5.10.19

A Carbonária em Portugal - apontamentos

Com a devida vénia aos historiadores Marco Monteiro e Vera Grilo, no seu trabalho colocado aqui, comecemos por olhar para a sua origem...

Na verdade, quando se fala da Carbonária é frequente associá-la de imediato à Maçonaria e muitas vezes confundir estas duas distintas sociedades. No entanto, esta associação não se aparenta assim tão linear e muito menos a Carbonária funcionou como braço armado da Maçonaria como muitas pessoas têm escrito e falado. Quando muito, a Carbonária poderia ser não mais do que uma associação paralela da Maçonaria, embora nem todos os maçons fossem carbonários.

A Carbonária em Portugal encontrou o seu berço na Carbonária Italiana que, segundo a sua história, remontará ao século XIII, época em que apareceram em Itália os primeiros carbonários, ligando-se à continuação das lutas que se haviam travado na Alemanha entre os Guelfos, partidários do Papa e os Gibelinos, partidários do imperador. Os primeiros defendiam precisamente a não interferência de estrangeiros nos destinos de Itália, enquanto que os Gibelinos defendiam o poder do império germânico, mantendo-se esta luta até ao século XV.

O termo “carbonário” advém da palavra italiana carbonaro que significa carvoeiro, uma vez que os Guelfos encontravam subterfúgio no interior das florestas, mais concretamente nas choças dos carvoeiros. Contrariamente a estas origens existe quem defenda que a Carbonária ganhou os seus contornos em França, no entanto, será o figurino de Garibaldi, Cavour e especialmente de Mazzini(1) que servirá de motor de arranque para o início da Carbonária Portuguesa.

Por volta de 1818, foi fundada uma sociedade secreta (indícios de uma pequena Carbonária) em que os seus actos viriam a desencadear a revolução liberal de 1820. Já em 1828, “A Sociedade dos Divodignos” foi fruto da organização de um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra que criaram um núcleo secreto, com bases carbonárias, com o objectivo primordial de combate à monarquia absoluta liderada por D. Miguel. Contudo, esta sociedade acabou em maus lençóis e a maioria dos seus intervenientes, depois de descobertos, acabaram enforcados.

Mais tarde, em 1844, surgiu uma nova sociedade secreta com inspiração carbonária e liderada pelo general Joaquim Pereira Martinho, embora posteriormente o patrono da “Carbonária Lusitana”, assim se chamava a nova sociedade, fosse António de Jesus Maria da Costa, um padre anti-jesuíta de nome simbólico Ganganelli. A vitalidade demonstrada por esta nova sociedade permitiu a sua expansão em vários pontos do país, em que os seus membros faziam as reuniões das suas barracas (conjunto de 20 chefes de choças) e ainda das suas choças (núcleo composto por 20 carbonários).

Apesar de tudo, a “Carbonária Lusitana” acabou por decair e pouco mais se poderia fazer para retomar os objectivos inicialmente pensados.

Tal desígnio coube a Artur Augusto Duarte da Luz Almeida, bibliotecário das Bibliotecas Municipais que desde muito cedo participou nas conspirações que decorriam por todo o reino de Portugal.

Em 1896 surgiria enfim a “Carbonária Portuguesa”, com forte inspiração nos princípios carbonários italianos e com o intuito imediato de recrutar todos aqueles que tivessem dispostos a sacrificar tudo pela Implantação da República, resultando desta forma a queda da Monarquia em Portugal.

Desta feita, a Carbonária Portuguesa era distinta de todas as outras sociedades secretas, pois apresentava uma diferença notória que passava pela aceitação de elementos pertencentes a qualquer classe social, sendo menos selectiva e exigente no que concerne à admissão de novos membros.

Na verdade, esta nova Carbonária surgida agora em Portugal pelas mãos de Luz de Almeida propunha-se a alterar todos os processos de conspiração, os rituais exacerbados e os métodos exigentes e anarquistas utilizados por outras sociedades secretas.

É precisamente da sua estrutura interna, da sua organização e dos seus objectivos que falaremos a seguir, no segundo capítulo deste estudo.


Organização e Estrutura Interna da Carbonária Portuguesa

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Luz de Almeida

Como foi referido no capítulo anterior, Luz de Almeida foi o fundador da Carbonária Portuguesa e atraiu a esta organização inúmeras personagens ilustres cujos objectivos eram precisamente os mesmos do fundador: lutar pela causa da Revolução e instituir em Portugal a República.

Na verdade, o espírito de acção levado a cabo por Luz de Almeida viria a resultar na consumação de um acto heróico marcado pela Revolução de 5 de Outubro de 1910. 


Todo o mérito da organização de uma sociedade que se queria secreta devia-se, acima de tudo, a este homem que se lançou numa luta necessária ao país, sem hesitações nem precipitações, e que resultou numa sociedade hierarquicamente organizada onde os letrados não faziam falta. Aquilo de que a Carbonária precisava era de gente humilde e com vontade de lutar pela queda da monarquia, representada maioritariamente pela classe de trabalhadores e operários de diversas profissões.

Antes de percebermos como se efectuavam os recrutamentos para a Carbonária de Luz de Almeida, é pertinente verificarmos como se encontrava organizada esta sociedade secreta onde todos os seus membros se conheciam por primos.


Apesar de ter sofrido diversas modificações ao longo do tempo, a Carbonária era constituída por choças (composta por 20 membros da sociedade secreta), barracas (conjunto de 20 chefes de 20 choças), vendas (conjunto de 20 barracas com os respectivos chefes) e Alta Venda que era o resultado da organização de vinte vendas em que os seus dirigentes resolviam elegê-la como sendo a Suprema Alta Venda da Carbonária.


No que concerne à divisão hierárquica os rachadores ocupavam a última categoria desta organização, seguindo-se os carvoeiros, os mestres e finalmente os mestres sublimes. (Vide Anexo A) Estas duas últimas categorias distinguiam-se por serem as únicas a ter acesso às barracas e às choças (presididas pelos mestres) e em que os mestres sublimes se destacavam pela possibilidade de serem eleitos para a Alta Venda. 


O mais alto dignitário da carbonária era Luz de Almeida, o Grão-Mestre Sublime desta revolucionária organização.

É portanto normal que, visto do tempo presente, esta miscelândia entre algumas elites militares e/ou religiosas, entre o Humanismo ativista e a degenerescência da guerra, numa sociedade industrial, onde o anarco-sindicalismo, como ideologia, se implantava a todo o folgo, nos pareça estranha e irrepetível.

Será?
É que parte substancial da população, não está a aproveitar os ganhos da sociedade tecnológica, nem quer, nem pode, ficando para trás.
Quanto tempo esperamos que as pessoas fiquem no seu canto, perdendo, mês após mês, ano após ano, oportunidades, rendimento e baixando de qualidade de vida, quando se comparam com aqueles que "estão dentro do sistema"?

Pois.
Amanhã há eleições e vale a aposta que mais gente deixará de votar?
Está criado o bom caldo de cultura, para uma nova Carbonária...

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Mais informação aqui (wikipédia)
Livro recomendado, aqui (FNAC)
Afabeto carbonário, aqui (wikipédia)