O Convento de Santa Iria começou por ser um recolhimento de senhoras devotas fixado no centro da cidade de Tomar, junto à margem do Nabão. Foi em 1467 que D. Mécia Queiroz, viúva de Pero Vaz de Almeida, vedor da fazenda do Infante D. Henrique, comprou o "sítio" de Santa Iria , mandando construir no local uma casa e respectiva capela, onde se recolheu com as filhas (GUILHERME, 1982, p. 30). Em 1523, a pedido de uma das filhas da fundadora, o recolhimento passou a ser regido pela observância de Santa Clara (idem, ibidem).
Em 1536 a capela e a casa do recolhimento foram reconstruídas e ampliadas a expensas de Pedro Moniz da Silva, comendador da Ordem de Cristo, reposteiro-mor de D. Manuel e mordomo-mor do Cardeal D. Henrique. Data pois desta época a magnífica obra de gosto renascentista, decorrente dos modelos da chamada escola da Renascença coimbrã , possivelmente uma obra da oficina de João de Castilho, que na época trabalhava nas obras do Convento de Cristo (FRANÇA, 1994, p. 84).
De planta rectangular, composta pelos volumes da nave, da capela-mor, da sacristia e da capela dos Vales, adossada lateralmente, a Igreja de Santa Iria apresenta a fachada principal disposta longitudinalmente rasgada pelo portal "de cuidado tratamento escultórico" (Idem, ibidem, p. 83) decorado com relevos de motivos de grutesco e com medalhões no extradorso, que ostenta no tímpano a data 1536, alusiva à reedificação do templo, e por uma janela edificada ao lado do portal, com moldura semelhante.
O espaço interior é composto por uma única nave, sendo ornamentado por um programa decorativo totalmente executado no século XVII, custeado por D. Vitória de Vilhena, neta de Pedro Moniz da Silva, que em 1610 "(...) mandou reedificar, ornar e pintar a ouro (...)" o interior da capela (GUILHERME, 1982, p. 30).
A nave é coberta por tecto de caixotões pintados com ornamentos de brutesco , e as suas paredes são forradas com azulejos de tapete de "ponta de diamante". O espaço da capela-mor é coberto por abóbada, também pintada, aqui com figuração em trompe l'oeil . As pinturas que ornamentam a cobertura de ambos os espaço é atribuída ao pintor Domingos Vieira Serrão (FRANÇA, 1994).
Do lado da Epístola situa-se a Capela dos Vales, mandada edificar em meados do século XVI por D. Miguel do Vale e dedicada primitivamente ao Senhor Jesus. O modelo renascentista desta particular atribui-se ao risco de uma oficina coimbrã, possivelmente a João de Ruão (Idem, ibidem, p. 84).
O claustro do convento, também edificado durante a campanha de obras quinhentista, desenvolve-se em planimetria quadrangular, com arcada toscana encimada por galeria com capitéis da mesma ordem.
Depois da extinção das ordens religiosas em 1834, o convento foi vendido em hasta pública, tendo tido desde então diferentes proprietários que utilizaram a estrutura edificada para os mais diversos fins. Actualmente, existe um projecto da edilidade local para transformar o antigo convento numa pousada histórica.
Catarina Oliveira
IPPAR/2006
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