Aposentações e maré negra
por Serge Halimi
No passado dia 20 de Abril, os investidores chineses e os aposentados britânicos não imaginavam que a maré negra ao largo do Louisiana os fosse atingir tão depressa. No local, onze operários de uma plataforma petrolífera perderam a vida; os Pescadores da baía de Saint-Louis perderam o seu instrumento de trabalho; a população do golfo do México perdeu a qualidade do seu ambiente e os seus pelicanos castanhos. Muito mais longe das zonas sinistradas, as autoridades de Pequim e os reformados britânicos iriam, por seu lado, sofrer um outro tipo de prejuízo: em dois meses, os seus investimentos financeiros, sob a forma de acções da BP, caíram 48%. os fundos soberanos Chineses – bem como os do Koweit e de Singapura – iriam mostrar-se menos sensíveis em relação às companhias petrolíferas ocidentais.
O caso dos aposentados britânicos tem particular interesse numa altura em que, perante os constrangimentos dos mercados financeiros, os Estados europeus estão a «reformar» os sistemas de protecção social. Porque a redução contínua do pagamento das despesas de saúde ou do montante das pensões de reforma atirou muitos assalariados (como previsto e desejado) para os braços dos seguradores privados ou dos fundos de pensões. No Reino Unido, esses fundos foram inevitavelmente atraídos pelos 8,4 mil milhões de euros anuais de dividendos da BP. A empresa petrolífera, que ocupa o lugar cimeiro da London Stock Exchange, acabou por garantir, por si só, um sexto dos rendimentos desses fundos.
O rendimento pago aos aposentados britânicos tinha-se ainda tornado mais sedutor porque a BP resolveu limitar custos – negligenciando, se necessário, as medidas de segurança. No entanto, os Estados Unidos, como não são uma zona de não-direito nem um pequeno país cujo presidente se agita como uma marioneta antes de ceder a uma multinacional, não hesitam em defender-se contra a destruição da sua flora e das suas costas. Assim, cada barril de petróleo (159 litros) espalhado no mar faz com que o poluidor incorra numa multa de 4300 dólares. isto significa que uma mancha de petróleo como esta, que pode representar dezassete vezes a do Exxon-Valdez no Alasca, poderá fazer com que os accionistas da BP se arrependam das pequenas poupanças feitas pela companhia para maximizar os lucros.
Como sempre acontece com as aposentações por capitalização, os assalariados de Londres ou de Manchester subordinaram a prosperidade da sua velhice ao destino dos fundos de pensões que possuíam. Vêem agora com maus olhos as medidas de retaliação americanas, pois estas diminuem o valor bolsista da BP e degradam sensivelmente a avaliação do seu valor pelas agências de notação. Quando o presidente Barack Obama fez saber que a empresa petrolífera iria pagar as consequências de ter sido negligente, o antigo ministro trabalhista Tom Watson preocupou-se, portanto, com «uma crise séria para milhões de reformados no Reino Unido».
Pegar em «milhões» de assalariados desejosos de segurança depois de uma vida de trabalho e transformá-los em autómatos gananciosos que afinam as suas esperanças pelo diapasão dos dirigentes da BP, e não pelo dos pescadores do Louisiana, é a verdade essencial deste sistema que, crise após crise, põe a nu as solidariedades pervertidas graças às quais ainda subsiste.
quinta-feira 8 de Julho de 2010
le monde diplomatique