7.8.18

DO FIM DO BLOCO DE ESQUERDA À NOVA POLÍTICA DE PSL


“Os homens hesitam menos em prejudicar um homem que se torna amado do que outro que se torna temido, pois o amor quebra-se, mas o medo mantêm-se” - Nicolau Maquiavel, “O Príncipe”, edição de 1972, Livros de Bolso Europa-América

Catarina Martins, líder do BE, com o ex-vereador Robles, em 2017

Perguntará o leitor que relação tem a histórica frase de Maquiavel, com a mais recente polémica do vereador do Bloco de Esquerda Robles, o qual era só o líder da maior e mais importante concelhia desta plataforma política – a de Lisboa.


Pedro Santana Lopes (PSL), com Marcelo Rebelo de Sousa e José Miguel Júdice, há 30 anos 

Ou qual a importância deste pensamento político do teórico florentino dos Médicis no Renascimento, na mais recente e anunciada convulsão à direita, com a saída de Pedro Santana Lopes (PSL), do seu desde sempre PPD/PSD, com o anúncio da criação próxima de um novo movimento/partido político, por ele liderado.

Falemos de amor e de ódio em política.
Votamos mais por amor a determinado candidato ou partido ou mais por ódio à sua alternativa? 
Escolhemos o líder ou as ideias defendidas pelo seu movimento/partido?
Perdoamos os pecados dos atores políticos, como sejam os aditivos que usam, a sua vida pessoal, os negócios ou a proteção da família e amigos, da sua falta à verdade e da fuga à justiça, em prol de sermos bem governados?

As respostas são várias, variando com os momentos, os locais e os tempos históricos, mas de uma coisa podemos ter a certeza: quer por amor, quer por ódio, algo a que as pessoas em todos os tempos olham é a quem não são indiferentes. Amor ou Ódio, tanto faz. O que mata um político, um sistema político, um partido ou movimento político, é a indiferença.

O Bloco de Esquerda (BE), esse movimento aglutinador de partidos e movimentos cívicos pré-existentes, que alternavam entre a defesa de minorias - sexuais, comportamentais, etc, e de outras modernidades dos anos noventa, acrescentada por um radicalismo comunista da quarta internacional de Trotsky - do início do século passado, fez durante anos seu o mote do mais relevante dos seus partidos fundadores – a UDP (União Democrática Popular), de que “Os ricos que paguem a crise”.

Ora, o que o recente caso Robles, neste contexto pôs a nú, foi aquilo que nós na política já há muito sabíamos: que o Bloco não era mais do que um somatório de filhos-família - burgueses portanto, ricos ou novos-ricos ou a isso pretendentes, os quais mais não queriam do que fazer carreira e dinheiro, como acusavam os outros de quererem, com aquela sobranceria intelectual que todos constatávamos.

O discurso das minorias, da defesa dos valores, da moral e do (bom/mau) costume, da balda, do anarquismo oportunista, dos invioláveis direitos do eu em detrimento do interesse geral, mais não eram do que uma panóplia de populismo barato, visando obter o maior ganho eleitoral, com o mínimo de esforço e onde está visto, a coerência propalada era apenas mais um teatro, bem ao jeito da sua atual e, neste momento, condenada líder...

Nos antípodas deste amor propalado pelo Bloco, havia o ódio a Pedro Santana Lopes, outro filho-família, representante da direita clássica da Lisboa burguesa, seu enfant terrible onde os valores e a moral vigente toleravam, com aquele toque fino, na qual a burguesia enriquecida com os negócios das colónias e da exploração das quintas, da antiga nobreza pelo País espalhadas, mais não eram do que os Carlos da Maia, nos seus Ramalhetes. 

PSL, ele próprio, havia ultimamente passado por vários Ramalhetes: na gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, depois de o ter feito no Sporting Clube de Portugal, nas Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, contra todas as expetativas e episodicamente num dos mais curtos governos de Portugal, em 2004, antes dos poderes financeiros espanhóis (e outros), o decidirem substituir por Sócrates, também ele modernaço representante dessa mesma burguesia, em 2005...

Amor e ódio, sempre essa impressionante dicotomia, presente num Bloco, capaz de ombrear com os mais empedernidos e doutos pastores evangélicos nos confins de uma América rural ou de um Brasil periférico, como presente nos outros filhos-família, burgueses mais ou menos espertos, na oportunidade de um negócio ou de um palco, onde impressionar as mulheres e os homens, com a sua verbe, era o mote.
 No caso do Bloco com uma falta de ética, hoje posta a nú, porque contraditória com a sua ação e no caso de PSL, pela sua genuína afirmação dessa Lisboa de onde emana o País, que mais não é que uma paisagem, dali visto.


Que sucesso terá o Bloco daqui para a frente ou que atenção irá dar o País, ao sempre renovado PSL, a caminho dos setenta anos, mas sempre e eternamente jovem, qual Dandy do século XX, neste adormecido antro de amorfismo à beira mar plantado?

