16.3.12

Livros revisitados - A revolução e o nascimento do PPD

Marcelo Rebelo de Sousa, o autor do nosso livro de hoje, termina-o com a seguinte frase que mistura a análise e a profecia: “Este é um dos encantos do PPD/PSD: a salutar junção de um basismo intenso, com uma abertura ecuménica e um caos organizativo insuperável”.     Mas vamos por partes, que Marcelo nesta 5ª edição da Bertrand Editora, em 2000, com o ISBN 972-25-1143-2, nos faz atravessar o momento político único de 1974-75, da criação do PPD a 6 de Maio de 1974, por Francisco Sá Carneiro, até à eleição em 25 de Maio de 1975 do seu sucessor, o ilustre maçom e lutador anti-fascista, Emídio Guerreiro.      Justifica-se uma leitura atenta deste documento histórico, aliás para se entender melhor, algumas das conivências históricas entre o PPD e os desvios de alguma esquerda não orgânica, mas profundamente anti-PS, que ao longo das suas 553 páginas nos pode deliciar, com um retrato na primeira pessoa, de um dos períodos mais marcantes da história do Portugal republicano.
Além da tese da construção do PPD pela junção de três “linhas”, que segundo Rebelo Sousa, foram a “linhagem católico-social, nascida entre 1955-65, como reacção contra o corporativismo de Estado”, como primeira linha e como segunda, a “linhagem social-liberal e, aqui e ali, também social-democrata, defensora da democratização do Estado Novo, com intervenção destacada na pessoa de muitos dos deputados da chamada ‘ala liberal’ durante boa parte dos anos do Marcelismo (1969-73)”. A estas duas, a páginas 14, soma o autor uma terceira, “linhagem tecnocrático-social, sobretudo preocupada com os imperativos de desenvolvimento e justiça.(…) A SEDES – associação para o desenvolvimento económico e social – criada em 1970, onde pontuou entre outros, o futuro primeiro-ministro António Guterres, que nunca trilhou esta “junção” que fundou o adversário PPD.
Sintomático dos tempos então vividos, a frase que Galvão Teles terá dito a Rebelo Sousa a 27 de Abril de 1974, à saída da faculdade de direito: “Se não fosse a ala liberal [da Assembleia Nacional 1969-73], a SEDES e o Expresso, agora haveria um enorme vazio à direita dos socialistas”, posiciona desde logo o PPD, para ser o adversário natural e fundamental da visão de liberdade, igualdade e solidariedade, perseguida e já promovida então pelo Partido Socialista. A misturada de variados interesses, ideologicamente antagónicos, socialmente espúrios, conservativos dos valores e do status quo, dentro do já citado “caos organizativo”, suportado por interesses económicos e órgãos de comunicação social, fizeram a génese daquilo que o PPD é, até hoje.
E isso nota-se. Em Tomar é aliás por demais evidente, nesta semana em que os locais escolhem a sua liderança, entre o arrivismo extremista camarário, de matiz ecuménica enganosamente assumida, mas imprópria para as resposta exigidas ao desesperado momento do Concelho e o conservadorismo liberal, pequeno-burguês, mas geracionalmente adequado nas respostas que pretende dar aos problemas que criaram, e que nos últimos dois anos geriram, com evidente insucesso. Em todo o caso, tal como no início do PREC, retratado no livro, Tomar com este PPD, onde auguro e desejo a continuidade da vitória do grupo liderado por João Tenreiro, não sairá da cepa torna: as mesmas soluções, para os velhos problemas, darão sempre os mesmos resultados. E o que o PPD tem para mostrar em Tomar, são mais de 14 anos de falhanço, atraso em relação às terras vizinhas e inveja e luta fraticida pelo poder.
“Caos”, diz Rebelo Sousa. Eu não diria melhor!