As relações entre as espécies – vegetais ou animais, adoptam diversos tipos de interação, desde logo subdivididas entre três níveis básicos: o neutralismo, onde nenhuma das populações de espécies em interação é afetada pela outra; as interações negativas, onde genericamente a população de uma espécie é inibida, prejudicada ou mesmo finalmente dizimada, pela presença de outra espécie – aqui podendo coexistir diversos sub-tipos de intereção, do amensalismo à competição, passando pelos clássicos parasitismo e predação; e
Líquen Evernia prunastri. Foto: Randimal / Shutterstock.com (2) |
as interações positivas, onde a associação entre duas populações se dá ou em que uma é beneficiada, sem prejudicar a outra – comensalismo, ou ambas beneficiam – simbiose. (1)
Neste artigo decidi abordar este último tipo de associação entre espécies – a simbiose, pela sua importância no mundo da ecologia, uma vez que havendo milhares de associações deste tipo, todas elas se caraterizam por existirem em habitats – considerado como um tipo de local, onde as espécies estão biologicamente adaptadas, considerada ainda nas suas componentes bióticas – a sua associação às demais espécies, em profundo equilíbrio.
As associações simbióticas, que podem ainda englobar dois tipos diferentes de efeitos, um dos quais referido pelo benefício simultâneo de ambas as populações, mas na qual nenhuma delas sobrevive isoladamente em condições naturais, ou seja é uma associação obrigatória, é designada de mutualismo; e o outro efeito no qual ambas as populações beneficiam da associação, mas sem que esta seja obrigatória, designada de protocooperação. (1)
O mutualismo é, portanto, um caso extremo de evolução, em que duas espécies não vivem isoladamente e, no seu habitat, apenas sobrevivem em simbiose obrigatória, sendo assim normalmente muito sensíveis a alterações no seu habitat, sendo que atualmente, eles são muito importantes para a reciclagem de nutrientes nos ecossistemas, servindo também como bioindicadores da qualidade do ar uma vez que a maior parte das espécies em simbiose mutualista (obrigatória) morre quando há alta carga de poluentes na atmosfera – sendo esse o caso específico dos Liquens. (2)
Mas o que são os líquens?
Basicamente Líquens, são associações entre dois organismos – um fungo, que fornece proteção, dando suporte e nutrientes (águas e sais minerais) a uma alga ou uma cianobactéria, que é um produtor fotossintético de alimento, que o fornece ao respetivo fungo associado, que sendo um organismo heterotrófico, não o pode produzir. (1)
Há essencialmente três tipos de associações simbióticas mutualistas de Líquens, com base na morfologia do talo: (3)(4)
– os Líquens do tipo crustáceo. É uma espécie que precisa de bastante luz e que pode observar durante todo o ano, e aquele que costuma dar cor às telhas e aos muros;
– os Líquens do tipo foleáceo, os quais se assemelham a folhas, muito comum nos troncos das árvores;
– e os Líquens do tipo fruticuloso, que fazem lembrar minúsculos arbustos, mais exuberantes.
Este tipo de associação simbiótica mutualista, debruça-se assim sobre um Líquen do tipo fruticuloso – o Evernia prunastri , que é muito comum no nosso País - com especial destaque na nossa região.
Nesta relação, o fungo presente fornece, usando a definição de ODUM (1913) (1) o respetivo nicho habitat, para as algas e cianobactérias presentes na associação, ou seja a sua localização física, uma vez que é no talo e nas rizinas, embora raras, que este desenvolve que as algas e cianobactérias se localizam; fornece e dá o nicho trófico, alimentando de sais minerais e água as algas e cianobactérias que, através da fotossíntese, por sua vez alimentam o fungo; e são simultâneamente nicho multidimensional um do outro, especialmente pelo pH e humidade que mantêm o nicho ecológico – do tipo generalista, uma vez que apresentam uma amplitude de nicho elevado – estando espalhado por diversos territórios, apesar de muito sensíveis a determinadas alterações do ambiente e por isso mesmo, como já referido, utilizados como bioindicadores.
O Líquen Evernia prunastri, tem o talo fruticuloso, erecto ou pendente, com até 10cm de comprimento. Lobos achatados dorso-ventralmente, estreitos (2 a 5mm de largura), normalmente dicotomicamente ramificados, com as axilas em forma de V. Face superior do talo de cor verde-amarelada ou verde-acinzentada, com sorálios – pequenos aglomerados de hifas e algas, com aspeto pulverulento, ou granuloso, com cor que varia entre o branco e o cinzento esverdeado - arredondados e abundantes, confluentes nas bordas dos lobos.
Tem a face inferior do talo de cor esbranquiçada, sem rizinas. Apotécios raros. Na análise química, apresenta K (potássio), C (carbono), KC (carbonatos de potássio) e P (Fósforo) predominantes. (3)(5)
No Líquen Evernia prunastri, como em todos eles, o nome advém do fungo presente, sendo que as algas e/ou as cianobactérias podem variar e estar presentes em diferentes associações com outros fungos. Recordemos que o fungo é, basiacamente, a “estrutura”, com funções mecânicas e de transporte – dos nutrientes para as algas e cianobactérias e dos alimentos produzidos por estas para alimento destes, daí tal situação.
Este Líquen coloniza diversos habitats e é muito comum em Portugal, sendo um excelente exemplo de “cooperação” biológica entre duas espécies – um fungo, heterotrófico, e algas e/ou cianobactérias, produtores fotosintéticos. Um sem o outro, nunca viveriam nos habitats em que se localizam e são um exemplo de longevidade na vida na terra, dando feliz expressão à simbiose como forma de “cooperação” obrigatória entre espécies.
Bibliografia:
(1) http://www.cienciaviva.pt/img/upload/Liquenes_OCJF_2015.pdf
(2) https://www.infoescola.com/biologia/liquens/
(3) http://www.mitra-nature.uevora.pt/Especies-ehabitats/Fungos/Liquenes/Fruticulosos/Evernia-prunastri
(4) https://www.wilder.pt/seja-um-naturalista/saiba-identificar-6-especies-de-musgos-e-liquenesdas-arvores-e-telhados/
(5) https://saidaslagunadeaveiro.files.wordpress.com/2014/05/marinhagrande_liquenes.pdf
O Pós-artigo: