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19.8.18

Bimbalhão - aquele que não sabe, nem sonha...

*Artigo de opinião, por Luis Ferreira - ex-vereador da Cultura do Município de Tomar

O Bimbalhão, não tem género, nem idade.

Espraia-se por aí, ao sabor da oportunidade. 
Tanto pode ser um operário, armado em chico-esperto, que na oportunidade da caixa de ferramentas sempre aberta, furta aquele equipamento útil, como o caixa do Banco que, de tanto fazer transferências autorizadas com a password do sub-gerente, lá decide tentar a sua sorte. 
Tanto pode ser o condutor que estaciona em segunda fila, numa qualquer rua das nossas cidades ou o esmerado  e diligente empresário das Florestas que arrenda ao Zé da cidade os pinhais do avô, para aí plantar Eucaliptos, privatizando os lucros e nacionalizando os prejuízos, depois de arderem...

O que o Bimbalhão, o chico-esperto de serviço, nunca conta é com a esperteza dos outros e só vendo a sua oportunidade, se esquece que nela reside também o seu erro...

O Bimbalhão é culto ou, pelo menos, fala com eles
Julga ele que o facto de existir é já uma dádiva para os demais. Mas, de quando em vez, lá lhe foge a voz para a verdade, quando considera por exemplo que ou a cultura dá dinheiro (e/ou votos!) ou esta não serve para nada.

O Bimbalhão, personagem fictícia, mas bem identificável por cada um de nós, pode até ter pelo voto, a legitimidade do poder de decisão e, usando-o, estar convencido que o faz pelo melhor do seu interesse.

Não é o caso em Tomar, onde já pela segunda vez este ano, o Bimbalhão decide colocar um mamarracho digno da Feira do Gado de Beja ou do Festival do Tremoço de Curral de Moinas, em plena Praça da República de Tomar, destruindo a leitura do lugar.

A Praça da República de Tomar, onde são identificáveis entre outras, quatro leituras espaciais distintas de época, importância arquitetónica e histórica, tem o seu eixo principal entre a fachada manuelina da Igreja de S.João Baptista e as imponentes arcadas de suporte ao Palácio de D.Manuel, propositadamente mandado por este construir para aí albergar a administração municipal da vila de Tomar, ambos do início do século XVI.

A Praça da República, vista centrada no seu centro, numa espetacular foto de Orlando Oliveira
Ora, sendo a Praça um óbvio centro desta cidade e do seu núcleo histórico, assim projetada, concebida e sempre ao longo da história respeitada como tal, mal se percebe que o Bimbalhão não faça o esforço de entender, que só pode ser respeitado pela História, quem perante ela reconhece a sua pequenez e atuando em consonância com essa humildade, tudo faz para a preservar e respeitar, sem a deixar de viver.


O Bimbalhão, não tem género, nem idade. 
Não é só autarca, governante ou dirigente. Ele é cada um de nós, quando olha e não vê. Quando apenas procura a satisfação imediata da sua necessidade, sem cuidar de prover ao interesse geral e, especialmente quando de forma displicente, vai pelo mais fácil, o que  nem sempre equivale a ser até o mais barato.


O Bimbalhão é, em Tomar, o nosso maior problema. Ele destrói mais do que constrói: a nossa identidade, a nossa espetativa, o nosso futuro, mas destrói especialmente porque não é capaz de respeitar o nosso passado.
Efeito visual do "palco de Feira", sobre a leitura do Palácio D.Manuel


Que excelentes iniciativas culturais como os Caminhos do Ferro, integrado na programação cultural em rede, em boa hora desenvolvido pela Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, por responsabilidade do Município de Tomar, trouxeram pela primeira vez o mamarracho deste palco em Abril-Maio. 
Tal aluguer continuou por ocasião do último Fanfarrão, neste mês de agosto. 
Esperemos que os próximos eventos que necessitem de palco na Praça da Republica, não continuem a servir de praia para o Bimbalhão fazer das suas. 

Tomar não é a Reboleira e para pinderiquices, já basta aquela vergonha (in)estética junto ao rio. Pode ser-se moderno, pode mesmo ser-se pós-urbano, mas deve-se saber cuidar de ter a sensibilidade devida para, aproveitando o espírito do lugar, saber valorizá-lo e não, como nestes exemplos, afrontar a sua leitura e, em prejuízo geral, cuidar apenas do facilitismo. 

Fazer bem exige trabalho, exige atenção, exige empenho e, no final, é para isso que pagamos à Presidente, à Vereação e aos dirigentes municipais dos setores em apreço. Se o seu sonho é gerirem Curral de Moinas, então que vão para lá...



Tomar não merece, decididamente, isto.

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