Manuela Ferreira Leite, ex-lider do PPD que deixou Relvas e Passos de fora do Parlamento em 2009, deve estar a rebolar-se de riso, pelo descalabro em que um ano de desgoverno do Governo liderado por quem [Passos], na expressão de Daniel Oliveira, "depende dele [Relvas] para manter a fidelidade da mafia do partido".
Em todo o caso, Relvas é muito mais do que viagens-fantasmas, "esquemas" de receber ajudas de custo no mínimo duvidosas ou turbo-licenciaturas legais. Ele é também "esquema" para controlo de informação desde o nível local, regional ou nacional (nem é preciso mencionar os nomes que todos os sabem). Ele é "esquema" para apagar do mapa Freguesias ligadas à oposição ao PSD de Norte a Sul do País. Ele é "esquema" para troca de favores, por exemplo, com figuras da pendantice intelectualóide nabantina tipo Faria ou Trincão, mas também outros tantos de igual índole, a nível regional ou nacional...
Os termos de Daniel Oliveira, homem do sistema bloquista, podem parecer exagerados, rudes e até a roçar o limite legal da difamação. Mas não: o que ele escreve é pouco. Pessoas como Relvas, são responsáveis em vários momentos históricos por atrocidades, por ditaduras, por coisas que pensamos inimagináveis. Não o Miguel claro, mas os Relvas dessa História: são as maneiras, os estilos, as formas, de conduzir, de manietar, de tirar partido das fraquezas humanas...
A pergunta que se faz, hoje, meses antes da sua queda é esta: resistirá a coligação com o CDS, resistirá o Governo, ao tal mais do que previsivel desenlace?
Mais: merece Portugal isto? Tomar vive esta ditadura há 15 anos. Quantos meses mais resistirá Portugal a ela?
Relvas: a fama que vem de longe
Por Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Sexta feira, 13 de julho de 2012
O jornal "A Região de Tomar" (http://pt.scribd.com/doc/99797889/Miguel-Relvas-UM-VERDADEIRO-ARTISTA) contava, em 1997, já lá vão 15 anos, as aventuras e desventuras de um deputado de Santarém. O rapaz tinha um currículo partidário imaculado na sua passagem por concelhias, distritais, jota e outras estruturas partidárias que lhe iriam garantir a equivalência em várias cadeiras na Universidade.
Contava o jornal, e já tinha revelado o "Templário", que o rapaz tinha o estranho hábito de viver em várias moradas ao mesmo tempo. Nenhuma batia certo. Vivia em Lisboa, dizia a lista telefónica. E vivia em Tomar, em três moradas diferentes, conforme aquilo a que se candidatasse, dizia ele nos documentos oficiais.
A razão para a confusão de moradas é simples: dando uma das suas várias supostas moradas de Tomar, e não aquela onde realmente vivia, em Lisboa, poderia receber o subsídio de deslocação.
A coisa saiu em todo o lado, assim como o seu envolvimento, no final dos anos 80, no escândalo das viagens fantasma. As malandrices de Relvas eram um segredo de polichinelo.
Ninguém no PSD ignorava quem era Miguel Relvas.
A sua fama de rapaz talentoso para contornar as regras e as leis em beneficio próprio vem de longe. Começou tão cedo - ainda nem 30 anos tinha quando se envolveu no caso das "viagens fantasma" -, que o seu currículo de aldrabices está largamente documentado.
Não, o primeiro-ministro, que anda pelo PSD há muitos anos e conheceu bem a fauna jotinha do seu partido (Passos foi presidente da JSD já Relvas tinha sido seu secretário-geral), sabia muitíssimo bem quem era o seu ministro.
Sempre soube. Não o escolheu como seu aliado para ganhar o partido pelas suas capacidades políticas ou intelectuais. Escolheu-o pelo seu talento em mexer-se na lama. E depois meteu-o no governo, com um poder quase absoluto sobre os restantes ministros, sobretudo nas pastas onde possa haver bons negócios.
Ontem, o reitor da Universidade Lusófona demitiu-se. Fez bem. Assumiu as responsabilidades de um processo de tal forma estapafúrdio que estava a transformar a sua universidade numa anedota nacional. É curioso que uma universidade privada se preocupe mais com a sua imagem do que um governo. Ainda mais, um governo que exige aos portugueses tantos sacrifícios.
Por estes dias, Passos Coelho não descobriu nada sobre o carácter de Relvas que não soubesse há muito tempo. Ainda assim, seria de esperar que se preocupasse com as aparências. Restam três justificações possíveis para Passos Coelho não demitir imediatamente tão incómodo ministro: tem medo de o ver à solta, depende dele para manter a fidelidade da mafia do partido ou nada disto o choca porque, na realidade, só aparentemente são diferentes um do outro.
Seja como for, Miguel Relvas é hoje o calcanhar de Aquiles de Passos Coelho. E é bem feita. Ele sabia bem com quem se estava a meter. Quem chega mais alto às cavalitas de um coxo deve estar preparado para cair com ele. Por mim, acho excelente que Relvas se mantenha no governo. Na sua exuberância, é uma excelente montra da natureza ética de um governo que vive dos negócios e para os negócios.