É sabido que não sou um fã da visão ideológica de José Sócrates, tendo apoiado no célebre Congresso de 2004 o camarada Manuel Alegre. No entanto a governação entre 2005 e 2011, apontou um caminho e seguiu uma linha de resolução de atrasos de décadas da sociedade portuguesa.
Através do PS, Portugal passou a ter um desígnio, da recuperação do atraso educacional, tecnológico, virado de novo para a exportação, na aposta da industria turística e tecnológica, por exemplo e visando tirar partido dos hubs dos portos e aeroportos de entrada na Europa. E tudo isto na promoção da igualdade de oportunidades e na redução das assimetrias entre pobres e ricos, com ênfase na subida do rendimento dos pobres e não no empobrecimento da classe média.
O caminho apontado pela gestão do PS visava transformar Portugal num país em linha com o seu tempo e não em linha com a China da exploração industrial ou do Paquistão do trabalho infantil, como parece ser o caminho preconizado pelos atuais governantes de Portugal.
Um comentador habitual da blogosfera tomarenses, que não conheço pessoalmente, mas que acompanho com cada vez maior interesse, faz uma análise que deve ser lida e, por isso mesmo a partilho:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
José Sócrates foi um político que deu um passo para diante, no caminho da História de Portugal. Chamado pela terceira vez consecutiva a julgamento popular, manteve-se à frente até cerca de 20/15 dias antes do dia das eleições (5/junho 2011). Todas as sondagens apontavam nesse sentido. A bem dizer lutou sozinho durante anos contra todos os partidos da oposição, parte do PS autárquico, contra toda a imprensa escrita e audio-visual, contra grupos de comunicadores organizados nos meios de comunicação (de que faziam parte os sicranos referenciados no post), contra bandos organizados na blogosfera, arreatados pelos interesses atingidos, contra uma camarilha bem organizada na instituição justiça. Há jornais no nosso País que são retretes imundas, sarjetas por onde foram conduzidas todas as injúrias pessoais e todas as violências das palavras.
José Sócrates percebeu que o primeiro ciclo do pós Abril estava esgotado e Portugal mantinha o seu tecido económico (e não só) atrofiado - precisava urgentemente de empreender a criação de um novo Ciclo Histórico, que nunca foi assumido por ninguém na nossa história. Pôs mãos à obra com coragem e determinação, apostou forte no Comércio Externo (Exportação), na Educação e na Ciência, na Inovação, Novas Energias e Novas Tecnologias, e as nossas universidades começaram a parir às centenas de spin-offs e start-ups - antes corrigira o défice deixado pelos governos de Barroso e Santana Lopes. Para levar por diante esta ambição tinha de vencer muitos lobbies e o espírito carunchoso e bolorento que dominava e ainda domina as nossas elites da merda. A sua acção governativa chamou a atenção de toda a Europa e do mundo. As suas movimentações políticas internacionais revelavam um Primeiro Ministro brilhante, descomplexado, sem teias de aranha na cornadura, denotando uma capacidade de perceção da realidade portuguesa e de políticas para a enfrentar, que surpreendeu todos. A mim também.
Em todas as suas políticas revelou ser, na prática, um homem de esquerda, pensando nos interesses das grandes massas populares, um patriota, um apaixonado na luta contra o endémico espírito contra-reformista herdado do passado. O cavaquismo e os bandos de corruptos à sua volta sentiram-se alvo desta obra extraordinária a que tinha lançado mãos. PCP e BE nem queriam acreditar: o PS tinha mesmo um líder que ameaçava a sua existência. Os interesses corporativos renderam-se à liderança do mais vil oportunismo político alguma vez visto em Portugal: para o combaterem e eliminarem venderam deliberadamente a pátria e os portugueses ao estrangeiro, estenderam-lhe a passadeira da vergonha e do vexame para que nos governassem, para que elaborassem programas de governação.
Num golpe de asa magistral, só ao alcance de um político à séria, amarrou os nossos parceiros europeus a um plano, o PEC IV, que, a ter sido aceite, nos colocaria numa situação deveras privilegiada no contexto da crise europeia e internacional, que nos subtrairia à tragédia em que já estamos mergulhados, e que se vai agravar vertiginosamente. Entregaram-nos a um bando de aventureiros canalhas e traidores.
O que derrotou Sócrates foi o povo ter acreditado na mensagem dos partidos da oposição: "Com Sócrates nãos nos aliamos!". O povo, muito bem, optou, na parte final, por uma alternativa de estabilidade, acreditando nas promessas de Passos, Relvas e Portas. Todos estão lembrados do que prometeram fazer e não fazer...
O povo foi enganado! Isso é crime contra a pátria!
E é o debate sobre esse crime que nunca sairá de dentro do PS e da política portuguesa sem esclarecimento, enquanto os traidores não forem desmascardos e acusados publicamente. Este nó tem de ser desatado, e não há taticismo nem falso unanimismo que o impeça.
Não se trai o povo e a pátria impunemente.
Ah! É verdade, parece que entretanto houve uma crise qualquer... - acabei por me esquecer.