Do "abecedário simbiótico", de Adelino Maltez:
A política é um espaço de contrários, uma constante tensão entre a decisão e o consenso, a liberdade e o poder, as forças e as ideias.
Já Platão ensina que a política é uma arte de conciliar contrários, semelhante à do tecelão, onde reinar é fazer juntar e convergir grupos opostos de seres humanos e até qualidades contrárias, como a bravura e a doçura.
É a tensão entre o governo tirânico e o governo político. Entre o poder e a liberdade. Entre a coação e o cumprimento espontâneo.
Um governo legítimo é, pois, aquele que governa pelo consentimento e pela persuasão, aquele que, como o tecelão, sabe harmonizar contrários e não usa a violência e a opressão.
Heraclito: o que se opõe, coopera, e da luta dos contrários deriva a mais bela harmonia.
Porque só pode atingir-se a transcendência, pela imanência. porque todo o transcendente só pode ser um transcendente situado. Porque toda a essência só pode realizar-se através da existência. É o tal existencialismo que não é anti-essencialista e o tal laicismo que não é deicida.
A política assume-se como uma atividade de harmonização de contrários, obtida pelo consentimento e pela persuasão, pelo que governar se torna num processo de ajustamento entre grupos, num processo de negociação e de troca, num modo dinâmico de gerir crises, através da articulação de interesses [gerais].