28.3.19

Sem reduzir - significativamente, a área de Floresta, os fogos vão ficando incontroláveis

O presidente do IPMA, em entrevista à TSF, cuja notícias pode aqui ser lida, reflete sob o ponto de vista técnico, da cada vez maior divergência entre os modelos de análise e as consequências da imprevisibilidade do risco de incêndio.


As alterações climáticas, observadas nos últimos séculos, pelas razões que continuam a  ser alvo de estudo e análise, entre as quais se destacam as naturais - dos ciclos solares, da rotação da terra, da circulação oceânica, do vulcanismo e as antropogénias, com a emissão cada vez maior de gases de efeito de estufa - desde logo pelos dois mais significativos: a água e o dióxido de carbono, obrigam a que todos os modelos se adaptem e consigam prever melhor os riscos a que estamos sujeitos.

O Prof. Luciano Lourenço, da Universidade de Coimbra, numa sua abordagem sobre o risco e o perigo de incêndio (que pode ser lido aqui), chama-nos à atenção para isso mesmo: a diferença entre os conceitos (vidé infogravura abaixo)

https://www.uc.pt/fluc/nicif/Publicacoes/Colectaneas_Cindinicas/Download/Colecao_II/Artigo_VI.pdf, página 167


A formulação dos índices foi evoluindo, desde que nos anos 60 do século passado o Instituto de Meteorologia o foi disponibilizando e, se num momento inicial apenas avaliava a temperatura e a humidade relativa, o mesmo foi tomando maior complexidade, introduzindo outros fatores, como o vento e o histórico.

A conclusão tirada pelo Prof. Luciano Lourenço, no referido paper, é aqui relevante:

https://www.uc.pt/fluc/nicif/Publicacoes/Colectaneas_Cindinicas/Download/Colecao_II/Artigo_VI.pdf, página 173


Ela permite-nos avançar para outro tipo de análise e discussão, relacionado com a ignição - a tal que transforma o RISCO em PERIGO, mas que não pode esquecer a densidade e perigosidade florestal, esta também relacionada com a espécie que ocupa o solo, que solo e qual a mancha de continuidade que tem no território.

Convém termos a noção que a nossa Floresta é composta no essencial por Sobreiros e Azinheiras - concentrados no Centro-Sul do país e por Eucaliptos e Pinheiros Bravos, essencialmente concentrados no Centro-Norte do País, em contínuos florestais de dezenas de quilómetros. (Ver súmula histórica da Floresta em Portugal aqui)

Evolução da ocupação das principais espécies e formações florestais desde 1902 a 2010 (Fonte de dados: ICNF).

A pluviosidade média, ao longo das últimas décadas, não tem tido alterações significativas - consultar dados agregados da Pordata (período 1960-2018). Aliás, se tomarmos como exemplo a cidade de Lisboa, temos que a média anual foi:
Entre 1960-69, de 862mm (1 ano abaixo de 600mm e 2 anos acima de 1000mm);
Entre 1970-79, de 740mm (3 anos abaixo de 600mm e nenhum ano acima de 1000mm);
Entre 1980-89, de 682mm (5 anos abaixo de 600mm e 1 ano acima de 1000mm);
Entre 1990-99, de 750mm (3 anos abaixo de 600mm e 2 anos acima de 1000mm);
Entre 2000-09, de 753mm (3 anos abaixo de 600mm e nenhum ano acima de 1000mm);
Entre 2010-18, de 901mm (2 anos abaixo de 600mm e 3 anos acima de 1000mm, sendo um dos quais acima de 1500mm - 2010);
[pluviosidade média anual no período de 1960-2018, foi de 779mm]

Ou, se quisermos ser rigorosos, em cada década nos últimos 60 anos, há em média 3 anos mais secos e 1 ano excessivamente pluvioso. Constata-se uma pluviosidade média que se reduziu da década de sessenta até à década de oitenta (cerca de 21%) e que desde aí vem aumentando cerca de 10% por década.

Não é assim, como constatamos, a falta de chuva o principal fator, nem a sua irregularidade, uma vez que não se deteta qualquer padrão significativo, que não seja já uma característica do nosso clima mediterrânico.

Talvez por isso, devamos considerar que a existência de cada vez maiores extensões de contínuos florestais - grandes consumidores de água do solo e sub-solo, que ajudam a alimentar quaisquer fogos emergentes, pela carga de combustível que têm, especialmente concentrados na faixa do centro-norte do país, justifique que o RISCO se transforme em PERIGO emergente, bastando apenas a tal ignição - muitas das vezes de origem antropogénia.

