23.10.18

Populismo vai tomar conta da maior economia da América Latina

(ATUALIZADO em 26/out - em atualização, até à noite de 28 de outubro de 2018)

O título poderia ser: A desesperança que a esquerda ajudou a produzir...

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Oiçamos um dos estrategas deste populismo - General Mourão, que é SÓ o candidato a vice de Bolsonaro, da sua adesão à democracia liberal, à gestão da guerra em que o Brasil vive e das soluções - radicais, mas compreensíveis à luz da realidade brasileira, que propõe...




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Uma visão do jornalista que tem um forte compromisso com a democracia liberal, de visão oposta:









Brasil. Digo-o de mim para mim, com o coração apertado













Madrugada de 29 de outubro, 2018: "Brasil trágico." É verdade, já sei que irei escrever uma crónica com esse título daqui a uma semana e algumas horas. Sei, porque o mundo é assim e sei porque a crónica serei eu a escrevê-la. E, porque o mundo é mesmo assim e embora não seja eu a escrevê-los, sei também que vão aparecer vários comentários, publicados acerca dessa minha crónica, assim: "Bem feito, jornaleiros! Vocês diziam que Bolsonaro nunca ia ganhar... E agora? Aldrabões é o que vocês são todos."



Sei da inevitabilidade desses comentários porque nada é mais previsível do que um imbecil. Perdão, há ainda mais previsível: imbecis de repetição. Desde o verão de 2016, quando Donald Trump ganhou a candidatura republicana, primeiro estupefacto, depois cada vez mais irado, preparei-me para a vitória dele no outono e até a anunciei como provável. O que não me livrou, na sua vitória, de me classificaram de surpreendido. Classificaram-me e a milhares de jornalistas para quem essa vitória era provável. Não entenderam que a nossa escrita não era a negação de um facto que se anunciava. Era sobre a indecência que ele significava.



No dia seguinte à eleição de Trump, David Remnick, prémio Pulitzer e diretor há 18 anos da prestigiada revista The New Yorker, publicou um texto a que chamou "Uma tragédia americana". Aí, ele prevenia contra as misérias a vir: "Um presidente cujo desprezo tem sido repetidamente demonstrado para com as mulheres e minorias, para com as liberdades civis e factos científicos, já para não falar da simples decência." E David Remnick rematou: "Trump é a vulgaridade sem limites." No momento da eleição, a sentença. O que se seguiu confirma a justeza dela.

Jair Bolsonaro é mais brutal na sua vulgaridade. Se o norte-americano explicava por onde agarrar uma mulher, o brasileiro lamenta que a tortura não tenha passado para o limite seguinte e matado 30 mil presos políticos durante o regime militar. Bolsonaro comentou no presente o passado - por que não pôr a hipótese de o querer pôr em prática no futuro? Eles não escondem, eles dizem ao que vêm - essa, esta casta de políticos, é a novidade séc. XXI. Gente assim, até na política, sempre houve, mas escondiam-se. A novidade é que são populares e, em certos casos, até podem ser maioritários.

Que afronta é essa de dizerem a quem os vê chegar e que alerta sobre o perigo que eles representam, enfim, dizerem de quem é lúcido, que se engana? Saiba-se: reconhecemos, agora e antes, o perigo de Trump, até o de ganhar eleições. Mais, até sabemos que os que levam com ciclones em cima continuam a apoiar o Trump, ele que nega a mudança climática e insiste em piorá-la. Saiba-se: reconhecemos, antes das eleições, o perigo de Bolsonaro ganhar no domingo. E depois disso, quando ele organizar milícias e desbastar a Amazónia, até sabemos que a caixa de Pandora aberta continuará com os seus adeptos.

Por saberem desses líderes rascas e da capacidade de seduzirem tanta gente, mesmo os que não se deixaram enganar - aliás, sobretudo esses - devem deitar contas à vida. Do Brasil, que é tão nosso e tanto nos pode ensinar: o ovo da serpente não nasce do nada. Bolsonaro é filho da corrupção generalizada. Chocou enquanto o PT roubou. Este justifica-se insinuando que começou a roubar com boas intenções: a Constituição, propiciando a pulverização dos partidos, levou à compra de deputados para se poder governar... Pífia desculpa: os do PT que roubaram, roubaram por ganância. E a pior delas: a que se esconde com suposta perseguição política, como também por cá houve quem praticasse sem pudor (porque, além de roubar, prejudicou os seus).

