Artigo original publicado aqui (31/3/2016)Cuidado com Espinho…
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No próximo fim de semana, o PSD reune-se na Nave Desportiva de Espinho - a mesma onde, há 16 anos, se assistiu ao nascimento do embrião "segurismo vs costismo"
Esta é uma CRONOFOTO diferente, porque não conta uma história. Conta, sim, várias histórias e cola muitos protagonistas, unidos pela política em geral mas, aqui, neste particular, se encontram unidos por um concelho de nome sobejamente agressivo: Espinho.
Na fotografia, Ana Catarina Mendes (à esquerda) surge ao lado de Rui Pedro Soares e Jamila Madeira. Hoje, Ana Catarina Mendes é secretária-geral-adjunta do Partido Socialista, cabendo-lhe a ela tomar conta do partido enquanto António Costa exerce a sua função de primeiro-ministro. Rui Pedro Soares, ex-administradora da PT e envolvido no caso Face Oculta, é atualmente presidente da SAD d’Os Belenenses. À direita, Jamila Madeira, a ex-deputada e ex-eurodeputada que gere a Agenda Europeia de Energia, na REN. Estão sorridentes, os três. Mal sabiam eles o que os esperava, naquele congresso… em Espinho.
Corria o ano 2000 e a Nave Desportiva (a mesma onde decorrerá, entre 1 e 3 de abril próximos, a reunião magna dos sociais-democratas) era alugada para acolher o XII Congresso da Juventude Socialista (JS). Ao longo dos três dias de congresso (11 a 13 de maio) houve jogos de bastidores, discursos inflamados, contestação e até acusações de chapeladas eleitorais. Houve também um momento em que ficou claro que, ali, e já naquela altura, se separavam águas: numa das margens, instalava-se uma ala mais ligada a António José Seguro e ao aparelho socialista; na outra, um grupo mais conotado com os sampaístas (de que António Costa fazia parte). Jamila Madeira representava a primeira fação; Ana Catarina Mendes, a segunda. Rui Pedro Soares, o terceiro candidato a sucessor de Sérgio Sousa Pinto à frente da JS, apresentava-se mais ligada aos soaristas.
O resultado do Congresso de Espinho (da JS, em 2000) não foi imediato. As eleições, realizadas num 13 de maio, foram impugnadas por Ana Catarina Mendes, que não aceitou a derrota por um único voto. Jamila Madeira acabaria por ser confirmada secretária-geral da JS três dias depois, mas não sem consequências. Guterres, então líder do PS e primeiro-ministro, não com apareceu na sessão de encerramento do congresso; e Sérgio Sousa Pinto, que passava o testemunho, desvinculou-se de imediato da jota. O embrião do “segurismo vs costismo”, de que já nessa altura se falava, esse, foi crescendo.
Espinho não foi o sítio onde nasceu essa guerra de irmãos socialistas, que teve o seu apogeu no final de 2014 (quando António Costa derrotou António José Seguro, nas diretas do PS). Mas foi um marco. Será que também vai deixar marcas no Congresso do PSD, no próximo fim de semana? O local é o mesmo – a Nave Desportiva. Tudo o resto é diferente. O congresso já não é eletivo – Pedro Passos Coelho foi eleito, com 95% dos votos, a 5 de março. Mas o palenque não deixará de ver passar vozes críticas, a reclamar um novo ciclo, novos temas, novas formas de fazer política, novos rostos. Passos não teve concorrência nas urnas, mas muitos querem ve-lo a sair da presidência do partido, deixando-o nas mãos de “alguém capaz de acreditar no que vê” (como disse há dias Morais Sarmento), alguém capaz de “gerar a esperança” (Marques Mendes). Pedro Duarte e José Eduardo Martins falarão do futuro.
Rui Rio garante que o Congresso do próximo fim de semana, em Espinho, não terá grande história. E espinhos, senhores?