Não há, por isso, como fugir da grande questão: a adaptação às alterações climáticas que observamos no mundo e  em Portugal, exigem de nós que estabeleçamos uma estratégia de contínua redução da ocupação de floresta em Portugal - especialmente das espécies menos resistentes ao fogo - os Eucaliptos e os Pinheiros Bravos e especialmente no Centro-Norte de Portugal.

Só para termos a noção, estima-se que atualmente Portugal tenha mais do dobro da área florestal que tinha há 150 anos atrás, tendo esta crescido brutalmente em todos os distritos do Centro-Norte do País.

Enquanto não fizermos isto, vamos continuar a ter mortes - muitas mortes, em resultados de fogos florestais, cada vez mais incontroláveis, de maior área e sem que possam existir meios suficientes para lhes fazer face.

Eu, sem qualquer modéstia, tentei quando responsável pela proteção civil - em 2010 e 2011 de um Concelho com apenas 350Km2, metade do qual ocupado por Floresta - sendo quase 80% desta ocupada por Eucaliptos e Pinheiros Bravos, obrigar a que naquilo que era a autorização de plantação dada pelo Município, se garantisse uma redução anual mínima de 1% da área ocupada por Floresta e de 2% da redução da área ocupada por espécies de crescimento rápido. Tentei. E sei que estava correto. O tempo e os factos posteriores só me vêm dando razão:
DEMASIADA FLORESTA;
DEMASIADA ÁREA DE EUCALIPTOS E PINHEIROS BRAVOS;
DEMASIADO RISCO E DEMASIADO PERIGO;
DEMASIADAS MORTES E PREJUÍZOS À COMUNIDADE.

Até quando?

24.3.19

Os Ferreiras no mundo


Essencialmente no Brasil, em Portugal, em Angola, Moçambique , Paraguai e Uruguai.

20.3.19

Só 20 Concelhos dos 100 da Região Centro não perderam população nos últimos 18 anos

Através da consulta da compilação dos dados do site pordata.pt, podemos constatar que no período de 2001 a 2017 (18 anos), nos 100 Municípios da Região Centro, em apenas 20 houve aumento de população residente.

Convém saber que apenas 2 regiões tiveram aumento populacional em Portugal: A Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve. Todas as demais - Norte, Centro e Alentejo, tiveram redução.

Dos 20 Concelhos da Região Centro que tiveram aumento populacional, 7 são da NUTIII do Oeste, 5 de Aveiro, 3 de Leiria, 2 de Coimbra, 2 do Médio Tejo e 1 de Viseu.

A ordem dos Municípios, da Região Centro, que mais cresceram de população, foram:

Arruda dos Vinhos (Oeste) +41%
Sobral de Monte Agraço (Oeste) +15%
Entroncamento (Médio Tejo) +15%
Condeixa-a-Nova (Coimbra) +14%
Oliveira do Bairro (Aveiro) +12%

Alenquer (Oeste) +10%
Lourinhã (Oeste) +10%
Murtosa (Aveiro) +9%
Lousã (Coimbra) +9%
Torres Vedras (Oeste) +8%

Marinha Grande (Leiria) +8%
Óbidos (Oeste) +7%
Caldas da Rainha (Oeste) +5%
Aveiro (Aveiro) +5%
Batalha (Leiria) +5%

Leiria (Leiria) +4%
Viseu (Viseu) +4%
Constância (Médio Tejo) +4%
Ílhavo (Aveiro) +3%

16.3.19

Programas genéricos de TV sobre casamentos: o que está mal?

As TV's generalistas - e não só, têm nos últimos tempos promovido vários formatos de programas de entretenimento, tendo por base as relações humanas, naquilo que poderíamos definir como a promoção do casamento, das relações ou, de forma mais ligeira, o contacto real entre pessoas.

Fruto do tempo em que as redes sociais retiraram às famílias, às pessoas, aos grupos de amigos, o papel que ainda há uma década tiveram, os formatos explorados pelas TV's em nada espantam e, na linha de formatos do tipo "Big Brother", já com duas décadas, prendem o espetador durante horas acompanhando a telenovela da vida, mais ou menos, real das pessoas, travestidas de personagens televisivas.

