Luís Ferreira em entrevista ao Jornal e Rádio "Cidade de Tomar"
“As pessoas melhor preparadas para exercer funções no município sou eu e o
Luís Boavida”
Elsa Lourenço
Chefe de gabinete da presidência no
Município de Tomar nos dois primeiros anos deste mandato, em entrevista ao
Jornal e Rádio “Cidade de Tomar”, Luís Ferreira, deputado municipal e dirigente
local e distrital do PS, diz que, à exceção das atuais pessoas que lideram a
gestão camarária, “as pessoas melhor preparadas para exercer funções no
município são ele próprio e Luís Filipe Boavida, o ex-chefe da Divisão
Financeira, afastado no início deste mandato e colocado, como alguns lhe
chamaram “na unidade dos queimados”. Por coincidência, ou não, Luís Boavida foi
convidado, nas últimas autárquicas, para número dois de Anabela Freitas, tal
como Luís Ferreira revelou nesta entrevista.
Cidade Tomar (CT) – Sente-se uma
pessoa polémica, ou seja, concorda que as suas funções e intervenções sempre
geraram polémica?
Luís Ferreira (LF) – Todas as minhas funções sempre foram objeto de
muita inveja e de escrutínio público, mas isso é bom.
CT – Mas sente-se perseguido?
LF – Como já disse, comecei a vida política com 16
anos, mas aos 15 escrevi o meu primeiro artigo polémico. Estou habituado a ser
perseguido, mas é algo que não me tira o sono porque quando sabemos para onde
vamos, não devemos ter medo.
CT – Já perseguiu alguém?
LF – Não, não vivo a vida a perseguir pessoas, persigo
objetivos, sonhos e acredito em valores.
CT – Mas o Luís Ferreira é uma
pessoa contundente nas suas opiniões, discussões…
LF – Sempre. Sou uma pessoa determinada, quando
defendo uma causa sou contundente, argumentativo e gosto de trabalhar os
argumentos. No fundo, sou mais corajoso do que as pessoas que vão estando na
política em Tomar. Mas tento sempre ser respeitoso e espero que haja capacidade
de encaixe por parte das pessoas.
CT – Considera que a sua nomeação
como chefe de gabinete e mais tarde o concurso de mobilidade prejudicaram a sua
imagem, ainda mais quando tinha uma relação pessoal com a presidente?
LF – É preciso separar os planos. Em 2013 eu era a
pessoa melhor preparada para o exercício da função de chefe de gabinete, uma
vez que exerci inúmeras funções políticas, eu já fui tudo no Município de
Tomar, só ainda não fui presidente de câmara (risos). No início do mandato, a
exemplo de outros municípios do país, era importante criar uma nova
estruturação do Município de Tomar e, com ou sem polémicas, o que se fez foi um
trabalho importante. Neste âmbito, não faz qualquer sentido abordar a relação
pessoal. Em relação ao concurso de mobilidade, todos os cidadãos são iguais
perante a lei e a lei é para cumprir. Sou funcionário público há 30 anos e
tenho concorrido a muitos concursos e fico sempre em primeiro lugar. Foi o que
aconteceu, concorri a um concurso (onde estive 17 dias), o concurso cessou e
voltei ao lugar de origem. Atualmente estou num organismo da administração
pública em Coimbra.
CT – Já fez de tudo na câmara, só
lhe falta ser presidente. Faz parte dos seus planos?
LF – Não, não faz.
CT – Disse que não faz sentido
abordar a relação pessoal. Ainda mantém um relacionamento com Anabela Freitas?
LF – Esse assunto é do foro privado e eu não falo das
minhas relações, dos meus filhos ou dos meus pais.
CT – Mas como encara toda a polémica
após a sua nomeação como chefe de gabinete?
LF – Em 2013, com a vitória de Anabela Freitas,
viveu-se uma circunstância particular em Tomar. Pela primeira vez uma mulher foi
eleita e isso foi fruto do trabalho de muitas pessoas, durante muito tempo.
Durante dois anos a culpa de tudo era do chefe de gabinete, este saiu em 31 de
dezembro de 2015 e parece que os problemas não desapareceram. Considero que
quando lideramos certos cargos, devemos ter em cada momento e funções, os
melhores, as pessoas melhor preparadas para os cargos e, em 2013, eu era a
pessoa melhor preparada para exercer o cargo de chefe de gabinete. Aliás, à
exceção das pessoas que atualmente gerem a câmara, as pessoas melhor preparadas
para exercer funções na autarquia sou eu e o Luís Filipe Boavida. Recordo ainda
que no momento em que Anabela Freitas decidiu ser candidata, decidiu apostar
numa equipa competente, tendo convidado para número dois da lista do PS, o Luís
Boavida, que recusou; o ex-presidente da Câmara da Barquinha, Miguel Pombeiro, que
também recusou e, por último, o atual vereador Rui Serrano.
CT – E a atual equipa está a fazer
um bom trabalho?