Sortes diferentes, que nestes casos o Amor e o Ódio ditarão, na minha modesta opinião.

O BE, essa nova luz da modernidade bacoca, com um discurso saído dos cânones esquerdistas de antanho, agora que todos se podem casar, ter filhos dos outros, fumar o que lhes apetecer, ocupar ou comprar as casas e explorar os alojamentos locais e outros (bons) negócios, que melhor sirvam as suas públicas virtudes e os seus vícios privados, está acabado. 
Se até o CDS/PP tem como vice-presidente (e que foi um competente governante, já agora), um assumido homossexual e se no PS as teses de extrema-esquerda são a conversa oficial, que razão há para alguém continuar a votar no Bloco, que defende uma coisa e faz outra? 
Nenhuma e, a exemplo daquele PC tonto que em Tomar pensava que Bruno Graça era a resposta de credibilidade de gestão autárquica, e que se viu afastado eleitoralmente da vereação precisamente por não o ser, o Bloco apenas subsistirá para o núcleo duro ou dos seus investidores, tipo Robles, ou dos deserdados do capitalismo de Estado, que a geringonça vai criando nas cidades, com a ajuda do atual PCP e BE...

PSL, essa nova luz da renovação conservadora – vêm a contradição marxista da coisa?, terá naturalmente outra sorte. 
Se parte dos que atuais filhos-família das classes médias altas, que atualmente votam BE, amanhã o farão no CDS/PP, parte dos que atualmente votam PS ou PSD, amanhã equacionarão fazê-lo no partido/movimento de PSL. 
E porquê? Apenas porque no jogo do Amor e do Ódio, Rio não convence e Costa é o que é. Será diferente quando Pedro Nuno Santos no PS e Pedro Duarte no PSD, tomarem aí respetivamente o poder, tranzendo para a liderança do main stream político, a atual geração das jotas da entrada do século XXI? Não, não será.
Nessa altura, o então septuagenário PSL estará ainda a levar ao crescimento do seu movimento/partido, com episódicas participações nas soluções governativas, à esquerda e preferencialmente à direita. A natural europeização do sistema político português é rio que não se pode parar com as mãos e PSL é o único neste momento a interpretar bem essa onda...

O envelhecimento da população, coloca o ênfase na agenda que PSL apresentou na sua última ação política – a candidatura à liderança do PPD/PSD, numa resposta efetivamente alternativa à geringonça, que a liderança de Rio no PSD não é. Essa vai ser a razão do seu imediato sucesso, com a expectável eleição de um ou dois deputados europeus.
Não esquecer que nas eleições europeias, os movimentos/partidos mais pequenos são hiper-valorizados, pela elevadíssima abstenção, o que beneficiará um político, como PSL, ao qual os Portugueses não são indiferentes. Amor e Ódio, lembram-se?

O anátema político, pelo qual viveremos na próxima década em Portugal, não andará longe daquilo que Maquievel, no seu capítulo XVIII, dispõe, com a clareza que faz jus ao universal respeito como pensador, ao nos dizer que “Convém saber que existem duas maneiras de combater: pelas leis e pela força. A primeira é própria dos Homens e a segunda dos animais. Mas, como muitas vezes aquela não chega, há que recorrer a esta, e, por isso o Príncipe precisa de ser animal e Homem”.

Este é o tempo de Homens, como o sempre renovado Dandy PSL, e não das coisas contarditórias dos Blocos desta vida, de que em Tomar, por exemplo, Pedro Marques e os seus últimos apoiantes que se acantonaram no PS autárquico local nas últimas eleições, representam. 
Daqui para a frente, sabemos todos muito bem, para estes o caminho é sempre para baixo. 

Quem decidirá as próximas eleições - europeias, legislativas e autárquicas, serão aqueles que hoje com 37-56 anos, são já a mais significativa faixa da população eleitora (com 35%) e estão fartos de pagar a malandros.
http://pmgeorumos.blogspot.com/2017/11/piramide-etaria-portugal-2016-2050.html

nova política impor-se-á, mesmo que alguns dos seus principais protagonistas possam ter mais de sessenta e a caminho dos setenta anos... 
E ainda falta a absolvição do Sócrates, para isto se tornar mesmo interessante!



Luis Ferreira
*Ex-dirigente nacional, distrital e local do PS


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Post Scriptum

"Claro que o Bloco tem direito a ser um partido de privilegiados que procuram um modo de vida libertário, sem qualquer dever que interfira no direito ao prazer do EU. Não pode é continuar a fingir que é a muralha dos pobres" - Henrique Raposo, in Expresso, 4/8/2018

"A cultura representada em Portugal pelo Bloco é hoje em dia o grande inimigo dos descamisados. Esta cultura do hipster (uma espécie de beto de esquerda) faz do ódio ao branco pobre o pilar da sua alegada superioridade moral" - idem