Há uns anos um estratega americano - James Carville,  na tentativa de explicar a coisa simple de que se em ano eleitoral a economia crescer isso favorece literalmente quem está no poder, estabeleceu a célebre frase: é a economia estúpido. Aqui, mutatis mutantis, podemos dizer: é a sociedade estúpido.

Isto porque, vá-se lá saber porque carga de água, andam por aí umas excitadinhas feministas fora de tempo e contexto, a vociferar contra estes programas, estabelecidos de forma voluntária entre os participantes, e tendo audiências, movimentando a economia, sem ferir os direitos consagrados na Carta dos (hoje denominados) Direitos da Humanidade e, bem assim, na Constituição.

Isto é como, quase, tudo na vida: quem não gosta não vê, quem não se interessa, não assiste.

Este modelo televisivo, que explora os sentimentos humanos, colocando a Humanidade (os homens e as mulheres), perante os seus dramas reais, imaginados ou teatralizados, é o pão nosso de cada dia. Seja, no interior de um carro, durante uma viagem, num jantar, num café ou numa visita de trabalho a uma empresa - que até pode ser a uma quinta. Homens e mulheres interagem, procuram-se, flirtam, por vezes interessam-se e as relações estabelecem-se. Qual o mal?

Eu, pessoa simples, que gosta do que é natural, acho espantoso que muitos se sujeitem a esta exposição mediática, mas sempre é melhor que as virtualidades das redes sociais e das plataformas de encontros casuais que proliferam na internet. Aqui, é real, direto e permite-nos perceber melhor o que cada um busca na vida. No fundo trata-se de ver a vida como ela é: humana!

E não simpatizo nada com as doentes feministas, como não simpatizo com os retrógrados machistas. Tudo tem o seu espaço e o seu tempo. Especialmente o bom senso. E, aqui simplesmente as pessoas procuram o mais simples do mundo: ser felizes!

E siga o baile!

Bilbiografia:
Posição do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas sobre os programas

12.3.19

Passes da CP Tomar-Lisboa baixam, mas menos do que deveriam...

(Artigo atualizado em 25 e 28/3/2019)

O valor atual do passe da CP de Lisboa a Tomar, para utilização dos comboios regionais e inter-regionais, é de 242,65€/mês, ou seja qualquer coisa como 40,44% do salário mínimo mensal em Portugal.


Fruto das novas políticas de proteção ambiental e, porque se deseja reduzir até 2030 a 50% das atuais emissões de gases de efeito de estufa, a partir da utilização dos transportes - um dos principais fatores da emissão deste tipo de gases, o Governo da República decidiu no Orçamento de Estado deste ano (aprovado pelos partidos da geringonça: PS, BE, PCP, PEV e PAN), avançar com a subsidiação dos passes sociais, num valor global na casa dos 100 milhões€, o que não se pode deixar de aplaudir.

A opção pela chamada "tarifa plana" - que mais não é do que numa dada área territorial a existência de um único passe, comum a qualquer modo de transporte usado - autocarro, comboio, elétrico, tran-train, metro ou outro, é uma opção já aplicada há dezenas de anos em diferentes áreas territoriais em diversos países, especialmente na Europa.

Acontece que se espera que não sejam os cidadãos residentes em zonas menos desenvolvidas (MAIS POBRES) a garantirem a redução dos passes daqueles que residem nas regiões mais desenvolvidas (MAIS RICAS).

Todos sabemos, por exemplo, que a densidade de transportes coletivos no Médio Tejo ou em Trás-os-montes, é muito menor do que nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, o que desde logo obrigaria a um investimento muito maior nas zonas menos densas, do que nas áreas metropolitanas. É isso tão óbvio, que nem sequer se pode aceitar que o Governo, nas suas mirabolantes contas, não levasse isso em conta...

Acontece que, pelos dados já conhecidos da disponibilidade de verbas para as áreas metropolitanas e para as comunidades intermunicipais, já é possível concluir que, mais uma vez, vai ser o País todo a pagar (indiretamente) para beneficiar as zonas mais ricas do País: Lisboa e Porto.

Não acredita?
Senão vejamos: o programa de candidatura atribuiu à área metropolitana de Lisboa (NUT III de Grande Lisboa e Península de Setúbal), com 2.827.524 habitantes, o financiamento de cerca de 93 milhões€, a NUT III das Terras de Trás-os-Montes, com 108.978 habitantes receberá cerca de 175.000€ e a nossa sub-região do Médio Tejo, cerca de 780.000€.

