1 – Considera que os tomarenses têm boas razões para recordar 2011?
Em primeiro lugar quero desejar a todos os tomarenses um excelente ano de 2012, com especial destaque para todos aqueles que não desistem de lutar pela melhoria da sua vida, da vida dos seus filhos e netos, dos seus pais e avós.
Na comunidade tomarense, aquela que aqui reside, mas também aquela que se encontra em diáspora, pelos quatro cantos do globo, muitas são as razões para desejar um ano de 2012 melhor do que o ano anterior.
Aliás repetimos todos os anos este desejo que do fundo da nossa alma se levanta, quiçá porque sabemos que o ano que terminou, o ano velho, absorve tudo o que de negativo aconteceu ou que não conseguimos atingir.
Assim “transferimos” toda a frustração, toda a revolta sobre o que correu menos bem para o coitado do ”ano velho”, que tem assim as costas largas, para tamanha responsabilidade.
No que a Tomar diz respeito, 2011 não foi um ano bom, nem mau, tendo sido mais um ano de adiamento da resolução de muitos dos nossos problemas.
Estamos nisto há quase década e meia e não se vislumbra uma solução para o problema de base. E esse problema chama-se gestão municipal, sem estratégia, nem rasgo, nem determinação, nem jovialidade, nem inovação, coragem ou tacto.
E é assim há muito tempo, demasiado tempo, diria mesmo. Eles são as dívidas pagáveis, de mais de 31 milhões de euros.
As impagáveis, de mais de 7 milhões de euros. O Mercado moribundo. O arrastar da revisão do PDM. As Freguesias e as Associações abandonadas à sua sorte, sem envolvimento estratégico para o quer que seja, sem financiamento adequado, sem serem ouvidas para nada o que de relevante é necessário para o desenvolvimento social, económico e ambiental do Concelho…
Tantas se tantas matérias poderiam ser alvo de abordagem negativa, que nem todo o tempo do mundo chegaria. Uma presidência municipal aos solavancos, à aparente mercê dos “apertos” e “pressões”, “conveniências” ou simplesmente baseada na “fuga para a frente”, tendo terminado na entrevista de 18 de Novembro à Hertz, com as célebres “consequências políticas”, do caso da carrinha junto ao Convento que foi despejada. E consequências houve, sabemo-lo bem: começámos um ano com um Presidente eleito e terminámos com outro em substituição. Pois! Mas o que mudou? A resposta vem breve e célere.
Têm os tomarenses motivos para recordar 2011, também pela positiva? Claro que têm! Foi ano de Festa dos Tabuleiros, que agregou e desenvolveu o espírito bairrista e ecuménico de toda a Tomar, a do vale do Nabão e a da diáspora. E a Festa, tirando um ou outro aspecto, que ficará para outras núpcias, correu bem. Muita gente. Animação. Presença comunicacional em vários suportes. Trabalho e receitas para muita gente, a compensar um mau ano turístico.
Outros factores de regozijo: Pois está claro que as conquistas no Desporto, dos trampolins ao atletismo, passando pelo judo e pela natação, pelo Hóquei e pelo futebol, não deixaram ficar Tomar e os Tomarenses mal em múltiplos e variados aspectos.
Eventos que foram notícia: O Lego e as Sopas, o Tomarimbando, o Nabão activo, as Estátuas e a Feira de Santa Iria. Dificuldades de financiamento nalguns deles, modelos esgotados noutros. Localizações pouco adequadas ou a rever, como por exemplo a separação prejudicial à Feira de Santa Iria, que todos os anos se afere, mas nunca se corrige.
E o Mercado, sempre o Mercado. E a resolução das condições de vida sub-humanas em alguns casos da comunidade cigana, sempre o mesmo problema. Três milhões de financiamentos europeus para requalificar a zona, apenas porque nunca se puseram por escrito a alteração á candidatura inicial. Evidente inépcia. Evidente incapacidade e mesmo má vontade.
Mas o Convento de Cristo é Património Mundial e está em Tomar, pois claro. E o Município está a pagar caro investimento de melhoria da sua envolvente e acessos, mas ainda não discutiu como rentabilizá-la. Também aí 2011, foi mais um ano perdido! Estratégia: Turismo, turismo, turismo. Mas como rentabilizá-lo? Que parcerias estão activas e em desenvolvimento? Com que meios e agentes? A discussão e as decisões estratégicas onde estão? Apenas betão? Betão? Só hardware? E o software?
No meio disto alguém grita: o rei vai nu! É só fachada: muita parra e pouca uva.
