11.12.19

A Loja TEMPLÁRIOS da Maçonaria Portuguesa - Tomar quer o Santo Ofício em pleno Século XXI?


Com base numa entrevista do Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa - a chamada obediência do Grande Oriente Lusitano, à revista Sábado, dando conta da abertura em Tomar - em Maçonaria diz-se "levantamento de colunas", de mais uma Loja Maçónica, muito uma parte da Cidade, dita, pensante, se tem agitado.

Tal movimentação na cidade que foi sede da Ordem de Cristo - por alturas do domínio do Santo Ofício, que queimava literalmente os Hereges (entre os quais muitos que não deixavam de pensar pela própria cabeça), não é nada de estranhar, uma vez que tendo esta sucedido à anterior ordem dos Templários, ela própria foi perseguida pela Igreja Católica (o poder de então), com absurdas acusações, as quais só no final do Sec.XX viriam a ser retiradas pelo Papado.

Numa cidade, onde uma parte parece ter parado num tempo de perseguições e verdades absolutas, onde uma parte dos seus históricos dirigentes - uma pequena e pouco letrada, elite, se julga detentor do direito de impor uma vontade, não é de estranhar que tal dê a necessária e conveniente polémica, especialmente quando às notícias se juntam alguns nomes ligados atual ou anteriormente à politica local (como é o meu caso).


A Maçonaria não trata de nada que não esteja ligado à ética, à filosofia e vocacionada para o engrandecimento individual de cada um dos seus membros, seguindo históricos e ancestrais preceitos, os quais especulativamente os ligam aos Templários e a outras ordens, de tipo iniciático, mas que na sua vertente meramente especulativa, apenas tem existência a partir do início do século das luzes, o século XVIII, na Inglaterra.

Mas, clarifiquemos:

A Maçonaria não é, como os seus habituais e dogmáticos detratores muitas das vezes propalam, contra qualquer religião, nem a favor de qualquer ideologia, respeitando todas e, bem assim, uma boa parte das suas obediências promove mesmo, especialmente nos níveis mais elevados da hierarquia organizativa que têm - em Maçonaria chamam-se Graus, promove, escrevia, o mais profundo respeito pela divergência especulativa, como forma de engrandecimento intelectual e o livre arbítrio, como plataforma base, para a melhoria do indivíduo.

O respeito e a tolerância perante o pensamento individual e o outro indivíduo são, segundo o que pude estudar e apurar, a base dos seus trabalhos e dos textos que, produzidos pelos seus membros, são discutidos em Loja, uma vezes chamados de Pranchas, outras de Baluartes, consoante o Grau em que são trabalhados. Por aqui se vê a profunda antítese existente entre o trabalho em Maçonaria e, por exemplo, os trabalhos realizados no seio de Igrejas ou Seitas, de qualquer cariz, onde existe sempre um ou vários textos base, aceites e determinados, bem como um ou vários líderes que os seus membros segam, interpretem ou idolatrem.

O modo de atuação da Maçonaria, aproxima-se muito mais do sistema de produção científica, do que de qualquer religião ou seguidismo ideológico. Em Maçonaria, pelo menos nas obediências mais modernas, não há Bíblias, Toras ou Alcorões, nem "Capitais", de Marx ou "Liberdades para Escolher" de Friedman, podendo isso sim, todos eles ser estudados, discutidos e avaliados pelos, denominados, Irmãos em Loja.

Se os Maçons procuram entreajudar-se? Sim. Mas isso não acontece em todas as organizações feitas pelo Homem? Em que tal difere de uma qualquer Associação, Igreja, Clube, Empresa ou ONG? Serão eles culpados de preferirem ser livres no pensamento, em detrimento de seguirem um qualquer pastor, guru ou simplesmente idolatrarem livros, dogmas ou figuras? Não seguem eles os princípios éticos e de valores base da civilização moderna: colocarem TUDO em causa e respeitarem TODOS, nas suas diferenças e visões?

E não, não é a primeira vez que existem Lojas Maçónicas em Tomar, ligadas ao Grande Oriente Lusitano. Só neste século, já é a segunda, tal como se sabe que a Loja Maçónica "Templários" existiu em Tomar, registada com o numero 271, no Grande Oriente Lusitano, funcionando entre 1906 e 1909.

Fonte: A Maçonaria e a implantação da República, numa edição do Grémio Lusitano e Fundação Mário Soares, com o apoio da Comissão do Centenário da República, ISBN 978-972-8885-21-2


P.S. - Julgo que não é difícil para quem não deixe de procurar olhar para a realidade e interpretá-la de forma racional e civilizada, que sendo a ignorância muito atrevida, só o esforço individual e coletivo, para darmos ao outro o respeito que exijamos para nós próprios, nos afasta do tempo das Cavernas, dos Santos Ofícios e de outros períodos negros da História Humana, os quais devem de ficar só e apenas nela.
Ter medo do desconhecido NUNCA criou Homens melhores e muito menos uma Humanidade melhor!