O Estudo de inserção de percurso ciclável – Estudo de Tráfego, produzido em Abril 2017, pela empresa TransiTec, dispõe na sua introdução que
"No âmbito do desenvolvimento e melhoria das condições de deslocação da mobilidade ativa, numa visão de mobilidade sustentável para a população de Tomar, principalmente através do uso da bicicleta, foi solicitado pela Câmara Municipal de Tomar um estudo de inserção de um percurso ciclável fundamentado, acompanhado de uma análise dos impactos na rede de transportes no troço em estudo.
Os objetivos gerais definidos pela Câmara Municipal de Tomar prendem-se necessariamente com os seguintes aspetos:
Melhoria das condições de segurança do utilizador da bicicleta;
Redistribuir o espaço público urbano entre os diferentes utentes, automobilistas, ciclistas e peões, criando um sistema viário eficiente, equitativo e respeitador do meio ambiente.
O perímetro de estudo, representado na figura seguinte, situa-se entre a Praceta Dr. Raúl António Lopes e a Av. Dr. Aurélio Ribeiro, até ao acesso ao IPT - Instituto Politécnico de Tomar
A fim de dar resposta aos objetivos definidos pelo Município de Tomar foi necessário aferir os seguintes aspetos:
Definir a hierarquia viária funcional da envolvente ao perímetro de estudo;
Apurar volumes de tráfego no troço a intervir, nos períodos de ponta da manhã e da tarde para, assim, estimar o tráfego médio diário;
Identificar os principais problemas detetados no troço em estudo;
Definir a tipologia de percurso ciclável, em função das variáveis volume de tráfego/velocidades admitidas, tais como via banalizada, faixa ciclável e pista ciclável;
Redefinir os perfis viários, por forma a criar condições que suscitem a redução de velocidades dos automobilistas;
Verificar a possibilidade de reperfilamento da Av. Dr. Aurélio Ribeiro de duas (2) vias por sentido para uma (1) via por sentido;
Propor a geometria adequada para o início/fim das faixas/pistas cicláveis, assim como, nos diversos atravessamentos de interseções;
Identificar a estratégia de alternativa aos lugares de estacionamento suprimidos no âmbito da requalificação do troço em estudo.
O sistema viário da cidade de Tomar encontra-se bem definido hierarquicamente, sendo possível perceber a tipologia de via e a respetiva função. No entanto, o mesmo apresenta alguma descontinuidade no que diz respeito ao número de faixas de rodagem, em particular na Av. Dr. Aurélio Ribeiro, parte integrante do perímetro de estudo."
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NESTE ASPECTO, CONVÉM RESSALTAR UMA DAS CONCLUSÕES DO ESTUDO
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"4.2. - Perfis tipo e velocidades de circulação recomendados
No que diz respeito ao troço em estudo e à tipologia de percurso ciclável, recomendam-se os perfis tipo com as seguintes características:
Praceta Dr. Aurélio Ribeiro e Rua Coronel Garcês Teixeira
velocidade máxima de circulação de 30 km/h;
faixa ciclável unidirecional com 1,5 metros de largura;
via de circulação automóvel com 3 metros de largura, por
sentido;
faixa de segurança de 0,8 metros entre a faixa ciclável e o
estacionamento (quando existente).
Av. Dr. Aurélio Ribeiro
velocidade máxima de circulação de 50 km/h, com recomendação a 30 km/h a partir da rotunda do IPT;
pista ciclável bidirecional com 2,5 metros de largura;
via de circulação automóvel com 3,5 metros de largura, por sentido;
separação da pista ciclável e da via de circulação automóvel com uma faixa pintada no pavimento e introdução de pilaretes (tendo em consideração a redução de custos de implementação).
No entanto, salienta-se que o Município de Tomar-TomarHabita decidiu optar pela adoção do conceito de pista ciclável para todo o eixo em estudo, isto é:
Pista ciclável bidirecional, com 2,5 metros de largura, no lado sul da rua Coronel Garcês Teixeira;
Pista ciclável unidirecional, com 1,5 metros de largura, na Av. Dr. Aurélio Ribeiro.
A pista ciclável é interrompida entre a interseção com a rua Gregório Lopes e a rua Carlos Maria Pereira devido ao espaço insuficiente para acolher uma espaço dedicado para os veículos motorizados, as bicicletas e os peões.
Esta opção foi igualmente validada pelo Município de Tomar-TomarHabita."
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COMENTÁRIO
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A. A importância dos estudos, todos e quaisquer que sejam, está nos pressupostos de quem encomenda - neste caso o Município de Tomar e não, como erradamente é uso escrever-se, a Câmara Municipal, essa que apenas é o órgão executivo, quinzenalmente reunido e composto pelo Presidente e Vereadores.