Pois! Mas a nossa terra até parece gostar. É esta apetência pelo Teatro, sempre o Teatro, do Fatias, claro está, mas também de vila nova, das aboboreiras, de cem soldos e da canto firme. Firme, firme o canto que se avisava para 2011, como a velhinha canção de Lopes Graça: Acordai! Mas ficou no final do ano com a sua casa-museu, quase sempre fechada.
Longe vai o ano de 2010 em que se garantia a abertura dos monumentos e espaços visitáveis, posto de turismo incluído, das 10H00 às 18H00, sem paragem para almoço. É que o turista deve andar por aí, visitar e querer voltar. Mas em 2011, alguém se esqueceu dessa base do turismo: a acessibilidade ao bem, ao produto. Pois!
E por falar em esquecimento, 2011 foi ainda o ano em que começou a célebre obra da levada, mais uns milhões de financiamentos comunitários, 3 milhões à conta da Câmara, sem projecto de musealização, ou seja, completada a obra, não sabemos o que fazer e seguida. Ou talvez improvisemos. Ou quem sabe, se tirem consequências políticas de mais essa estranha decisão? Nahhh
2 – Enquanto responsável político, o que mais se orgulha de ter feito, durante o último ano, em prol do Concelho?
Eis então chegados ao que mais se pode um vereador hoje da oposição, ontem da partilha de poder, orgulhar de ter feito em 2011, em prol do Concelho. Nas condições atrás descritas, valerá a pena referir a intervenção qualificante realizada no Rio Nabão, no sentido da prevenção de cheias? Da concepção, defesa e finalmente de aprovação do Regulamento do Serviço Municipal de Protecção Civil, substituindo um com mais de 15 anos e 4 anos depois de toda a legislação ter sido aprovada neste sector, depois de um ano retido na gaveta pelo Sr.Presidente de Câmara?
Pode um vereador orgulhar-se de ter contribuído para dizer não a um prejudicial acordo para o pagamento de 6,5 milhões de euros por uma concessão de estacionamento, construção de parque, que o nunca deveria ter sido da maneira desastrosa em que o foi?
Pode um vereador orgulhar-se de ter melhorado o sistema de protecção civil, mantendo as despesas, aumentando os serviços realizados á população, reformulando a política de preços, colocando todos os cidadãos do Concelho em igualdade de circunstâncias no transporte de doentes, quando anteriormente os residentes no espaço rural pagavam muito mais do que os residentes na cidade?
Pode um vereador orgulhar-se de ter contribuído para uma maior divulgação e sensibilização da protecção civil, como um bem e esforço colectivo, fosse na limpeza florestal, fosse na actividade diária, de vigilância e atitude responsável perante o risco, qualquer que ele fosse, através dos boletins da protecção civil, quatro no ano e da página protegeTomar.com, como já no ano anterior o havia feito com campingTomar.com para o campismo e com o DescobreTomar.com para o turismo?
Pode um vereador orgulhar-se de ter, sem aumentar a despesa, dado melhores condições de trabalho e de remuneração directa e indirecta aos cidadãos-bombeiros, premiando os mais cumpridores, contribuindo para a sua valorização pessoal e profissional?
Pode um vereador considerar, após um ano conturbado, que deu o seu melhor para denunciar o que estava errado e propor as devidas correcções, como por exemplo no caso do Convento de Santa Iria, ou no terminus da despesa inútil do boletim municipal e respectiva assessoria?
Pode um vereador orgulhar-se de ter terminado a sua missão colocando à disposição das Juntas de Freguesia mais um meio de trabalho para a sua missão de protecção civil, uma requalificada e equipada carrinha 4X4, parada há mais de quatro anos, ou dos necessários equipamentos de sinalização individual?
Poder pode, mas numa Câmara tão pouco activa na resolução dos problemas colectivos, tal representa muito pouco e apenas serve para sinalizar o que poderia, ou deveria ser feito, como estratégia global. Numa autarquia que trata os problemas sociais com alguma desconfiança, as parcerias com desdém. A iniciativa com inveja. Um responsável político dificilmente se pode sentir realizado ou mesmo feliz pela sua actuação. Podia e devia ter ido muito mais longe.
3 – Voltaria atrás nalguma decisão que tenha tomado ou faria algo que deixou de fazer?
Quanto às decisões tomadas, nesta como em outras matérias, estou seguro que tomei as melhores decisões em cada momento, com os dados que tinha para as tomar. Quando se actua com a probidade e ética republica, com que procuro pautar sempre a minha actuação, têm-se a consciência perfeitamente tranquila.
