Autoridades espanholas estão a investigar quem poderá estar por detrás da plataforma Tsunami Democràtic, a que Pep Guardiola deu voz e rosto na segunda-feira à noite. Nasceu no início de setembro e defende a não-violência e os bloqueios como os que paralisaram o aeroporto de El Prat.
A resposta à sentença dos ex-líderes independentistas catalães foi liderada nas ruas por uma plataforma chamada Tsunami Democràtic, que nasceu no início de setembro nas redes sociais e teve o aval dos partidos e das associações ligadas ao movimento pela independência da Catalunha.
O bloqueio do aeroporto de El Prat foi a primeira grande ação do grupo cujo objetivo é gerar "uma crise generalizada no Estado espanhol". Ninguém sabe quem são os seus líderes, que pediram ao treinador do Manchester City, Pep Guardiola, para ler o primeiro grande comunicado desta plataforma.
As autoridades espanholas já estão a investigar. "Acabaremos por saber quem está por detrás deste movimento", disse o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, diante das câmaras da TVE. Noutra televisão, laSexta, o ministro quis deixar claro que "não se perseguem ideias", mas investigam-se "factos com aparência criminosa importante".
Como funciona?
A Tsunami Democràtic, que se apresenta como a resposta cidadã à sentença do Supremo Tribunal, mostrou a sua capacidade de mobilização ao convocar os protestos que bloquearam o aeroporto de Barcelona. Uma das manobras foi a distribuição de falsos bilhetes de avião para permitir aos manifestantes ultrapassar a primeira barreira de segurança, quando as autoridades só estavam a deixar entrar nos terminais quem mostrasse um cartão de embarque.
A plataforma atua dentro da mesma lógica clandestina que permitiu a organização do referendo independentista de 1 de outubro de 2017, com o transporte das urnas de voto para as assembleias sem que as autoridades o conseguissem travar. Cada membro do grupo tem uma tarefa e procura outro indivíduo para comunicar a etapa seguinte. A comunicação é feita entre intermediários, que podem até nem se conhecer, não entre um líder e os seguidores.
No seu site, que foi registado a 23 de julho numa ilha das Caraíbas, reiteram que são por uma ação não violenta e estão dispostos a suportar o sofrimento em vez de o infligir. "Não lutaremos violentamente se eles nos atacarem", refere, e incluem um guia básico de conselhos legais sobre o que podem as autoridades policiais fazer e que direitos têm aqueles que possam ser detidos ou retidos pela polícia. Incluem links para o perfil de Twitter (onde têm quase 165 mil seguidores), de Instagram (91 mil seguidores) e o canal de Telegram do grupo (ontem já tinha quase 249 mil membros).
Nesta terça-feira apresentaram uma app para coordenar as ações. "Já tínhamos dito: a resposta és tu. Ontem ficou muito claro que a força são as pessoas. Isto só começou. Agora devemos preparar-nos para o imparável tsunami democrático", indicaram, com o link para a aplicação. Dizem que é segura, anónima e privada. Mas só funciona depois de ser validada por um código QR, que cada utilizador tem de procurar dentro do seu grupo de confiança. Depois, dirá qual a disponibilidade e os recursos que têm, recebendo a partir daí as convocatórias para novas ações.
Os protestos contra a sentença dos líderes independentistas, condenados a penas entre os 9 e os 13 anos de prisão, continuaram nesta terça-feira, com cortes de estradas na Catalunha e mais cargas policiais.
O que querem?
"A luta não violenta não acabará até que se termine a repressão e se respeite o direito à autodeterminação como se fez no Quebeque ou na Escócia", disse o treinador do Manchester City, Pep Guardiola, que leu na segunda-feira à noite um comunicado da plataforma e se tornou o rosto do movimento que não tem um líder conhecido. Guardiola falou em inglês, com legendas em castelhano e catalão.