18.6.20

Tomar foi o primeiro local das MISSÕES ESTÉTICAS DE FÉRIAS, em 1937

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As missões estéticas de Férias (MEF), foram um programa anual de estágios criados durante a década de 30 do século XX, para estudantes de Belas Artes, os quais desenvolveriam, durante os meses de verão, um projeto artístico numa determinada localidade ou região portuguesa de reconhecido interesse patrimonial e cultural.
Júlio Pomar - IX MEF de Évora (1945) - Museu do Chiado

Selecionados pelo seu mérito académico pelos órgãos da então recém-fundada Academia Nacional das Belas Artes, o seu propósito era promover a formação de uma elite cultural no seio de uma ambiciosa visão política, académica e estética com que o Estado Novo se quis afirmar na esfera cultural.


As MEF, enquanto modelo que implicava necessariamente que os artistas trabalhassem fora do seu local habitual - atelier ou academia - proporcionando um modelo de reflexão, pesquisa, produção e apresentação no seio de outra comunidade, revelam-se um caso de estudo pertinente na identificação e compreensão práticas análogas no nosso país nos dias de hoje - como sejam, por exemplo, as residências artísticas - numa época em que ainda se estava longe das teorizações sobre a ideia de "campo expandido" nas artes (KRAUSS, 1979) ou do artista enquanto etnógrafo (FOSTER, 1988).
Este aspeto de antecipação assume ainda mais unanimemente salientados em relação às MEF, sobretudo no que diz respeito à ideia de levar a arte para fora da academia, de aproximar os artistas da paisagem e da cultura popular, em suma de aproximar a arte da vida ou, se quisermos, de incorporar a prática artística numa conceção do atelier enquanto espaço praticado (CERTEAU, 1988).

(1) Texto, da Tese de Mestrado de Diogo Moraes Leitão Freitas da Costa, 2016, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, disponível aqui


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O Decreto-lei n.º 26.957 que institui as Missões Estéticas de Férias, organicamente integradas na atividade da 6.ª Secção da Junta Nacional da Educação e que se realizariam com a «activa colaboração da Academia Nacional de Belas Artes (ANBA)». A nova legislação foi redigida tendo como base o relatório e projeto de regulamento concebidos por José de Figueiredo e o vogal da ANBA Varela Aldemira e nela encontra-se bem patente uma narrativa que não só exaltava a «energia espiritual da Nação», como também remetia para a nova ordem política – o Estado Novo – a responsabilidade de assegurar «a defesa da Arte contra doentias concepções do que seja a originalidade e contra a desnacionalizadora infiltração de exóticas teorias que (…) sacrifica o realismo plástico, humano e português» (Diário do Governo n.º 202, 28 ago. 1936, 1039).

Destinadas «a facilitar aos artistas e estudantes portugueses de artes plásticas o conhecimento dos valores de carácter paisagístico, étnico, arqueológico e arquitectónico de Portugal, bem como a contribuírem para o seu cadastro, inventário e classificação» (idem), para além de contribuírem para a formação e ampliação da cultura artística dos participantes, as Missões Estéticas de Férias foram concebidas como um meio para, fazendo face ao orçamento limitado da ANBA, proceder-se ao arranque dos trabalhos para o inventário artístico do país – tarefa que, contudo, só viria a ser concretizada com resultados positivos alguns anos mais tarde, já sob a presidência de Reinaldo dos Santos naquela instituição.


A primeira MEF, realizou-se em Tomar, durante dois meses, sob a direção de Raul Lino, tendo como participantes José Contente, Manuel Lima, Frederico George, Calvet de Magalhães, Trindade Chagas, Herculano Silva Neves, Lauro Corado, Armando Martins, Luís Pereira Dias, Herculano de Sousa Monteiro, Franklim Ramos Pereira, Carlos Augusto Ramos, Joaquim Lopes, George Loukmoski.
Abertura solene da I Missão Estética de Férias. Tomar, agosto de1936.
O ministro da Educação Nacional,Carneiro Pacheco, discursando; ao seu lado, à direita do observador, José de Figueiredo.
(2) Texto, de Joana Baião, originalmente publicado in Colecções de arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX  (coord. Maria João Neto e Marize Malta). Lisboa: Caleidoscópio, 2016, pp. 55-67, disponível aqui


Sobre o maior estagiário presente - George Loukmoski , pode ser lido aqui notícia recente