Quanto a algo que tenha deixado por fazer, considero que o ter conseguido terminar as obras de qualificação projectadas no Quartel dos Bombeiros, para a melhoria das condições de trabalho de todos os bombeiros é algo que gostaria de ter conseguido concretizar. Isso, a par do regulamento interno dos Bombeiros e da instalação do novo Comando dos Bombeiros.
A nível de Protecção Civil, gostaria de ter terminado os trabalhos preparatórios para o estudo das decisões tendentes à implementação da taxa de protecção civil, que colocasse as grandes empresas concessionárias, de auto-estradas, caminhos de ferro, comunicações, luz, água e grandes proprietários florestais a pagar o milhão de euros que custa o nosso sistema de protecção civil, visto que a Câmara não é rica e muito trabalho há ainda para fazer nas Freguesias e no apoio social aos mais débeis do Concelho, com os meios que poderão ser poupados se a esses grandes proprietários e concessionários, se cobrasse o que a lei prevê.
Mas esta é uma matéria que seguramente terá o seu momento de discussão, com responsabilidade nestes próximos anos e onde conto estar presente.
4 – Os tomarenses têm razões para acreditar num 2012 positivo ou, à semelhança da generalidade do país, também nos esperam grandes dificuldades?
Tomar está quanto a mim numa clara encruzilhada. Perdeu competitividade para outras cidades da região, não sabendo dar consequência ao Plano Estratégico de Cidade elaborado entre 95-97 e aprovado por ampla maioria nessa altura. De então para cá baixou a nível nacional do lugar 59 do Indice de Poder de Compra em 1997, para o lugar 91 no ano de 2007.
Perdeu empresas, muitas e perdeu empregos, estando neste momento registados quase 2000 desempregados no Concelho de Tomar. E mais não estão, porque em virtude da falta de espectativas de fixação de novas empresas ou desenvolvimento das existentes, muitos, especialmente os mais qualificados e jovens optam por migrar ou emigrar. Este caminho não é solução. Todos o sabemos. 2012 corre assim o risco, se nada for alterado, de ser mais um ano perdido.
Podem os protagonistas do passado, representar as soluções para o futuro? Repito essa pergunta há já demasiados anos, para se poder considerar ser esta uma nova questão a ser respondida neste novo ano. Tenho esperança de que antes do meu filho de 11 anos poder votar, este problema esteja resolvido, após resposta positiva do eleitorado tomarense.
Aqueles que nos anos 90 do século passado permitiram o que permitiram, a nível de clareza na gestão municipal não são solução, todos o sabemos!
Os que posteriormente a isso cometeram os graves erros estratégicos, como este dos 6,5 milhões de euros que alguém há-de um dia pagar à ParqueT, também não.
Esses, uns e outros são os protagonistas do passado.
E este factor é independente da crise internacional que vivemos desde 2008. Esse é um erro nosso, que só nós podemos resolver. É certo que dava muito jeito a todos que os culpados fossem outros, algures longe, em Lisboa, ou Santarém ou mais próximos em Torres Novas, Ourém ou Abrantes. Mas as soluções para Tomar só podem vir dos tomarenses. Só deles mesmos! Só de nós mesmos!
5 – Durante 2012, refira, por favor, três desejos para o Concelho.
Neste contexto, que desejos se podem, com honestidade augurar para Tomar, neste ano de 2012? Esperar que o Carnaval, as Sopas, o Lego, o Tomarimbando, o Festival Bons Sons e as Estátuas Vivas decorram com o sucesso anterior e que com eles, Tomar possa recuperar parte do brilho e mercado na área dos eventos e negócio na área turística. Mas para isso é preciso promoção. É preciso estratégia. São precisas mais parcerias, menos invejas mesquinhas e mais lógica de economia de fileira.
Que desejo maior se pode ter para 2012, do que esta Câmara desgastada dê lugar a uma nova, com rasgo, competência e vontade de retomar o lugar que é seu no contexto regional? Que maior desejo pode um Tomarense augurar para 2012, do que devolver a 31 de Dezembro, um Concelho mais organizado, mais solúvel, com mais empresas, com mais empregos, com mais solidariedade, com mais trabalho em prol dos outros e menos egoísmo e inveja.
O desejo maior, mesmo o maior, é que possamos atingir metade do sucesso que os nosso inimigos nos desejam de falhanço. Nesse dia Tomar será a terra que ambicionamos e estas últimas décadas não mais serão do que uma triste lembrança.
E porque acredito que Tomar vale a pena ofereço a TODOS e cada um dos nossos ouvintes um triplo abraço fraterno, com muita liberdade, na promoção da igualdade e com a devida fraternidade. A todos um excelente trabalho e um bom ano!