Há uma pseudo-esquerda parasitária atual do sistema político, que se acha superior aos demais. Aplicam os velhos cânones Estalinistas, deturpando a história, distorcendo o tempo e transformando, qual alquimistas, o chumbo em ouro, agora que sabemos há décadas que não há nem amanhãs que cantam, nem o "partido tem telhados de vidro". Tudo é aliás "fake": as "news" e os telhados que afinal são opacos, tão opacos, quanto as visões das liberdades que historicamente espezinharam.
Vem isto a propósito da nova teoria de que quem não está connosco está contra nós - onde é que eu já ouvi isto?, pois parece que as greves boas, são aquelas que são convocadas pelo Comité Central de um qualquer desses agrupamentos Estalinistas da vontade moderna, mas os outros trabalhadores, ditos não alinhados, não têm esse direito.
Para quem não sabe, nos Países industrializados do séc-XIX, a maioria dos operários fabris, trabalhavam entre 12 e 14 horas diárias, todos os dias à excepção do domingo, que afinal parece que Deus servia mesmo para alguma coisa, nesses tempos. As mulheres e as crianças ganhavam cerca de metade dos homens e não havia quase direitos nenhuns.
Claro que a doença, a fome e a miséria eram comuns a toda esta massa trabalhadora que alimentava a economia capitalista industrial e os direitos, conquistados a pulso e a morte, só o foram porque de quando em vez a produção era parada. Nesses dias, de greve, tal como hoje, o "contrato" de trabalho era suspenso - é essa a norma jurídica que permite ao empregador não pagar salário na greve. Só que hoje, mercê do Estado Social, ninguém fica a morrer de fome, mas nesse tempo sim. Razão pela qual os fundos de greve, a exemplo do que era feito para os que ficavam "aleijados" ou demasiado doentes para trabalhar, foram a forma como os trabalhadores se entre-ajudavam. Nos dias de paragem, outros trabalhadores de outras fábricas ou da mesma, que não paravam, quotizavam-se para prover de alimento às famílias que ficavam sem salário.
Foi assim que o nosso Estado Social moderno se formou, sendo isto que está na origem de diversas formas de apoio aos trabalhadores na greve, seja financiando os seus organizadores e dirigentes - em atividades permanentes, seja em pequenos apoios para as atividades sindicais.
Se acaso quem lê não sabia, veja que a semelhança do atual sistema de financiamento da greve dos enfermeiros, através de donativos de outros trabalhadores é, de certa forma, o retorno à forma original de conquistar direitos.
Como pode alguém que se diga "de esquerda" negar a alguém o direito de lutar por direitos legítimos e de, recuperando fórmulas históricas que funcionaram no passado, através delas conseguir o que pretende?
Vivemos de facto tempos em que parece que aqueles que se dizem "de esquerda", são mesmo os maiores inimigos dos que dizem defender, apenas para mais eficazmente os poderem "escravizar" nas "ditaduras dos proletariados" modernos.
De quando em vez, convinha sabermos um pouco mais de história e menos de futebol...
https://www.dn.pt/vida-e-futuro/interior/como-os-enfermeiros-financiam-as-greves-com-mais-de-700-mil-euros-10313625.html
A consultar:
História do sindicalismo (Trabalho da Universidade de Lisboa)