Feitas as contas, o algodão não engana:

- Cada cidadão residente na área metropolitana de Lisboa, vai receber do Orçamento do estado, aprovado pela geringonça, cerca de 32,89€ em 2019 para subsidiar os passes.

- Cada cidadão residente na NUT III das Terras de trás-os-montes, vai receber do mesmo Orçamento de Estado, a módica quantia de 1,61€ (!)

Cada cidadão residente na NUT III do Médio Tejo, vai receber do mesmo Orçamento de Estado, a módica quantia de 3, 70€ (!!)


Ou seja: 
A região mais pobre do País recebe MENOS 20 VEZES, que a mais rica (Lisboa) e a nossa (Médio Tejo), recebe apenas 11% por residente, que a mais rica - Lisboa.

O PIB/per capita das regiões de portugal (face à Europa):

Lisboa é a única região de Portugal com riqueza por habitante superior à da média da UE

A Área Metropolitana de Lisboa (AML) é a única região de Portugal que registou, em 2016, um PIB per capita – riqueza produzida por habitante – superior ao da média da União Europeia (UE): 102% contra 100%. Em termos nacionais, Portugal regista em média 77%, o quinto valor mais baixo da Zona Euro – está apenas à frente de Estónia, Grécia, Letónia e Lituânia.

Segundo os dados divulgados esta quarta-feira (28 de fevereiro) pelo Eurostat, Todas as outras regiões portuguesas ficam abaixo neste indicador que tem em conta o número de habitantes. Depois da AML (os já referidos 102% da média europeia) seguem-se, por esta ordem, Algarve (81%), Alentejo (73%), Centro (68%) e Norte(65%).


Nota: 
Para que o Médio Tejo tivesse um valor médio equivalente ao que irá ser INVESTIDO EM LISBOA, de 32€/residente, obrigaria a cerca de 7,5 milhões€, tendo 235.456 habitantes. 
Uma vez que o valor é de 780.000€, muito abaixo deste valor - 7,5 milhões€, só podemos considerar como um verdadeiro espúrio de Lisboa, face à nossa região.


Ou seja: aquilo que é uma verdadeira medida estrutural, no fomento do transporte público, na redução da utilização do transporte individual, no fomento da mobilidade e com isso da melhoria global da economia, está totalmente invertido.


O que o Governo da geringonça não cuidou, com este modelo, foi de investir MAIS nas ZONAS mais POBRES, com menos densidade de rede - onde são precisas mais soluções, do que nas zonas ricas do País. Ao fazer exatamente o contrário - com 20x mais investimento por residente em Lisboa, do que em Trás-os-montes ou que 9x mais do que no Médio Tejo, coloca o país com menos recursos - indiretamente a financiar a parte do país que tem mais recursos. Tudo errado, portanto!


E, tendo em conta que muitos dos passes mais longos da Área Metropolitana de Lisboa - de Mafra ou de Setúbal, ficarão apenas a 40€, significando uma poupança de mais de 100€ por passe, não se espera menos na redução dos passes da CP de Tomar a Lisboa...


Agora já é notícia que poderão haver reduções de cerca de 120€ no passe CP, de Tomar até Lisboa, fruto das negociações havidas diretamente entre as comunidades intermunicipais do Médio e da Lezíria do Tejo, com a Área Metropolitana de Lisboa, onde esta - dos mais de 90milhões€ que receberá, poderá dispensar o valor necessário para pagar na totalidade a diferença entre Vila Franca e Lisboa e uma parte do percurso efetuado no Médio e na Lezíria do Tejo, num valor que poderá ascender a umas centenas de milhares de euros, para os cerca de 1000 passes que existirão do Ribatejo para Lisboa. 


Os PASSES vão, e bem, baixar de preço, mas se houvesse uma melhor repartição de verbas entre as Regiões, mais justa portanto, isso representaria uma maior descida, tal como vai acontecer na Área Metropolitana de Lisboa.


Nota [de 21/3/2019]: 
Fico sempre triste quando vejo gente amiga, quais Ícaros, iludidos com a luminosidade “inócua” do Sol, a venderem - politicamente, gato por lebre.

Sempre fui um fervoroso adepto das teses do desenvolvimento sustentável e, a nível de transportes, da existência das chamadas tarifas planas, da interoperabilidade de meios de transporte e da facilitação do transporte coletivo em detrimento do individual.

