Nestes dias de estiagem,
libertos da azáfama das viagens diárias entre casa e o emprego, do stress das
correrias entre a largada dos filhos na escola ou as compras necessárias à
sobrevivência do dia a dia, a maioria dos nossos conterrâneos, ou recebem os familiares
de aquém e de além mar, hoje que há cada vez mais emigração para os Brasis e
Africa, ou se espraiam nas ditas ou junto ao rio ou rios, que nós por cá, ricos
que somos, temos três – Nabão, Zêzere e Tejo e duas albufeiras – Carril e Bode,
que nos permitem refrescar os pés e por em dia as ideias.
E por falar em por em dia as
ideias, agora que está mais do que terminada a entrega das listas de todos os
candidatos às eleições de 29 de Setembro de 2013, recordo outros verões,
igualmente quentes, outras oportunidades trazidas e algumas desbaratadas, que foram
prometidas para Tomar.
Podia recordar o verão de
1982, quando adolescente, onde uma boa parte dos eleitores que este ano
decidirão quem substitui Carlos Carrão, nem sequer existia, mas no qual o esforço
empenhado de uns poucos tomarenses, como Fraústo da Silva, Baeta Neves ou Júlio
das Neves, haviam garantido, três anos antes, a instalação em Tomar de uma
Escola Superior, sucessivamente integrada no Instituto Politécnico de Santarém
e depois autonomizada, em 1996, na vigência do Governo Guterres. As décadas
seguintes haveriam de demonstrar o acerto da sua persistência, inicialmente
moldada numa Tomar Industrial, no rescaldo da industrialização permitida no
pós-2ª guerra mundial, pelos acordos EFTA-CEE e pela existência de um ultramar
português. Enquanto a relevância militar decaía pelos anos 80 e 90 o Instituto
Politécnico de Tomar afirmava-se, trazendo para Tomar milhares de alunos,
apesar de décadas de alheamento que a Câmara foi tendo, criando todo o tipo de
entraves e dificuldades, fosse para a simples organização das semanas
académicas, fosse para a garantia da sua expansão, necessária e adaptável, com
uma cidade que precisava de se “libertar” dos estigmas do passado. Hoje
lançando as âncoras do futuro da globalização, o acordo com a IBM, trazido pelo
Politécnico para Tomar, relança a esperança da continuidade do seu
investimento.
Podia recordar ainda o verão
de 1994, quando jovem deputado municipal e de Londres escrevi, a propósito do
que então se passava em Tomar, que “À mulher de césar não basta ser séria,
sendo preciso parece-lo”, naquilo que foi a “marca” dos anos 90 e primeira
década do sec.XXI em Tomar e no País, da emergência da construção desenfreada e
das dúvidas da idoneidade dos decisores políticos, que levariam nas décadas
seguintes, ou à prisão de alguns deles ou ao seu afastamento político
voluntário ou eleitoral, da gestão de algumas das Câmaras deste País.
Podia recordar o verão de
2001, com a importante chegada a Tomar do Programa Polis, numa iniciativa do
então Secretário de Estado do Ambiente, Engª José Sócrates, promovendo a
melhoria e retoma do Rio à vida da Cidade e prometendo que dez anos depois nada
seria igual. Um potencial e milhões, ainda não totalmente pagos, desbaratado por
uma Câmara incompetente e por gestores públicos incapazes. Resultado: um
Pavilhão pírrico, para o potencial de Tomar, numa localização errada. O
desaparecimento de um Estádio, substituído por um mero campo de futebol, onde a
barracada do seu sintético só terminou neste verão de 2013. A promessa de um
flecheiro e mercado requalificado, com devolução desse espaço à cidade, com
mercado novo e solução para os quase duzentos ciganos aí residentes, perdida
por falta de visão, mediocridade e muita incompetência, cujo desfecho final foi
a perda de mais de 3 milhões de euros há apenas dois anos, para a sua
implementação. A requalificação urbana dos Bacelos, incluindo o Bairro 1º de
Maio, da Fábrica de Fiação, onde apareceria um Grande Museu Industrial e Blocos
de Apartamentos, claro está, além de um Parque Temático, paredes meias com um
novíssimo Parque de Campismo no, desde aí totalmente privatizado, Açude de
Pedra. Promessas, basófia, mentira e milhões em projetos, pagos ou melhor, a
pagar, pela Câmara que iremos eleger em 29 de Setembro: MAIS DE UMA DÉCADA
DEPOIS!
Podia ainda recordar o Verão
de 2010, onde na qualidade de vereador com pelouros pude liderar uma dinâmica
na ORGANIZAÇÃO e promoção turística de Tomar, numa projeção nacional e
internacional absolutamente crucial para o nosso potencial, onde se conseguiu
que mais ruas do centro histórico estivessem encerradas ao trânsito,
potenciando a sua fruição e vivência, com mais esplanadas, monumentos, museus e
postos de informação turística sempre abertos, na tentativa de ter bicicletas
disponíveis para turistas e residentes, com uma administração transparente, com
a publicitação dos gastos e das receitas, das dívidas e dando voz aos que todos
os dias fazem de Tomar uma terra onde vale a pena acreditar. Verão onde, apesar
de todos os avisos, uma Câmara, ou melhor o seu presidente e vereador das
obras, Carlos Carrão, foram incapazes de evitar o encerramento compulsivo do
Mercado Municipal pela ASAE, agora em resolução: TRÊS ANOS DEPOIS!
Podia recordar muitos
verões, tantos quantos os que recordo, da minha cidade, do meu concelho, mas
não: prefiro recordar que este verão de 2013, marque a mudança de paradigma,
necessário para poder dar razão à insistência que 40.000 pessoas têm na sua
continuidade. Uma mudança que, já se sabe, será respeitadora dos projetos em
execução, dos protocolos vigentes, do que de bem, também, tem sido feito ao
longo das muitas décadas de verões de democracia. Mudar, só e apenas o que
precisa de ser melhorado. Hoje como ontem, numa perspetiva reformista, de forma
a devolver a Tomar o lugar que lhe compete na História. Porque uma coisa é
certa: ou mudamos agora, ou vamos piorar ainda mais, porque uma Câmara que
navega à vista, nunca lidera absolutamente nada. E Tomar, hoje, mais do que
nunca, precisa de liderança.
*Vereador