Assim, não podia estar mais de acordo com os 2 pressupostos identificados neste estudo, ou seja
Melhoria das condições de segurança do utilizador da bicicleta;
Redistribuir o espaço público urbano entre os diferentes utentes, automobilistas, ciclistas e peões, criando um sistema viário eficiente, equitativo e respeitador do meio ambiente.
Acresce, no entanto, a ausência de outros dois pressupostos essenciais para que este estudo pudesse ter plena e objetiva consequência na globalidade da vida urbana de Tomar, que é:
Garantir a interligação entre os diferentes modos de utilização urbana, numa lógica global e estruturada, na e entre a cidade, os seus principais pólos de estacionamento, transportes e origem/destino da mobilidade;
Melhoria da qualidade de vida dos residentes e viventes da cidade (numa extensão aos outros residentes do concelho e turistas).
B. Neste contexto convém olhar para a primeira dúvida levantada no estudo e respondida no capítulo 4.2 - aqui ressaltado, pela opção técnica tomada pelo Município, relativamente à passagem de duas faixas de rodagem na Avenida Aurélio Ribeiro, entre as proximidades do Instituto Politécnico de Tomar e a Rotunda do MacDonalds, para apenas uma.
Esta opção, validada seguramente pelo poder político atual, conhecida que é a sua incapacidade para olhar um pouco para além do capô do carro, ou mesmo de discutir as opções técnicas, sem cuidar de pensar estrategicamente, tem nos seus maiores aspetos negativos os seguintes:
1. Destrói um acesso rápido e eficaz à zona central da "cidade nova", sem cuidar de avaliar / analisar / propor, parques dissuasores / estacionamento, como aliás já havia sido refletivo, no contetxo da preparação dos Planos de Contingência das Festas dos Tabuleiros de 2011 e 2015, pela Proteção Civil Municipal, experiência que poderia ser reavalida.
Uma cidade deve, na minha humilde opinião, ter circulação preferencial para pessoas e modos suaves, no seu interior, mas não pode deixar de ter "corredores" de acesso rápido a posições centrais, que possam funcionar como "nós" de distribuição. Deve-se melhorar, sem complicar demasiado a vida. Esta opção estando à disposição dos planeadores políticos, exigiria destes uma capacidade, que cinco anos de gestão já demonstraram não existir.
Aliás, atente-se a esta contagem de tráfego, realizada neste mesmo estudo:
2. Ao não se optar por construir uma pista ciclável autónoma das faixas de rodagem existentes, optando pelas necessárias expropriações, especialmente na envolvente à Rotunda do MacDonalds, que se constituiu como um verdadeiro funil de tráfego - de veículos, pedonal e ciclável e, bem assim, tirar partido de todo este eixo urbano de penetração "larga" na cidade, os decisores políticos optam pelo mais barato, mais pequeno e menos eficaz a médio/longo prazo. Gente de vistas curtas que não aprende que se deve mudar, apenas, o que não está bem, evitando estragar o que funciona...
É aliás impressionante, como as opções técnicas de dificultação da acessibilidade às cidades, que determinada escola técnica vem amiúde propondo para os nossos núcleos urbanos, correspondem a uma opção ideológica - não sufragada pelo povo, da cidade virada sobre ela própria, criando obstáculos permanentes, intervindo em partes, com consequências globais, só visíveis vários anos depois. Tarde demais.
Estão neste enquadramento a proposta de redução da largura das faixas de rodagem na Avenida Nuno Alvares Pereira (na entrada sul da cidade), com a construção - pasme-se, de duas pistas cicláveis, uma de cada lado.
Mas não se pensa sequer em colocar uma pista ciclável junto ao rio, dando continuidade à já existente e construída no contexto Polis, ou interligando esta com as aqui propostas até à Alameda 1 de Março, com uma natural extensão entre a projetada por este estudo e a zona escolar - Santa Maria do Olival, Jácome Ratton, Santa Iria/Centro de Formação, criando um corredor viável de ligação ao rio, num atravessamento - preferencialmente em madeira, a construir na zona de S.Lourenço / Padrão.
Olhar global, agir local. Pensar global, projetar local.
Olhar e ver, é o que se exige aos políticos, pois estas opções - visivelmente erradas de hoje, poderão ter enormes consequências no futuro.
Esta é, sempre foi, a minha forma de olhar para a cidade, como sede e motor de desenvolvimento do Concelho.
Tomar aguenta há mais de oito séculos as intervenções do seus Mestres construtores, mas sobreviverá bem a estes últimos Aprendizes?
Tomar merece isto?
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Complemento: situação do estacionamento
Nota: Imagens constantes do Do Estudo de inserção de percurso ciclável – Estudo de Tráfego / Abril 2017 (TransiTec 24/4/2017)