Por isso trabalhei, enquanto Presidente do PS em Tomar - em 2004/5, a par de outros, para o desenvolvimento de uma nova forma de mobilidade no Médio Tejo, baseada na ferrovia ligeira de superfície, que ligasse prioritariamente os centros das principais cidades - nomeadamente os seus Hospitais.

Claro que a redução tarifária em implementação pelo atual Governo vai nesse bom caminho.

Mas claro que ela parece ir beneficiar essencialmente aqueles que já têm redes de transporte densificadas, das zonas mais ricas do País, em detrimento das mais pobres.

Em Lisboa o investimento público rondará os 32€/ano por cidadão residente, permitindo passes mensais a 30€/40€.

No Médio Tejo para que tal seja justo, o investimento teria de ser superior a 7,5 milhões de euros, valor que sabemos à partida que vai ser mais de 9 vezes inferior.

Por isso, e não há outra forma de o dizer: o Governo e a geringonça que o apoia MENTEM quando afirmam que não será o País TODO a pagar para os passes ao “preço da uva mijona” das grandes área metropolitanas.

Como socialista só tenho de pedir desculpa aos meus conterrâneos, cidadãos residentes numa zona muito mais pobre do que Lisboa, pelo facto do meu Governo estar a usar recursos para apoiar os "ricos" em lugar de apoiar "os pobres". E não. Isto não é um Governo de Esquerda, mas sim um Governo de artistas. E para atividades circenses, há outros locais.

É que por muito que custe, verdade é como o azeite...

8.3.19

Anabela Freitas e Hugo Cristóvão: as duas faces do mesmo problema

Já Carlos Drummond de Andrade, nos relembrou há tempos, de que "Dialogar é dizer o que pensamos e suportar o que os outros pensam".

Pena é que pessoas com as quais crescemos a acreditar na sua bonomia e princípios, se acabam por destacar por ATITUDES que acabamos por reprovar, especialmente os que investidos em funções públicas, têm dificuldade de perceber a relevante diferença entre a tolerância e a arrogância. 
Exercer o poder, transitoriamente transferido pelos outros, deve ser o mais humilde dos atos cívicos.

Em Tomar vamos tento, infelizmente, sucessivos exemplos dessa dificuldade.
Lamentavelmente há quem se esqueça da essência da razão pela qual temos apenas uma boca e dois ouvidos, naturalmente relacionada com o facto de devermos ouvir o dobro do que falamos (ou escrevemos). Tolerância, respeito pelos cidadãos que escolhem e elegem autarcas, compreensão pela sua eventual ausência de completa informação e muita paciência para cultivar a pedagogia democrática, obrigação de todo o eleito pelo povo.

Há cerca de um mês foi notícia que uma cidadã, desconhecendo a necessidade regimental, mas não legal, de se inscrever previamente na reunião de Câmara, para aí poder usar da palavra, na reunião mensal aberta ao público, degenerou numa peixeirada protagonizada pela Presidente Anabela Freitas. 
Tal forma de atuar, demonstradora da pouca tolerância e respeito pelos cidadãos que a elegeram e especialmente por aqueles que não o fizeram - quase sempre a maioria, levou à interrupção da reunião de Câmara, tendo a presidente abandonado a sala e tendo  e ficar a vereadora Filipa Fernandes a tentar explicar à cidadã, as regras que a Câmara se auto-impôs, mas que os cidadãos não são obrigados a cumprir. 
Para que não restem dúvidas, a inscrição prévia para se falar em reunião de Câmara é apenas para defesa do cidadão, visto que se o fizer antecipadamente, informando o assunto, poderá o respetivo presidente pedir elementos aos serviços sobre o mesmo - em regra um determinado processo e assim o mesmo cidadão ver a sua questão desde logo esclarecida. 
Naturalmente que quando o legislador estabeleceu um reunião pública mensal com uma hora para que os cidadãos pudessem usar da palavra, o fez com o intuito de fomentar a participação cívica das populações junto daqueles que, localmente, podem efetivamente resolver pequenos (e grandes) problemas das pessoas.
A tudo isto parece Anabela Freitas passar ao lado, demonstrando da pior forma o carácter que, de quando em vez, já era mais do que notório na sua atuação, especialmente quando confrontada diretamente, pela falta de tolerância e respeito pela opinião contrária. E já é assim há anos estando apenas com o tempo, a piorar.

