Não me lembro de alguma vez a temática da dificuldade de uma empresa em Tomar ter sido utilizada numa campanha eleitoral de forma tão demagógica e por uma conjugação de actores tão insólitos. Os últimos a entrarem em cena, para dar maior cobertura e consistência à deturpação de factos que dirigentes e candidatos do PCP e do BE têm vindo recorrentemente a esgrimir, foi, nada mais, nada menos, do que o candidato e coordenador do BE em Tomar junto à Fábrica, depois de na semana anterior o Deputado António Filipe do PCP o ter feito junto ao Governo Civil.
Alguém seria capaz de imaginar um comportamento destes de pessoas que sendo deputados (da República e da Europa), quando das suas bocas se não ouviu uma única solução para o problema?
O Governo, pelo seu lado, mantém uma linha de actuação na busca de uma solução conjugada entre o IAPMEI, o BES e a Empresa, para a viabilizar para o futuro e no presente aceitou o Lay-off para defender os empregos de 200 trabalhadores. Disponibilizou ainda técnicos da segurança social para fazer o acompanhamento a situação sociais mais emergentes, pela falta de parte da remuneração, prontamente adiada pelos sindicatos e actuou no sistema de apoios à internacionalização (Plano para o sector das Madeiras), permitindo conjugar soluções de formação, já em preparação pelo Centro de Formação do IEFP, para melhorar a “saída” dos trabalhadores desta crise com melhor nível formativo.
Pelo contrário a actuação destes dirigentes e deputados do BE e do PCP, bem como já em anterior episódio pelo Deputado e Presidente da Assembleia Municipal Miguel Relvas (PSD), foi apenas no sentido de tirarem partido de uma empresa em dificuldades, de trabalhadores em dificuldades, de uma economia em dificuldades. A verdade para eles, a relevância social de quem teve que pagar aos sindicatos 3 euros para se deslocar a Santarém (pasme-se!), quando ainda não haviam recebido um cêntimo de salário de Abril, isso não lhes interessa. A isso Miguel Relvas (PSD), António Filipe (PCP), Francisco Louça e Miguel Portas (BE), dignas sanguessugas da miséria alheia, em pura e dura campanha eleitoral à custa das desgraças dos outros, não apontaram um único caminho. Apenas contra, apenas a tentar tirar partido das dificuldades. Soluções, népia!
Para que conste, convém esclarecer que contrariamente ao que tem sido dito, até este momento, ninguém minimamente sério pode dizer que a empresa não paga porque não quer. Que a empresa não paga porque alguém na sua administração se apropriou ilicitamente de quaisquer bens, como oportunistamente alguns agitadores mal intencionados puseram a circular. Mas alguém imagina que uma empresa pode pagar o que quer que seja, se não vender? Que pode manter mais de 200 empregos se não produzir? Que o Estado ou algum Banco viabilizam uma empresa bloqueada, que não produz, nem vende?
A tentativa de mediação por um Presidente de Câmara que mantém uma dívida gigantesca a outro grupo empresarial do Concelho (João Salvador), mais não surge, neste contexto, como um acto de covarde oportunismo de quem não tem qualquer credibilidade pública para ser mediador entre empresários e trabalhadores, por ser ele próprio parte do problema.
A politização do processo tem sido uma vergonha: em primeiro lugar para os trabalhadores e para os dirigentes das empresa e em segundo lugar para Tomar. Não há campanha de promoção para a fixação de empresas, de desenvolvimento de um Concelho que possa assentar numa actuação como esta que se tem vindo a observar. Não há marketing que possa “simular” um Concelho onde todos (PSD, PCP e BE) parecem querer aproveitar-se do mal alheio. Assim não vamos lá!
Desde responsáveis de sindicatos a dizerem verdadeiras barbaridades, como o facto de a empresa não poder estar em Lay-off e ter dívidas aos trabalhadores, até a pseudo-liberais do PSD a pedirem a intervenção do Estado, sem quaisquer análises ou garantias de colocação do dinheiro dos impostos de todos nós, como se estivéssemos no tempo do Gonçalvismo. Destruir a economia nacional e ao mesmo tempo delapidar os cofres do Estado, parece ser a estratégia comum.
Mas a resposta é muito simples: não estamos já em 1975! Intervencionar as empresas, foi precisamente o erro mortal do Grupo Mendes Godinho, que se arrastou até hoje e de onde a IFM vem. Aliás parte substancial do crédito que o BES tem sobre esta empresa vem ainda desse arrastado e rocambolesco ”processo revolucionário em curso” e da nacionalização do Grupo empresarial.
Defender o trabalho e as empresas hoje, não é actuar da forma que se vem vendo na IFM. Sem empresas não há trabalho. Sem trabalho não há salário. E sem salário, só há desemprego. Isso parece ser, sinceramente, o que PSD, PCP e BE querem que aconteça em Tomar.
Permitam-me que eu, os autarcas socialistas de Tomar e os socialistas no Governo de José Sócrates não queiramos isso. Nós não seremos os coveiros da IFM, nem da economia nacional. Quem acredita que destruindo as empresas e a economia herdará uma Cidade, um Concelho ou um País viável e com futuro, continue a alimentar-se da miséria e na miséria acabará.
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