Uma das vantagens do mundo actual é a rápida transmissão de informação. Hoje em dia temos quase tudo on-line (em linha informática), ou seja, exactamente à distância de um clique do rato do nosso computador. O acesso à informação deixou de estar apenas nas mãos de uns quantos esclarecidos, para chegar a todos a todo o tempo, assim se democratizando rapidamente.
Neste novo paradigma informativo, difícil é perceber como alguns pretendem que pensemos que o mundo era como há vinte ou trinta anos, onde ainda era possível esconder ou fazer esquecer os dislates, as incongruências de actuação, o favor ou o jeito colocado de forma amiga na mão que dá de comer...
Este novo tempo é mais justo, é mais perfeito e exige uma cidadania mais activa e forte. Menos tolerante perante a ignorância ou perante o dogmatismo sempre alimentado pelo compadrio de valores e acções.
Tenho a felicidade de pertencer a uma geração totalmente educada já depois do 25 de Abril, onde se leu os “Esteiros” de Soeiro, onde se deu valor ao “pensar pela própria cabeça” e onde ao seguidismo de algumas gerações anteriores perante os fortes e poderosos, o medo às “grandes famílias” das terras pequenas ou os hábitos pequeno-burgueses de uma sociedade ainda muito “Ai Senhor das Furnas, que escuro vai dentro de nós”, por exemplo, não fazem já parte da nossa vivência.
Pertencer a uma geração que tem “mundo na cabeça” é de facto um orgulho que não enjeito e em todas as missões onde me tenho empenhado quer sejam de cariz local, regional, nacional ou europeu, tenho procurado actuar com a probidade e ensinamentos que em cada uma delas vou colhendo. O gosto pelo ler e ouvir as opiniões dos outros, muito especialmente daqueles com os quais estou normalmente em desacordo, muitas vezes me tem ajudado a mudar a minha opinião e com isso a tomar decisões mais audazes, acertivas e justas. Quem comigo teve oportunidade de trabalhar nos últimos anos, na difícil gestão política do PS em Tomar, sabe que assim é.
Uma das verdades que aprendi da vida, nestes 41 anos de que me orgulho, é que nem sempre temos razão. Outra que aprendi é que quando o temos não nos devemos calar, sob pena de se poder achar que somos frouxos, medrosos ou medíocres.
Vem isto a propósito de um escrito que guardei, ao qual não terei dado eventualmente o devido valor, mas que revela da visão e leitura política que ao tempo (1995) se fazia daquilo que era a gestão do então Presidente de Câmara eleito pelo PS. Quem o escreve é o actual Vereador Carlos Carrão, eleito pelo PSD e seu mais que provável candidato às eleições de 2009. Deverá ser dado o devido desconto pelo facto deste Vereador ser um adversário político, mas os factos relatados e estado de espírito da época, ajudam-nos a relembrar que esse caminho nunca mais deverá ser trilhado, a bem da nossa sanidade e orgulho como Tomarenses.
Escrevia então Carlos Carrão, no Jornal “O Cidade de Tomar”, do dia 6 de Outubro de 1995, na sua Página 5, sob o título TOMAR ESTÁ DOENTE, com selecção, itálicos e destaque da minha responsabilidade:
“(...)Na realidade, não tenho conhecimento de, na nossa história municipal, antes ou depois do 25 de Abril, terem existido cenas tão tristes (com denúncias, ameaças e chantagens à mistura), na mais importante instituição municipal nabantina, o edifício dos Paços do Concelho. (...)
Discussões como a verificada entre o Presidente da Câmara [Pedro Marques] e um munícipe (construtor civil) em que se utilizaram expressões como:
“o sr. Não perdoa nada, eu também não lhe posso perdoar nada a si, pá...”,
“tenho de lhe dar todas e se eu descarrego a manga, então o sr. presidente é que vai desta... eu tenho o saco cheio...”,
“demita-se sr. presidente, o sr. não está a fazer nada na Câmara... o senhor só quer encher o seu saco e está-se marimbando para os outros...”,
“o sr. não ajuda nada a população, só causa problemas, o sr. é maldoso... por qualquer coisa, o sr. é ruim... entrou para a Câmara e pensa que é dono da Câmara, mas isto não é seu...”,
“pode chamar à vontade a autoridade, sabe bem que, quando eu for preso, o sr. vai primeiro do que eu...”,
“se fosse uma compra feita pelo sr. era tudo fácil...”,
“o sr. pode quando é para os seus amigos”...
“quando é para encher o saco, o sr. resolve... eu tenho prova disso e vou mostrar-lhe em breve...” (...), são “diálogos” que travados na sala de reuniões do executivo camarário, envergonham qualquer tomarense...
Tomar está doente! É uma epidemia provocada por parasitas para os quais ainda não foi encontrado o antídoto eficaz. Entretanto a nossa imagem externa está cada vez mais degradada. Tomar que tem as condições para ser o Concelho mais importante da região, vê-se, desta forma, vítima de “chacota”, por parte dos vizinhos. Algo tem de ser feito para inverter este caminho, sob pena de, perante a nossa indiferença, o descrédito se instalar... (...)”
Em política, como na vida direi mesmo, a memória é importante. Cometer o mesmo erro várias vezes ou é sintoma de ignorância ou de masoquismo. Penso que quer por uma razão, quer pela outra, esquecer o que foram os anos de Pedro Marques como Presidente de Câmara em Tomar seria para todos um erro colossal e de consequências imprevisíveis!
Post Scriptum
Nota de vão de escada: Contaram-me arautos que pileca estranha e abatida democraticamente em contenda interna antiga, zurziu um qualquer vómito em defesa de seu dono. Como só ofende quem pode e não quem quer e ao vómito se não responde, apenas se limpa, aconselho vivamente o uso de restaurador Olex p'rá careca da dita!