(Artigo de opinião publicado na edição desta semana do Jornal "O Templário")
Com todos os pelouros entregues, organizados e em ação, apenas distribuídos entre os eleitos do PS, o que é absolutamente legítimo, é altura de nos questionarmos se tal era absolutamente necessário que assim fosse neste mandato, que decorrerá até 2021.
A cerimónia de tomada de posse, havida no pretérito dia 21 de outubro, agora despida da pompa republicana de há quatro anos, ausente que esteve a guarda de honra dos Bombeiros Municipais, e perante uma assistência que não conseguiu ocupar mais de dois terços da plateia do Cine-Teatro, já antecipava esta forma de pensar.
O mais positivo foi indiscutivelmente a paridade do executivo municipal, circunstância da eleição de três mulheres e de quatro homens para a vereação. O executivo anterior que mais paridade teve, foi o de 2009-13, com duas vereadoras, do qual humildemente fiz parte.
Dois discursos pontuaram o encerramento. Bem, discursos é uma força de expresso: meros apontamentos.
Zeca Pereira foi reeleito presidente da Assembleia, por 16 votos (15 do PS e 1 do presidente de junta independente), contra 13 da lista do PSD e com três votos em branco (2CDU e 1BE).
Do seu apontamento, realce para o agradecimento que fez a sua eleição, pelos eleitores (!), esquecendo que foram os seus pares que o elegeram. Fez menção ainda "à maioria que os eleitores lhe deram", quando "apenas" obteve 38,5% dos votos (34% para o PSD) e elegeu 10 deputados em 21. Bem. É o que temos!
Seguiu-se o apontamento da presidente da Câmara, indiscutivelmente por si escrito, onde de forma simples colocou a nu a sua quase completa vacuidade, que já se havia observado nas intervenções tidas na campanha eleitoral.
Três únicas questões abordadas:
1 - as três obras previstas, com financiamento comunitário previstas, para os próximos dois anos: Palhavã, Várzea Grande e Avenida Nuno Álvares Pereira;
2 - as novas competências a serem transferidas do Estado para a administração autárquica, sem qualquer referência de concreto para a vida dos tomarenses, conseguindo assim explicar do porquê delas nos serem prejudiciais;
3 - a posição de Tomar no contexto da reorganização administrativa, entre a manutenção na de Lisboa e Vale do Tejo, ou aux contraire com a plena integração na região Centro ou, aqui a única novidade face à campanha eleitoral, a introdução da hipótese de criação de uma nova região do Ribatejo e Oeste - velha aspiração dos socialistas de Tomar.
Tudo repetido.
Sem ponta de sonho, nem caminho, sem imagética, nem capacidade demonstrada.
O que podemos esperar dos próximos quatro anos? Apenas e só o que se viu nos últimos dois.
(Não é de estranhar pois todos sabemos que, mesmo depois de cortada a cauda da lagartixa, continua a saltar durante muito tempo, parecendo ter vida).
Sobre a forma de organizar o Município - pelouros e outras formas de melhorar o serviço às populações, ou ainda mais importante: de qual o desenvolvimento que se irá implementar no Concelho, nada!
Assim, há exceção da junta urbana e na de Paialvo, onde não havia maioria, o PS numa acordou com o BE (com acordo escrito e ida para o executivo) e noutra com o CDS (só para viabilizar o executivo), descartando o seu anterior aliado que a nível concelhio lhe deu sustentação no anterior mandato, a CDU, com acordo escrito e válido para todo o Concelho.
Tendo ganho a Câmara, apenas por 5,7% (40,2 contra 34,5), quando em todos os outros 12 Concelhos do Distrito onde ganhou, o PS conseguiu vitórias por mais de 20%, mesmo em Constância onde ganhou pela primeira vez, o PS não percebe o que se passa em Tomar e as razões pelas quais teve o pior resultado das suas 13 vitórias distritais e abaixo dos 43% que seriam o somatório PS+Pedro Marques...
A liderança PS na Câmara, aposta tudo na bipolarização, sem o golpe de asa de quem, sabendo o que faz e com uma liderança sustentada, quando em maioria distribui pelouros pela oposição, mesmo não necessitando do seu voto, envolvendo dessa forma os demais eleitos no esforço diário da governação e assim, demonstrando a sua capacidade de liderar e obter o melhor de cada um para o desenvolvimento do Município. Se cumprissem, os ganhos seriam sempre para quem lidera, se falhassem, seriam prejudicados na eleição seguinte.
Historicamente líderes fortes e a sério, de Concelhos tão distintos como Rio Maior (com Silvino Sequeira - PS) ou Tomar (com António Paiva - PSD), os quais o souberam fazer. E em vários mandatos.
Bem. Mas isso eram líderes políticos que não tinham medo da sombra e sabiam para onde conduzir os seus Concelhos. Mesmo que não concordemos com o "sítio" para onde nos conduziram, como é o meu caso em relação aAntónio Paiva (PSD) 1998-2007, essa era a atitude inteligente a fazer no atual caso em Tomar.
Infelizmente para nós, continuaremos a ser governados por gente menor, sem dimensão de Estado, e sem capacidade para conduzir sem ver para além do capô do carro.
E, sempre, sempre à pendura...
Tomar merece isto?
* Luis Ferreira
Ex-vereador do Município de Tomar