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22.8.13

UMA CÂMARA QUE NAVEGA À VISTA NUNCA LIDERA NADA

Por Luis Ferreira*

Nestes dias de estiagem, libertos da azáfama das viagens diárias entre casa e o emprego, do stress das correrias entre a largada dos filhos na escola ou as compras necessárias à sobrevivência do dia a dia, a maioria dos nossos conterrâneos, ou recebem os familiares de aquém e de além mar, hoje que há cada vez mais emigração para os Brasis e Africa, ou se espraiam nas ditas ou junto ao rio ou rios, que nós por cá, ricos que somos, temos três – Nabão, Zêzere e Tejo e duas albufeiras – Carril e Bode, que nos permitem refrescar os pés e por em dia as ideias.

E por falar em por em dia as ideias, agora que está mais do que terminada a entrega das listas de todos os candidatos às eleições de 29 de Setembro de 2013, recordo outros verões, igualmente quentes, outras oportunidades trazidas e algumas desbaratadas, que foram prometidas para Tomar.

Podia recordar o verão de 1982, quando adolescente, onde uma boa parte dos eleitores que este ano decidirão quem substitui Carlos Carrão, nem sequer existia, mas no qual o esforço empenhado de uns poucos tomarenses, como Fraústo da Silva, Baeta Neves ou Júlio das Neves, haviam garantido, três anos antes, a instalação em Tomar de uma Escola Superior, sucessivamente integrada no Instituto Politécnico de Santarém e depois autonomizada, em 1996, na vigência do Governo Guterres. As décadas seguintes haveriam de demonstrar o acerto da sua persistência, inicialmente moldada numa Tomar Industrial, no rescaldo da industrialização permitida no pós-2ª guerra mundial, pelos acordos EFTA-CEE e pela existência de um ultramar português. Enquanto a relevância militar decaía pelos anos 80 e 90 o Instituto Politécnico de Tomar afirmava-se, trazendo para Tomar milhares de alunos, apesar de décadas de alheamento que a Câmara foi tendo, criando todo o tipo de entraves e dificuldades, fosse para a simples organização das semanas académicas, fosse para a garantia da sua expansão, necessária e adaptável, com uma cidade que precisava de se “libertar” dos estigmas do passado. Hoje lançando as âncoras do futuro da globalização, o acordo com a IBM, trazido pelo Politécnico para Tomar, relança a esperança da continuidade do seu investimento.

Podia recordar ainda o verão de 1994, quando jovem deputado municipal e de Londres escrevi, a propósito do que então se passava em Tomar, que “À mulher de césar não basta ser séria, sendo preciso parece-lo”, naquilo que foi a “marca” dos anos 90 e primeira década do sec.XXI em Tomar e no País, da emergência da construção desenfreada e das dúvidas da idoneidade dos decisores políticos, que levariam nas décadas seguintes, ou à prisão de alguns deles ou ao seu afastamento político voluntário ou eleitoral, da gestão de algumas das Câmaras deste País.

Podia recordar o verão de 2001, com a importante chegada a Tomar do Programa Polis, numa iniciativa do então Secretário de Estado do Ambiente, Engª José Sócrates, promovendo a melhoria e retoma do Rio à vida da Cidade e prometendo que dez anos depois nada seria igual. Um potencial e milhões, ainda não totalmente pagos, desbaratado por uma Câmara incompetente e por gestores públicos incapazes. Resultado: um Pavilhão pírrico, para o potencial de Tomar, numa localização errada. O desaparecimento de um Estádio, substituído por um mero campo de futebol, onde a barracada do seu sintético só terminou neste verão de 2013. A promessa de um flecheiro e mercado requalificado, com devolução desse espaço à cidade, com mercado novo e solução para os quase duzentos ciganos aí residentes, perdida por falta de visão, mediocridade e muita incompetência, cujo desfecho final foi a perda de mais de 3 milhões de euros há apenas dois anos, para a sua implementação. A requalificação urbana dos Bacelos, incluindo o Bairro 1º de Maio, da Fábrica de Fiação, onde apareceria um Grande Museu Industrial e Blocos de Apartamentos, claro está, além de um Parque Temático, paredes meias com um novíssimo Parque de Campismo no, desde aí totalmente privatizado, Açude de Pedra. Promessas, basófia, mentira e milhões em projetos, pagos ou melhor, a pagar, pela Câmara que iremos eleger em 29 de Setembro: MAIS DE UMA DÉCADA DEPOIS!

Podia ainda recordar o Verão de 2010, onde na qualidade de vereador com pelouros pude liderar uma dinâmica na ORGANIZAÇÃO e promoção turística de Tomar, numa projeção nacional e internacional absolutamente crucial para o nosso potencial, onde se conseguiu que mais ruas do centro histórico estivessem encerradas ao trânsito, potenciando a sua fruição e vivência, com mais esplanadas, monumentos, museus e postos de informação turística sempre abertos, na tentativa de ter bicicletas disponíveis para turistas e residentes, com uma administração transparente, com a publicitação dos gastos e das receitas, das dívidas e dando voz aos que todos os dias fazem de Tomar uma terra onde vale a pena acreditar. Verão onde, apesar de todos os avisos, uma Câmara, ou melhor o seu presidente e vereador das obras, Carlos Carrão, foram incapazes de evitar o encerramento compulsivo do Mercado Municipal pela ASAE, agora em resolução: TRÊS ANOS DEPOIS!

Podia recordar muitos verões, tantos quantos os que recordo, da minha cidade, do meu concelho, mas não: prefiro recordar que este verão de 2013, marque a mudança de paradigma, necessário para poder dar razão à insistência que 40.000 pessoas têm na sua continuidade. Uma mudança que, já se sabe, será respeitadora dos projetos em execução, dos protocolos vigentes, do que de bem, também, tem sido feito ao longo das muitas décadas de verões de democracia. Mudar, só e apenas o que precisa de ser melhorado. Hoje como ontem, numa perspetiva reformista, de forma a devolver a Tomar o lugar que lhe compete na História. Porque uma coisa é certa: ou mudamos agora, ou vamos piorar ainda mais, porque uma Câmara que navega à vista, nunca lidera absolutamente nada. E Tomar, hoje, mais do que nunca, precisa de liderança.
*Vereador

12.8.13

Um palhaço é sempre um palhaço...

Teixeira da Mota "É importante chamar palhaço a quem acho que é palhaço"
 
Francisco Teixeira da Mota foi o advogado responsável pela defesa do escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares no âmbito da queixa-crime apresentada pelo Presidente da República, Cavaco Silva, e, a esse propósito, comenta em entrevista ao i: “É importante chamar palhaço a quem acho que é palhaço”. Teixeira da Mota considera também que em Portugal não se aceita a crítica porque “temos todos o rei na barriga”.
É importante chamar palhaço a quem acho que é palhaço
 
E eu a pensar que após duzentos anos depois da extinção da SANTA INQUISIÇÃO, e mais de um quarto de século de integração europeia, já teríamos evoluído...