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22.10.11

LIVROS REVISITADOS - "O fim da classe média"

O Livro desta semana, “Low Cost”, dos autores Massimo Gaggi e Edoardo Narduzzi, dois Italianos, que na sua segunda edição, da Teorema (ISBN 978-972-695-746-1), no ano de 2006 nos chamavam à atenção para o fim da classe média.

Os autores, um jornalista em Nova Iorque e outro empresário de tecnologias, chamavam há cinco anos, antes mesmo da brutal crise que se abateu primeiro sobre os Estados Unidos e depois sobre a Europa, a partir de 2007, ao caminho sem retorno em que se havia transformado o capitalismo “low cost”. Chama no seu último capitulo, a paginas 157, à atenção d”o postulado enunciado por Vilfredo Pareto,…, estabelecia que uma intervenção (politica, económica ou social) seria óptima quando melhorasse o bem-estar de, pelo menos, um indivíduo sem de algum modo prejudicar todos os outros.”
Este modelo, baseado num crescimento económico perpétuo, teve nas marcas globais da Ryanair, Ikea, Wal-Mart, Skype, Zara, Google, bem como na loja chinesa da esquina, o seu último estertor. Comprar barato, transferindo capital para outros mercados, onde o emprego é gerado, leva inexoravelmente ao empobrecimento da comunidade compradora.

Vamos às grandes superfícies e procurando preço baixo, adquirimos produtos agrícolas “low cost”, do Chile, da África do Sul, do Brasil, da Turquia, de Espanha ou de França. Saímos satisfeitos, com o nosso apelo de consumo satisfeito – alma mater da classe média a que todos dizemos pertencer, mas acabámos de ajudar a criar trabalho em cada um desses países, enriquecendo multinacionais que não pagam impostos em pais nenhum, tornando-nos escravos de um sistema que está a terminar.
Com esta acção diária deixámos de adquirir os produtos produzidos localmente, à venda nos nossos comerciantes de bairro ou de aldeia, nos mercados semanais da nossa aldeia ou em Tomar. Transferimos o nosso rendimento para outros países e para outros mercados. Deixamos cair, por encerramento sanitário e indiferença política, o nosso Mercado e dentro em pouco não teremos dinheiro para comer.

Quando pensarmos “low cost”, pensemos que:
1-Quem hoje nos vende os produtos baratos importados e “exporta” o nosso dinheiro para o estrangeiro, quando deixarmos de ter dinheiro para pagar, sai de Tomar, sai do País;

2-Os nossos comerciantes, os nossos produtores, então mais pobres ou inexistentes, não terão a quantidade necessária de produtos para nos fornecer por preço que nós possamos pagar;
3-Sem dinheiro não há comércio, sem comércio não há emprego, sendo que as mais recentes medidas do Governo são, neste contexto, um disparate económico.

Neste momento, em que vemos a destruição do nosso presente e a hipoteca do nosso futuro, somos convocados para lutar contra um poder irresponsável que nos empobrece e escraviza a interesses que não são os nossos, nem os dos nossos filhos. E em termos locais, quanto mais tempo suportaremos o não investimento na valorização do Mercado Municipal, por exemplo, que promova a venda dos produtos locais?


Coluna de opinião publicada no Jornal "O Templário", de 21 de Outubro de 2011