Assinatura, há 9 anos e meio, do acordo PSD-PS, no PS presidido por Hugo Cristóvão, com a presença entre outros de Anabela Freitas (deputada) e eu próprio (vereador)


Mas se isto, para quem com ela teve de convier diariamente durante mais de 11 anos, já não é há muito novidade, maior estranheza causa o pouco a pouco resvalar para a mesma prepotência e altivez moral do bem mais preparado, culto e humanista do seu vice-presidente, Hugo Cristóvão. Há anos uma promessa real da política nabantina, aquele que em 2005 me sucedeu na liderança do PS local e com o qual trilhei várias derrotas e vitórias cívicas, vem pouco a pouco demonstrando uma atitude censurável, pelo mau exemplo que ela representa para a serviço público, na mesma linha da intolerância seguida pela Presidente, e que ele mais do que qualquer outro na Câmara Municipal, estaria obrigado a não cair.

"A falta de amor, é a maior de todas as pobrezas", disse-nos em tempos Madre Teresa de Calcutá. Não sendo decerto o seu caso, mas no melhor pano cai por vezes a nódoa.

No passado dia 25 de fevereiro, o nosso vice-presidente brindou-nos com mais uma pérola, da sua já longa lista de dislates do género, exemplificativos daquilo que não deve ser o tratamento do quem connosco não concorda e, também eu tendo já sido brindado por pérolas semelhantes, apesar de sempre o perdoar, não posso deixar de o anotar e lamentar profundamente a continuidade da atuação.


Que Hugo Cristóvão não goste do que José Gaio escreve, pois que também eu muitas das vezes não gosto, é lá com ele (ou comigo). Agora que o defina como "terrorista social", só porque tenta fazer a sua opinião, mesmo que baseado em factos irreais ou eventualmente deturpados, é um abuso de linguagem, o qual não se pode deixar passar despercebido.

Um eleito pelo povo deve, tem essa mesma obrigação, de tratar com elevação aqueles de quem discorda. Que pensar de alguém que há cinco anos e meio é vereador de uma Câmara Municipal que "acusa" com a maior facilidade um jornalista, que como free lancer, faz a sua opinião (erradamente) misturada com notícias, de ser "terrorista social"? Que com a mesma facilidade brindou em post's e comentários a outros, o autor destas linhas como "estando doente" e outras pérolas do género, depois deste ter batido com a porta à forma errada como a condução política em Tomar, por parte da Câmara e do PS, vem sendo conduzido, desde 2015?

Hugo Cristóvão, feito vereador pelo esforço de muitos - tal como eu em tempos o fui, deve à tolerância e sentido ético de civismo, a discussão com os antagonistas, com a seriedade e capacidade de "ouvir", que apregoa, mas dificilmente executa.

Como venho de há anos escrevendo: Tomar merece isto?

Afirmo e reafirmo: não! 
Nem Tomar merece isto, nem o PS deve continuar a prestar vassalagem a estes dois nossos autarcas, os quais estão visivelmente perturbados com a "luz" do poder, quais libelinhas que encadeadas com uma qualquer fonte de luz, confundem a transitoriedade do poder, com a razão com que deveriam atuar, confundem o respeito, com subserviência e serviço público, com serviço do público.

Não: precisamos mesmo de outra condução política em nome do Partido Socialista e de Tomar. 

4.3.19

Banda da Guarda Fiscal - 33 anos depois

Foi em 1986, então com 19 anos, que a 3 de março incorporei na Guarda Fiscal, no curso de formação para a sua Banda Sinfónica, naquela que seria a sua primeira "recruta" para músicos profissionais, após a oficialização da Banda no ano anterior.

Fomos 25 a iniciar e a terminar o curso, 24 dos quais ainda nos encontramos entre o mundo dos vivos. 
Viemos de várias Bandas militares, do Exército, da Força Aérea, da Marinha, alguns estando já na disponibilidade, mas todos com essa marca indelével da passagem, primeiro pelas escolas de musica das Bandas Civis - no meu caso na Nabantina e depois na Gualdim-Pais e depois pelas Bandas militares - no meu caso na Banda Militar do Regimento de Infantaria de Tomar (RI15).

Aqui uma foto de uma cerimónia no Centro de Instrução de Queluz, já no final do ano de 1986, com um bem haja a todos os camaradas de armas e até ao próximo dia 9 de março, no tradicional almoço anual, desta feita em Santa Maria da Feira.