LF - Penso que tanto o município como as freguesias
têm procurado fazer o seu trabalho da melhor forma possível. Há muito a
melhorar se quiserem ganhar em 2017. Se nada for alterado na gestão do
município já sabemos quais são as consequências. Aliás, concordo com o último
documento público do vereador Rui Serrano, é tudo verdade, à exceção de me
acusar de ser eu a mandar em tudo. Posso ainda dizer que o vereador Rui Serrano
tem uma grande capacidade de pensamento, ou melhor “de pensar fora da caixa”, o
que faz a diferença entre pessoas diferentes. Durante a minha vida política
aprendi duas coisas com duas pessoas muito importantes no PS, uma a nível
local, Luís Bonet que me disse uma vez, ‘o mais importante para ser autarca é
olhar para o orçamento’; o outro, uma figura nacional, no caso, Jorge Coelho,
que disse uma vez, ‘as coisas ou se fazem bem ou se fazem mal’. O que é preciso
avaliar é o seguinte: eu saí em 31 de dezembro de 2015 e pergunto: A gestão do
município está melhor hoje, ou não? É isso que as pessoas devem procurar
responder.
CT – Mas quando fala em alterações
se querem ganhar em 2017 ao que se refere?
LF – Falo em alterar procedimentos. Posso dizer que os
dois primeiros anos deste mandato foram de “cozedura”, ou seja, “cozer”
opiniões, expetativas, arrumar dossiers, limpar “lixo”, resolver problemas para
promover as condições necessárias para trabalhar. Esse trabalho terminou em 2015.
CT – Defende a manutenção da
coligação com a CDU?
LF – Discordo da manutenção da coligação, aliás na
Comissão Política do PS apresentei um documento de avaliação onde propus uma
reflexão sobre a manutenção da coligação.
CT – Mas é contra a coligação com a
CDU ou o problema é o vereador Bruno Graça?
LF – Sou contra um conjunto de atitudes que o vereador
Bruno Graça foi tomando. O nepotismo faz parte das suas caraterísticas inatas.
Aliás penso que se vive uma situação perniciosa pela ascendência que o vereador
Bruno Graça exerce sob a senhora presidente. É uma situação que deveria ser
resolvida. Eu conheço há muitos anos o vereador Bruno Graça, aliás eu entrei
para o Partido quando ele era deputado municipal pelo PS, em 1983. Conheço bem
o seu discurso político, ele é muito mais político, por exemplo, que o
ex-presidente, Pedro Marques.
CT – Mas nesta fase em que o
vereador Rui Serrano renunciou aos pelouros, seria uma boa altura para terminar
a coligação com a CDU?
LF – O município está a ser governado, no âmbito da
assembleia municipal, em minoria, neste órgão a coligação não tem maioria. A
experiência que eu tive aquando da coligação do PSD com o PS é que finda esta
coligação, acabou por haver mais consensos do que antes. A oposição recusou um
orçamento e a câmara continuou a funcionar. É preciso ver que a maioria das
decisões nas reuniões de câmara são tomadas por unanimidade. Além disso,
independentemente de maioria ou não, as decisões têm de ser tomadas por quem
tem legitimidade para tal e os presidentes de câmara têm muito poder. Mesmo sem
maioria, se a presidente quiser pode exercer “em ditadura” o poder até ao fim
do mandato. Não defendo, no entanto, que se proceda dessa forma, o que eu
defendo é o diálogo e partilha entre todos os elementos do executivo.
CT – Como está a sua relação com o
PS?
LF – Como já disse, sou
dirigente local e distrital do PS, mas não deixo de ter opinião, opiniões que
tenho partilhado com os dirigentes do Partido. Como amante da minha terra,
espero que o atual executivo consiga apresentar soluções e fazer as alterações
necessárias para o PS manter o poder em Tomar.
Perfil
Luís Ferreira nasceu há 49 anos em Tomar, tem dois filhos, é informático de
profissão na Administração Pública, atualmente a trabalhar em Coimbra, gosta de
música e há largos anos que está ligado à política, exercendo alguns cargos
políticos no Partido Socialista.
É uma figura bastante conhecida em Tomar, quer
pelas suas intervenções públicas, quer pelo seu blogue, que existe há 11 anos, quer
pela sua maneira de estar.
A sua vida política começou quando tinha 16 anos, na
Juventude Socialista (JS); depois esteve alguns anos parado porque foi militar
de carreira, mas manteve-se sempre atento aos fenómenos sociais, às políticas e
especialmente à realidade tomarense.
Os cargos que desempenhou mais relevantes foram
os de adjunto do Governador Civil de Santarém, deputado municipal, vereador na
Câmara de Tomar na oposição e no poder; exerceu durante os dois primeiros anos
deste mandato, o cargo de chefe de gabinete da presidência.
Atualmente é
deputado da Assembleia Municipal de Tomar.
No PS foi presidente da Comissão
Política de Tomar há 11 anos, dirigente da JS Europeia, membro do Fórum da Juventude
do Conselho da Europa, entre uma série de outras funções.