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24.11.20

Atingido o pico da segunda vaga, é tempo de antever a retoma (e de mudar de vida)

Por estes dias dever-se-á estar a atingir, em Portugal, o pico da segunda vaga, como aliás já foi atingido há uma semana na generalidade dos Países europeus.

Esta segunda vaga, deverá atingir cerca de 6-7x mais casos positivos do que a primeira - muito fruto da enorme capacidade de testagem agora existente. A nível de internamentos (em enfermaria e cuidados intensivos), estaremos a falar de 3-4x mais e a nível de óbito de 2-3x mais.

Nesta segunda vaga, fruto da aprendizagem da primeira, foi possível não fechar nem as escolas, nem as fronteiras, e organizar melhor a resposta do sistema de saúde, que já em anos anteriores havia estado à beira da rutura com os surtos gripais de 2014-15 (com 5500 mortes), de 2017-18 (com 3700 mortes) e de 2018-19 (com 3300 mortes). O numero de óbitos, acumulado entre as primeira e segunda vaga, irá estar à volta dos 5000-5200 óbitos, fazendo desta doença, uma doença de elevada mortalidade, mas não muito superior a surtos gripais mais severos, conforme os anteriormente relatados.

O grande erro, já todos percebemos, foi fechar a economia e, entender que era com redução de horários dos estabelecimentos comerciais, que se resolvia uma propagação de uma doença respiratória. A teoria até é simples: se as pessoas não saírem de casa, e em absurdo nada nelas entrar - pessoas e bens, a probabilidade de contaminação tende para zero. Ora, não só isso não existe, como não é possível, nem sequer desejável. Fruto de tal abordagem, centenas de milhar de portugueses perderam o emprego, viram os seus rendimentos reduzidos em valores substanciais e, conforme todas as estimativas o demonstram houve desde março entre 7000-8000 mais mortos, fora os de COVID, em resultado da degradação da saúde geral da população, pelo medo, pelo pânico e pela histeria criada pela chegada desta doença desconhecida e muito hiperbolado por um poder político incapaz de atuar com o necessário sangue frio, como por exemplo a Suécia soube atuar.

Sabemos que 2/3 dos óbitos acontecem em pessoas com mais de 80 anos e mais de 90% entre os maiores de 50. Sabemos que 40% dos óbitos deram-se entre pessoas que viviam confinados em lares e infra-estruturas análogas e que já teremos cerca de 15% da população com contacto - e portanto com anti-corpos para este novo vírus, como tal pressupostamente "naturalmente" vacinados.

Mais mortos, menos empregos e economia, mais degradação geral de um nível de vida fraco, e que a cada ano se afasta dos seus congéneres europeus, sendo que em menos de uma década, Portugal, se nada for feito, será mesmo o País mais pobre da União Europeia, sendo ultrapassado até pela Bulgária e pela Roménia, é um dos resultados dos ensinamentos destas duas vagas da nova doença, aos quais acrescem um poder político sem capacidade nem rasgo para criar uma estratégia de médio prazo, capaz de inverter o ciclo.


É neste quadro que nos colocamos, perante a saída desta segunda fase, a qual poderá estar terminada no final do ano. Tal será coincidente com o começo do processo de vacinação, nos países da Europa - Portugal incluído. Talvez antes de uma terceira vaga - a qual poderá acontecer entre janeiro e março, talvez antes da habitual fase de surto gripal de inverno (fruto dos rinovírus), entre janeiro e fevereiro. A incerteza é ainda grande, mas todos os estudos e projeções apontam para dois factos: a vacinação geral começará no primeiro trimestre, em todos os países europeus e o movimento "normal" dos cidadãos começará após isso.

Neste enquadramento, independentemente do que os Governos façam, os cidadãos sabem sempre antecipar as tendências, haja ou não terceira fase, seja esta maior ou menor do que a primeira ou a segunda, perante uma vacinação a avançar e o aumento da perceção de que a taxa de mortalidade, segundo os últimos estudos, se situação (no final) na casa dos 0,3%, o que é apenas ligeiramente superior aos surtos gripais mais intensos, os quais rondam os 0,2%. Por exemplo, na Suécia, onde os surtos gripais são particularmente intensos e mortais, a mortalidade geral do País está este ano, cerca de 1-2% abaixo, mesmo considerando a nova doença COVID, ao contrário de Portugal, onde o aumento se cifra entre os 12-15% acima.

Nesta antecipação de tendências, é fácil percecionar que, tal como aconteceu nos meses do terceiro trimestre, especialmente em todo o interior do País - e essa vai ser uma tendência sustentada, haverá um aumento de fluxos turísticos, alimentados pelos nacionais e já de algum turismo estrangeiro, sendo expetável que tenhamos uma Páscoa já quase normal e um excelente verão, que aproximará os números globais do País, para o ano de 2015-16, mas com os números do interior ao nível de 2019 ou até superiores.

Na nova realidade do pós-pandemia COVID-19, o turismo será mais de interior, fora dos grandes fluxos de Lisboa, Algarve e Madeira e nunca, como na próxima década, tantos quererão viver na "província", em lugar de o fazer nas grandes áreas metropolitanas. O novo paradigma vai criar uma economia diferente, de menor concentração de pessoas e de maior qualidade de vida. As grandes cidades ficarão para uma cada vez maior mole de excluídos, vivendo de subsídios permanentes, os quais pagaremos de bom grado, para que não nos chateiem: a segurança é também um valor de cada vez maior relevância.

Por tudo isso, independentemente dos Governos, iremos viver melhor e com melhor qualidade de vida na próxima década, do que vivemos, na fúria consumista da última.