1.5.09

O SR. JOSÉ TAMBÉM GOSTA DO CALÓ

[Nota do dia, lida aos microfones da Rádio Hertz - FM98, a seguir ao noticiário das 13H00. Repete no Domingo, dia 3, a seguir ao mesmo noticiário]

Hoje, dia do Trabalhador, criado em homenagem aos confrontos havidos e mortes de trabalhadores da Chicago do Sec.XIX, temos hoje em Tomar um pouco, também, do nosso passado.

Estamos hoje inundados, por uma parte do nosso orgulho do passado recente: a Homenagem à primeira equipa que, do Distrito de Santarém, acedeu à 1ªDivisão do Campeonato Nacional de Futebol. Mais do que espelho do interesse por uma forma de desporto de massas, capaz de gerar e mover multidões em todo o mundo, o Futebol e a sua dinâmica ajudam, muitas das vezes, a retratar os índices de desenvolvimento económico de uma determinada região.

Se há quarenta anos, entrámos na 1ª divisão, fruto da pujante indústria de segunda geração que aqui se desenvolvia, alicerçado numa postura regional liderante, hoje disputamos, com todo o mérito, honra e espírito de sacrifício, a distrital com o Riachense, equipa da simpática e desenvolvida vila do vizinho Concelho de Torres Novas.
Está tudo dito. Ou quase…

Termino com duas notas muito breves.

A primeira de forte, empenhado e muito sentido OBRIGADO ao Barnabé, Conhé, Kiki, Caló e colegas, por terem ajudado a que Tomar estivesse no Mapa, durante alguns anos, também em resultado do Futebol. Ajudou de forma decisiva à geração dos meus pais, a serem mais felizes na sua terra e na terra que fizeram sua, da qual têm orgulho e na qual se fizeram geração de Tomar.

A segunda, de reconhecimento pelo exemplo de vida que o Sr.José, operário fabril do nosso Concelho, que seria um “puto” de 10 ou 12 anos, quando Barnabé e companhia eram os heróis locais. O Sr.José que comigo se cruzou há três semanas, que não me conhece, nem eu a ele, deu-me um exemplo de vida, que não esquecerei.

Que fazia aquele homem às oito da noite, junto a uma empenhada funcionária administrativa da sua empresa que lhe dava uma folha a assinar, metido nas suas calças de sarja dura, completamente comidas pelo pó do cimento, provavelmente depois de mais de 10 horas de trabalho duro, a fabricar manilhas?

Assinava a folha e agradecia, com ar condoído, olhar vago e longe dos sonhos de puto, que nos anos sessenta, tinha os calós como heróis. E dizia: "ao menos dará para que não me cortem a luz".
Acabara de receber uma nota de 50 euros, que eu vi, assinando o respectivo vale de adiantamento sobre o seu salário em atraso. Do atraso de um pagamento que a Câmara de Tomar não fez.

E eu dei comigo a pensar o que iria ser o jantar daquele Homem, que era um puto com sonhos, quando eu era pouco mais do que um bebé de colo.

Obrigado Sr.José. Também por si, sou eu hoje, geração de Tomar!