O ovo da serpente não nasce do nada. Bolsonaro é filho de uma generalizada falência política. Direita e esquerda (mais uma vez com a desculpa da Constituição) praticam alianças espúrias. Os ministros leiloam-se entre os partidos, não se escolhem os melhores. E isso, governantes incapazes, até é mal menor comparado com outra prática comum: entraram na governança seitas venais, estúpidas (é lá com elas) e estupidificadoras (é connosco). Nós conhecemo-las, também por cá há, e preparam-se para entrar na política, se é que ainda não entraram. O PT governou com elas e elas, unânimes, são agora aliadas de Bolsonaro. O povo brasileiro não lhes pagará só o dízimo, arrisca-se a pagar a conta completa.

A réstia de esperança está nas páginas de um livro cujo título é um programa: Viva o Povo Brasileiro. História de uma saga coletiva, a nascença de uma nação. João Ubaldo Ribeiro tem outro belo título: A Casa dos Budas Ditosos, outra saga, o amor ao amor. Leiam o Brasil quando caírem os resultados eleitorais de domingo próximo. Se não chegar, ponham Elis a cantar. Riam-se com A Porta dos Fundos. Recordem a coragem de Marielle.

Não sabes onde te meteste, Jair Bolsonaro... Digo-o de mim para mim, com o coração apertado.

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Internacional

Brasil, o país onde a política e a corrupção andam de mãos dadas


17.10.2018 17:41 por Diogo Barreto




A polícia federal brasileira pediu uma acusação contra o presidente Michel Temer por corrupção. Nos últimos anos são dezenas os políticos da direita à esquerda suspeitos de crimes de "colarinho branco".

O presidente do Brasil, Michel Temer, é o último caso de um político brasileiro a ser investigado pelos crimes de corrupção. A polícia federal brasileira emitiu um pedido de acusação ao chefe-de-Estado brasileiro esta quarta-feira no âmbito de uma investigação a favorecimentos indevidos e subornos. Mas a investigação a um político no país sul-americano não é novidade. Só no caso da Operação Lava Jato, nos últimos quatro anos, foram investigados mais de 60 políticos, entre eles o próprio presidente Temer, ex-presidentes (Lula e Dilma), ministros e deputados. Dos partidos pequenos aos grandes, da esquerda à direita, a megaoperação envolveu políticos de 14 partidos brasileiros. Mas há outros casos que abalaram a política do país.

Os arguidos da operação Lava Jato são acusados de diversos crimes de "colarinho branco", como corrupção, branqueamento de capitais, obstrução à justiça, subornos e recebimento indevido de vantagem. Entre os nomes mais sonantes que foram investigados estão o do presidente Michel Temer, dos ex-presidentes Lula da Silva (que foi mesmo condenado), Dilma Rousseff ou Aécio Neves. Mas há ainda presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e governadores de estados a serem investigados, para além de presidentes de algumas das maiores empresas brasileiras.

A maior investigação a corrupção da história do Brasil já fez cumprir mais de mil mandados de busca, apreensão e prisão preventiva desde o dia em que foi lançada, a 17 de Março de 2014. Até ao momento já se registaram 55 fases de operação que terminaram na detenção e condenação de mais de cem pessoas. Um levantamento recente feito pela BBC Brasil dava conta de mais de 60 políticos investigados na operação Lava Jato.

Temer está a ser investigado por, alegadamente, receber subornos e beneficiar as empresas de alguns parceiros de negócios nos portos brasileiros. No passado, no âmbito da Lava Jato, o congresso federal brasileiro votou duas vezes para impedir que Temer fosse julgado no Supremo Tribunal por três acusações de corrupção.

