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9.3.17

Tomar renasce: hoje e sempre


As últimas semanas tem sido vividas com uma atividade cultural de monta, aliás na senda daquela que é sempre a oportunidade dada pelo “início do ano” tomarense, ou seja por volta daquele que era o começo do ano na idade média, marcado pelo início de Março. Por isso se assume que a data da fundação do Castelo Templário, por D.Gualdim Pais, terceiro mestre da Ordem em Portugal, é o primeiro dia do mês em que começa a Primavera, a renovação, no fundo que marca o renascimento. Tal como a Universidade de Coimbra, se assume ter começado a 1 de março de 1290, com a assinatura, por D.Dinis, do seu famoso Scientiae thesaurus mirabilis.

Dois momentos em particular há que reter e, os quais podem ainda durante este mês de março ser por todos visitados: a exposição coletiva que se encontra na Moagem – no complexo cultural da Levada de Tomar e a exposição individual do Arquiteto Souto Moura no Convento de Cristo.

Da exposição coletiva, intitulada “13 Luas, 2017”, junta 10 artistas, alguns dos quais tomarenses, alguns estrangeiros residentes na região e que conta com a apresentação de originais. Aqui a pintura é a rainha, numa diversa mistura de técnicas, mas onde o trabalho de outros materiais, como o couro, através de um artista de Alcanena, também tem presença.

Os artistas presentes são Antero Guerra, Carlos Vicente, Claire O’Hea, João Alfaro, João Carvalho, Luís Filipe Brito, Luís Sá, Luís Veiga, Sam Abercromby e Saúl Roque Gameiro. A quase completa metamorfagem que muitas peças expostas fazem com a arte industrial que é a antiga Moagem, ainda com muitas das suas máquinas, faz desta visita um desafio aos sentidos interpretativos e fazendo jus ao nosso passado, transforma o deambular pelos cinco pisos do edifício, numa tarde de revisitação, num renascimento, não só lunar, como e especialmente solar.

De igual forma, numa subida ao Convento de Cristo, o mais do que conhecido e galardoado Arquiteto portuense, Souto Moura, dá-nos a conhecer parte da sua longa e premiada obra, numa exposição intitulada “Eduardo Souto de Moura: Continuidade”. Com curadoria de André Campos e Sérgio Koch, a exposição – que apresenta sete projetos em formato de maquete e uma série de oito vídeos originais da autoria do realizador Takashi Sugimoto. Segundo estes, a arquitetura de Souto de Moura “procura a racionalidade na disciplina, claramente influenciada por Aldo Rossi e os seus princípios de que as preexistências, a história da arquitetura, a tradição da cidade europeia e a ideia de monumento são o ponto de partida para evolução da disciplina”. Somos testemunhas que a exposição marca também, por estas semanas o renascimento, anual, do nosso espírito e, ao invocar o lugar, transporta-nos por ele, num esvoaçar de desejo intrépido de olhar e ver.

Assim, eis que chegado a algo que não devemos continuar a obliterar, como seja um novo olhar que devemos começar a ter pela nossa Praça, hoje da República e durante séculos de D.Manuel.

Aí se encontra, desde julho de 1940, uma Estátua do mestre fundador do Castelo, D.Gualdim Pais, numa obra do escultor Macário Dinis, tendo a estátua sido erigida por subscrição pública e por iniciativa da Associação dos Amigos do Monumento a D. Gualdim Pais ,que teve em Vieira Guimarães um dos principais impulsionadores.

Tal como tudo em Tomar, com o seu próprio ritmo, demorou 45 anos a ser concretizada e, inicialmente prevista para ser colocada junto ao Castelo que fundou, na entrada da cidade que criou – sim porque a Tomar até ao século XIV era quase só e apenas intramuros, a denominada Vila de Cima, viria pelo Estado Novo a ser decidida de colocar na Praça D.Manuel, há pouco anos rebatizada da República.

Hoje, passados quase 80 anos da sua colocação na Praça, urge voltar a discutir a sua localização. Nascido que fui no Bairro das Flores, contíguo por isso à Praça, toda a minha vida vi a Estátua como parte do lugar.

Hoje, com outro mundo e outros olhos, olho para ela e compreendo a estranheza da sua presença.

Talvez por a Praça ter sido refuncionalizada, de lá retiradas quase totalmente as viaturas, de onde deixou de se fazer o mercado semanal. Talvez por ter ganho a vida de ser parte da nossa fruição e não o centro do nosso dia-a-dia, que foi durante séculos. Talvez por D.Gualdim Pais nada ter a ver com a frontaria do gótico flamejante, vulgo Manuelino, presente na Igreja de S.João Baptista, ou na magnitude das arcadas do Paço de D. Manuel, construído de raiz para ser a Casa do Município no sec.XVI.

Talvez por tudo isso, ou talvez apenas por não ser aquele o ESPÍRITO do LUGAR.

Eu, pessoalmente gostava de ter a Praça liberta e o nosso fundador no lugar que é dele por direito. Acaso não temos o Infante D.Henrique colocado no caminho entre a vila de cima e a vila de baixo, a que ele efetivamente deu vida e sentido, no início do sec.XV? Pois decididamente, temos uma década para o fazer. Começamos já? Ou vamos demorar outros 45 anos, como se demorou a fazer e inaugurar a Estátua?



(Filme realizado por ocasião da sua inauguração)

Capa do Jornal "O Templário"