Um estudo
sobre a construção da identidade musical dos jovens portugueses, da
doutorada em psicologia da música, Graça Mota, é o livro revisitado que hoje
lhe propomos.
Desde 1986, altura em que a Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto iniciou o
programa de formação de professores de educação musical, que se constatou que
uma boa parte dos candidatos ao curso tinham não só iniciado a sua formação
musical nas Bandas Filarmónicas, como
mantinham com estas uma relação significativa de continuidade e de uma pertença
muito própria, quer em termos dos laços familiares quer dos afectos e das
afiliações culturais e sociais.
A investigação que deu origem a este livro teve
como objectivo geral a busca de compreensão acerca do papel que a participação
nas Bandas Filarmónicas representa na
construção da identidade musical de jovens portugueses. A análise dos dados
recolhidos junto de alunos e ex-alunos, permitiu construir social e
culturalmente o contexto das Bandas
Filarmónicas e compreender o papel que estas têm, na estruturação das suas
identidades musicais.
Numa edição das Edições Afrontamento, com
o ISBN 978-972-36-1000-0, a autora faz-nos um retrato do porquê e do que é ser
músico, numa Banda Filarmónica.
Sintomáticos alguns dos testemunhos abordados,
como este de Alice, estudante e professora, de que, ser músico numa Banda
Filarmónica, “é a base de tudo aquilo o
que eu sou hoje, do que quero ser. A banda foi onde eu cresci, posso dizer,
onde eu me fiz alguma coisa… É como uma mãe ter um filho”. Este percurso
pessoal, único e irrepetível, converge para uma construção do indivíduo mais
completa. Aliás, este tipo de partilha, de mundividência de estímulos, partilha
a música, com muito do que os desportistas e os seus estudiosos nos ensinam
também.
Mas porque se vai para uma Banda Filarmónica? Segundo o estudo, são as ligações familiares ou
de amizade que imperam na escolha, uma vez que de entre o universo estudado 63%
tinham tido algum familiar ligado às bandas. De notar, que o estudo incidiu
sobre estudantes para professores de educação musical. No entanto esta
frequência, denota algo que também em Tomar constatamos: o fato de muitos
músicos terem algum familiar agora ou no passado ligado à música e às Bandas. Sejam às atualmente existentes:
Paialvo, Nabantina, Gualdim-Pais ou Pedreira, ou às extintas das Fábricas de
Fiação, Matrena ou das Curvaceiras.
Ao longo dos últimos mais de 150 anos, no
desenvolvimento de uma pré-sociedade industrializada, que nunca se chegou a
implantar em Portugal, mas que em Tomar chegou a ocupar praticamente 50% da
população, nos anos 60/70 do Sec.XX, muitos músicos houve por aqui. Não foi
estranho a esse fenómeno, bem como à sua qualidade em diversos momentos, a
instalação em Tomar, junto do seu Regimento de Infantaria, de uma Banda Militar e da importância desta no
contexto regional, acompanhando assim a importância regional de Tomar, que
chegou a ser sede de uma Região Militar com o mesmo nome.
Ainda antes da expansão do ensino oficial da
música, a partir dos anos 90 com o ensino vocacional artístico, já em Tomar
cerca de 1000 crianças aprendiam música todos os anos, a diferentes níveis.
Fomos pioneiros e ajudámos a promover alguns dos
nossos líderes políticos no seu seio, demonstrando assim o carácter ecléctico e
completo da importância da música no geral, e das Bandas Filarmónicas no particular, no nosso devir nabantino. Só
para dar dois exemplos da mesma geração, hoje à roda dos 35 anos, o atual líder
do PSD local, João Tenreiro, foi durante anos músico da Nabantina e o ex-líder
do PS local, Hugo Cristóvão, também o foi na Gualdim-Pais. Pela qualidade de
ambos, se percebe da importância e já agora, da força do viver em comunidade
musical, em Tomar.
Um
estudo a não perder e uma aprendizagem a fazer. Sempre!