor, através da
perspetiva colaborativa, em lugar da anterior visão fechada, arquétipo da
sociedade portuguesa do século passado.
Na nossa região, podemos ver por exemplo a diferença de
vivência social e abordagem moderna, que a cidade do Entroncamento tem em
relação às demais, muito fruto desse choque de fora para dentro e da sua
crescente cosmopolização.
Os ambientes criativos são assim a essência do futuro, onde o
saber e a experiência partilhada, convergem para ajudar a criar mais empregos,
mais valor e também mais felicidade. Sociedades, empresas e grupos fechados,
numa atitude de resistência à mudança, acabam, cedo ou tarde, por sucumbir,
face ao choque com a realidade que, inevitavelmente, acabará por acontecer.
Uma parte de Tomar ainda resiste a este imput de ambiente criativo. Uma parte, diria mesmo, inexpectável,
pois tendemos a ideologicamente olhar para a criação como uma atitude de esquerda e o imobilismo, para uma
atitude de direita. Ora, também aqui os paradigmas começam a estar em profunda
mutação. Cada vez mais as atitudes dos grupos ditos de esquerda, em Tomar, se
caracterizam por um fechamento, um imobilismo, uma incapacidade de incorporar
novas ideias, de aceitar e retirar conclusões das críticas, de construir
colaborativamente, partilhando saber e com isso, melhorando a construção do
devir. É estranho, não é?
Há quem diga que o tempo de escuridão contemplativa, desde
que a Ordem de Cristo se fechou entre quatro paredes, moldou para sempre o
destino de Tomar. Não creio que isso seja de todo verdade.
Não há hoje já quaisquer fronteiras entre economia e
investigação e entre estas e a industria, os serviços às pessoas, a arte e o
dia a dia, de cada uma das nossas cidades e aldeias. As atuais indústrias e
serviços, no sec.XXI, envolvem todos e todas as tecnologias, e nesta revolução
que está a acontecer, ganharam as cidades e os grupos que dentro delas mais rapidamente
as integraram no seu modus operandi,
no seu dia a dia. Na prevalência da transparência, da permanente exposição
pública à crítica, ao prestar de contas, no fundo prevenindo assim o amiguismo,
o chico-espertismo, portanto, prevenindo os constantes riscos de corrupção, os
quais não se revestem, como bem sabemos, apenas os de índole financeira.
Tomar não se pode, aliás, não se deve alhear deste novo mundo,
que já aí está. Senão será uma ilha, obscura e ultrapassada, votada por isso ao
fracasso permanente. É isso que queremos? Penso que a resposta que quem lê
estas linhas, é por demais óbvia: não!
No último ano, 50% dos novos empregos criados, foram-no por
empresas com menos de 3 anos de vida e mais de 75% destes em empresas com 5 ou
menos trabalhadores.
Para esta nova realidade, impõe-se que Tomar não esteja
virada sobre si própria e, mesmo com cada vez mais cidadãos aposentados, a sua
experiência, o seu tempo disponível, são uma mais valia que constitui um
manancial brutal para o novo (atual)
paradigma em que mais do que habilitações os empregadores, o futuro, exige
habilidades, na sua expressão base do inglês, skils.
Sabendo nós que o conhecimento aumenta quando é partilhado,
ganhará quem o souber fazer e não quem tiver medo de ser ultrapassado. Eu, por
mim, sempre preferi rodear-me de quem soubesse mais do que eu, do que ser ou
estar rodeado por uma eventual horda de seguidistas acéfalos.
É esse o ambiente criativo que, para o futuro de Tomar, se
exige. No respeito pela opinião diversa, na sua aprendizagem, valorizando a
disrupção, como estratégia para criar valor, aumentando a solidariedade e
assim, voltando a acreditar na mudança necessária para o nosso Concelho.
Sabê-lo-emos fazer? Pois. Este é, meus amigos, o presente
grande desafio:
O de pensar fora da caixa!
Pode ouvir aqui a nota do dia.