19.10.18

Fechar uma estrada nacional, para fazer uma Feira? Só em Tomar...

Primeiro por razões práticas, do lançamento do concurso de requalificação da Várzea Grande, depois por razões de procura de uma melhor solução para a secular Feira de Santa Iria, este executivo municipal, decidiu arriscar em colocar a Feira, na envolvente ao Mercado Municipal.


Agora que está passado o evento, há que refletir criticamente sobre essa opção.
Notoriamente houve menos comerciantes instalados o que acabou por facilitar o arrumo dos mesmos. Este decréscimo já se vinha sentido, de forma sustentada, ao longo dos anos, levando a que a "mancha" de ocupação na Várzea Grande fosse cada vez apresentando mais clareiras, dando um aspeto pouco consistente à mesma. Não é por isso de estranhar que a opção pelo uso do parque de estacionamento de Santa Iria se tenha revelado a mais criticável escolha, uma vez que foi esta que levou depois à peregrina ideia de encerrar o trânsito na EN110, entre a Rotunda Alves Redol e a Rotunda dos Bombeiros, o que causou nos primeiros dias um olímpico caos na mobilidade e circulação da cidade.
EN110, fechada no troço entre a Rotunda Alves Redol e a Rotunda dos Bombeiros

Este foi, quanto a mim o menos conseguido dos aspetos desta nova localização da Feira de Santa Iria, perfeitamente escusado se tivesse havido a necessária reflexão sobre os prós e contras de diferentes desenhos de ocupação. Dá aliás a ideia de que houve uma tomada de decisão, sem cuidar de envolver a engenharia do Município, na qual existem profissionais experientes na avaliação da mobilidade, sem envolver a Proteção Civil Municipal, onde já existia um acumulado de experiência de anteriores planos de Contingência e sem envolver devidamente a PSP.

E, já agora, sem cuidar de tendo o Conselho Municipal de Segurança a funcionar, com as comissões que deveriam ao longo deste três anos de paragem ter sido criadas, poderia a de "segurança rodoviária" ter algo a refletir sobre esta opção...

A total ausência de avaliação do risco, para as pessoas, bens e qualidade da vida urbana, visível nesta decisão, contrasta com o caminho feito, também a nível de mobilidade e planos de contingência, produzidos para as Festas dos Tabuleiros de 2011 e 2015, sendo que nesta última, com a colaboração da pós-graduação do IPT em "cidades inteligentes", foi inclusivamente desenvolvida uma apliacação (App), designada SmartFest, que monitorizou em tempo real toda a circulação e estacionamento na cidade.

A existência de soluções tecnológicas, servidas pelo saber acumulado, quer da Feira, quer da engenharia e da proteção civil do Município, teria obviado a este monumental erro, o qual acabou por ser mitigado, com a  decisão posterior de abrir por algumas horas - especialmente durante as manhãs, da via ascendente (Oeste-Este) desta estrada nacional, mas que não desfez o erro inicial.

Mais.
Uma adequada avaliação de risco, baseada num SWOT validado, poderia ter colocado em "teste" uma outra solução de ocupação que passaria por concentrar toda a Feira a sul da referida EN110, desenvolvendo-se do Mercado, parque do Centro de Emprego, envolvente à Igreja de Santa Maria e Flecheiro. Tal opção teria tirado partido mais eficaz das duas pontes aí existentes, uma apenas pedonal e outra inserida na Avenida Luis Bonet, que se teria constituído, não como um constrangimento à mobilidade da cidade - como foi o encerramento da EN110, na ponte nova, mas sim como uma via de serviço entre os diferentes locais da Feira.

Enquanto se desenrolarem as obras na Várzea Grande e, após estas, se politicamente for essa a decisão, tal abordagem reduzirá os impactos na vida da cidade, confinando a Feira num espaço que, a meu ver, até tem essa vocação.

Aliás, continuo sem vislumbrar o porquê de não se realizarem na envolvente ao Mercado Municipal, a generalidade dos eventos da cidade, entre o antigo Festival do Frango e a Festa da Cerveja,  ou outros que criassem animação de Verão, aproveitando a Tenda, a qual tem indiscutíveis vantagens para utilizações desse tipo, com um impacto muito menor na zona turística da cidade.

Em conversa com alguns dos responsáveis pelos restaurantes da Feira, foi  comum a todos eles da vantagem da utilização da Tenda para este fim e, fora o ruído da pista de carros de choque, que poderia ter tido outra localização mais próxima da Ponte Arantes de Oliveira (Ponte Nova), funcionou em pleno.

A utilização do passadiço sobranceiro ao Rio, mostrou que a extensão da Feira pela margem direita até ao Flecheiro funcionaria e enquadraria melhor - como num passado não muito distante (até 2008), uma zona de vendas complementar.

Ou seja e em resumo:
- Esta localização da Feira funciona, colocando a mesma numa área mais estruturada e vocacionada para este tipo de eventos, do que a Várzea Grande, que era um amontoado de pó e, dado que a opção política do projeto a concurso inviabilizará (erradamente) a realização de grandes eventos aí, pode ser esta uma localização viável para os próximos anos;

- A Feira não precisa do parque de Estacionamento de Santa Iria, nem do encerramento da EN110, entre a Rotunda Alves Redol e a Rotunda dos Bombeiros, podendo estender-se pela envolvente à Avenida Luis Bonet e nos terrenos a sul da Ponte do Flecheiro;

- Em próximas eventualidades de alterações significativas da mobilidade da cidade, deve haver avaliação de risco e o devido envolvimento da engenharia e proteção civil Municipal, pois com a saber acumulado, muitos dos constrangimentos verificados poderiam ter sido evitados.


Luis Ferreira, ex-vereador da Proteção Civil