O Prof. António Rebelo, além de estar errado, no tempo, no modo, na forma, oblitera a verdade que uma cada vez maior "maioria" de economistas e de políticos, mesmo em Portugal e na área da social democracia (ferreira leite) ou da democracia cristã (bagão félix), perfilam: assim não vamos lá. Sem crescimento económico, nenhuma divida se paga...
Mas leiamos e discutamos, o que "pensa" o em tempos terrível, FMI:
A "desalavancagem" é necessária, mas deve ser implementada com uma "velocidade" e de um modo que "minimize o impacto negativo no crescimento económico", referiu David Lipton, primeiro diretor-adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI) numa conferência em Londres. A desalavancagem abrange tanto as famílias, os bancos e o sector público, disse. A desalavancagem sucede aos períodos de "bolha" financeira e de sobreendividamento de todos os agregados económicos. E está a ser simultânea em muitos sectores económicos e países desenvolvidos. A simultaneidade agrava a gestão da crise, tem alertado o FMI. Ainda por cima num contexto em que "desta vez é diferente" de crises anteriores ocorridas depois da 2ª Guerra Mundial. Desta vez, disse Lipton, "esta crise está a provar ser muito difícil de terminar".
Lipton recordou o economista inglês John Maynard Keynes acerca dos paradoxos que a desalavancagem implica e implicitamente retomou os conselhos de Keynes na conferência de Bretton Woods sobre a resolução dos desequilíbrios entre países deficitários e excedentários.
Lipton trabalhou nas Administrações norte-americanas de Clinton e Obama e era diretor do Citi antes de Christine Lagarde, a diretora-geral do FMI, o ter catapultado para seu primeiro braço direito entre quatro diretores adjuntos.
Para o FMI estes problemas sistémicos são uma dor de cabeça, a principal que afeta as perspetivas da economia mundial.
Seis linhas com que o FMI se cose
Por isso, Lipton sistematizou em Londres um conjunto de orientações que guiam o pensamento do Fundo, que, em alguns casos, podem ser consideradas ambíguas, permitindo alguma elasticidade na sua aplicação no terreno:
# A consolidação orçamental deve ser "gradual e sustentável, orientada por objetivos estruturais". No caso de "choques negativos amplos ou de desapontamentos no crescimento", o ritmo da consolidação orçamental deve ser "suavizado". Mas o FMI junta, sempre, a expressão "nos países que puderem" e "onde as condições de financiamento o permitirem". O que deixa à análise concreta da situação concreta uma enorme margem de manobra que tanto serve os mais integristas da austeridade como os seus críticos.
# O ajustamento orçamental deve ser "de qualidade" e "amigo do crescimento". Mas logo junta: "tanto quanto possível". No entanto, adverte que o ajustamento nos países periféricos europeus levará "ainda muitos anos a completar", é um processo com um longo caminho pela frente.
# A "velocidade" e a "sequência" das reformas no sistema financeiro contam para o crescimento. Por isso é indispensável um "equilíbrio". O que implica que os bancos centrais continuem a fornecer liquidez e que, no caso da zona euro, o Mecanismo Europeu de Estabilidade proceda a injeções diretas nos bancos em recapitalização, retirando a dívida soberana do circuito.
# É essencial que os países periféricos europeus tenham acesso a "financiamento a custos razoáveis".
# A União Bancária na zona euro é indispensável para completar a união monetária. Mas terá de implicar um enquadramento de supervisão e regulação único, um mecanismo pan-europeu de resolução, e um esquema de garantia bancária pan-europeu. A integração orçamental da zona euro é necessária como proteção da união bancária, para evitar políticas imprudentes por parte dos estados membros individualmente e evitar que "choques idiossincráticos" (em circunstâncias especiais em casos específicos) se tornem sistémicos.
# O crescimento global exige, também, um forte crescimento da procura por parte das economias que têm excedentes externos. Não basta o esforço unilateral de desalavancagem nos países deficitários, esforço que empurra essas economias para recessões e mesmo depressões prolongadas e ruturas sociais. Este processo é ganhador para ambas as partes, diz Lipton. Serve os "interesses individuais dos países envolvidos (economias deficitárias e excedentárias) enquanto efetivamente diminui os desequilíbrios globais e as vulnerabilidades inerentes", conclui.
Foi em 1944 que Keynes, então chefe da delegação britânica, propôs na conferência de Bretton Woods o que viria a ser batizado como a "solução Keynes", em que os países excedentários investiriam os seus recursos extra no crescimento dos países deficitários. Na ocasião, os norte-americanos vetaram a ideia, mas, mais tarde, em 1947, com o Plano Marshall acabariam por o fazer recanalizando parte dos seus excedentes. O que permitiu à Europa levantar a cabeça. A situação chegara a um ponto de rutura em 1947, com um pico de 4,7 mil milhões de dólares de défice da balança comercial de toda a Europa Ocidental em relação aos Estados Unidos.
Depois de ziguezagues nas negociações, o governo português acabou por beneficiar diretamente do Plano Marshall em 54 milhões de dólares entre 1949 e 1951, em que se destacou a capacidade do lóbi do trigo que arrecadou do Plano para Portugal a maior fatia, de 36%, do bolo.
O ponto de vista do economista inglês foi expresso, pela primeira vez, em 1919 na sua obra "As Consequências Económicas da Paz". Keynes participara na Conferência de Versalhes como delegado do Tesouro britânico e pronunciou-se contra as resoluções altamente penalizadoras da Alemanha em termos de reparações de guerra, avisando que poderiam provocar uma recessão e o regresso aos conflitos na Europa.