O mandato de Temer como presidente brasileiro - ascendeu ao Planalto depois do processo de impeachment a Dilma Rousseff - está prestes a terminar. Ao seu lugar candidatam-se o ex-militar de extrema-direita Jair Bolsonaro (que nas sondagens mais recentes surgia com intenções de voto acima dos 50%) e o "sucessor" de Lula da Silva Fernando Haddad.

Já Lula da Silva, o ex-presidente brasileiro, foi condenado, em segunda instância, por corrupção passiva e branqueamento de capitais. O processo de Lula foi envolto em polémica. Durante o período em que esteve a ser investigado no âmbito desta operação, o ex-líder do PT foi acusado do crime de corrupção passiva e branqueamento de capitais e a morte da sua mulher. Acabaria por ser condenado em Julho de 2017 a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro. Em segunda instância, a sua condenação subiu para os 12 anos.

Desde então, o ex-presidente interpôs diversos pedidos de habeas corpus que foram rejeitados, apesar dos movimentos pró-Lula que moveram milhões de pessoas no Brasil. Acabou por se entregar à polícia federal brasileira.

Os partidos envolvidos na Lava Jato

Temer pertence ao Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), enquanto Lula foi líder do Partido dos Trabalhadores (PT). Pelo PMDB, Sérgio Cabral foi também condenado por cinco crimes, sendo acusado em mais de duas dezenas de processos. Dilma Rousseff, destituída do cargo da presidência, foi investigada por tentativa de obstrução à justiça. Pelo Partido da Social Democracia Brasileira, Aécio Neves foi denunciado por corrupção e está actualmente a ser investigado em nove inquéritos relacionados com o caso Lava Jato.

Mas a megaoperação Lava Jato afectou também políticos do PTC, PSB, SD, PR, PPS, PP, DEM, PC do B, PRB, PTB e PSD.

Nas eleições brasileiras, milhares de ex-apoiantes do PT afirmaram que não iriam voltar a votar no partido devido à corrupção no seio do mesmo. Lula e Dilma, duas das caras mais conhecidas do partido estão a ser investigados por crimes de colarinho branco, o que pode explicar o baixo resultado com que o candidato do PT, Fernando Haddad, partiu no início da campanha. Haddad começou com menos de 10% das intenções de votos. Acabou por ser o segundo mais votado nas primeira volta das eleições, atrás de Jair Bolsonaro.

Por sua vez, o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro prometeu no seu programa eleitoral e durante toda a campanha que iria lutar contra a corrupção instaurada no Brasil, seguindo um discurso que foi também usado por Donald Trump nos EUA (drain the swamp) e Rodrigo Duterte nas Filipinas. No entanto, Bolsonaro é o candidato do Partido Progressista, o segundo maior partido brasileiro. Dos 45 representantes do partido no Congresso brasileiro, 21 estão a ser investigados na Operação Lava Jato, enquanto dois foram condenados no Escândalo do Mensalão.

Outros casos


Mas não foi o Lava Jato o único grande processo a levar à investigação e acusação de políticos no Brasil. O Mensalão – o caso de corrupção política de compra de votos de deputados no Congresso Nacional do Brasil – levou também a que fossem investigados membros do governo de Lula da Silva, bem como políticos do PT, PPS, PTB, PR, PSB, PRP, PP e do MDB.

A operação Satiagraha foi uma operação da Polícia Federal Brasileira contra o desvio de verbas públicas, a corrupção e branqueamento de capitais. No entanto, a operação foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça por ilegalidades no processo de investigação.

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E por cá? O caldo de cultura que se está a criar...

Notícia TSF de segunda-feira, dia 22/10/2018 - PSP incapaz de travar carteiristas: Lei facilita impunidade

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Uma visão de uma conservadora sobre o Fascismo...

Madeleine Albright: 

“O fascismo cresce onde as pessoas são convencidas de que toda a gente mente”

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Um artigo de um apoiante da direita, que não deixa de refletir bem sobre o problema em apreço...

"A esquerda chamou os Fascistas e os fascistas vieram"

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Um ataque de um Liberal português, aos Liberais que justificam Bolsonaro:

"Aos meus amigos do Observador e a Cristas"