14.1.07

A QUESTÃO ENERGÉTICA DA EUROPA - Breve abordagem de incidência Regional

(Revisão e atualização de abril de 2018 e março de 2019)

Referências e créditos:
- Os Impactos Económicos do Aumento dos Preços da Energia - Grupo Socialista do Parlamento Europeu - Nov 2006
- Sítio das Nações Unidas - actualização de Dez 2006
- Sítio do Diário Económico - Arquivo de 2006-2007
- Uma Verdade Inconveniente - Al Gore - 2006
- Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN)- 2007
- Portugal 2020 - 2013
- Quadro de apoios comunitários após 2020

Parque de painéis fotovoltaicos da Central das Cabeças (Tomar) - inaugurado em janeiro de 2014 
A dimensão económica da questão energética da Europa, tem consequências efectivas também na “solução” ambiental e na equidade social. É assim claramente uma daquelas matérias onde uma visão de Desenvolvimento Sustentável mais se aplica e, sobre a qual mais alterações iremos observar no decurso dos próximos anos.

Enquanto que antes do ano 2000, os preços do Petróleo bruto rondavam valores de 9-10 €/barril (10-12 US$), durante os últimos seis anos têm aumentado acentuadamente até terem atingido os 59€/barril (79 US$) em Agosto de 2006, tendo desde aí abrandado, mas sem haver qualquer prova de que o aumento não volte a acontecer nos próximos anos, quer seja pela sua cada vez maior escassez, quer seja pelo aumento brutal do seu consumo por parte dos Países Asiáticos.

Ao preço de 50€/barril (64 US$), a UE paga 250.000 Milhões €/ano pelas suas importações de Petróleo, cerca de 1,5 €/dia para cada um dos seus 457 Milhões de Habitantes. Tal montante de 1,5€/dia/habitante, é mais do que o dinheiro diariamente disponível para a sobrevivência de cerca de um terço dos Habitantes do Planeta, que vivem com menos de 1,5€ (2 US$) por dia.


Evolução da cotação do Brent - preço em abril de 2018, cerca de 74$(60€)/barril (cotação - 1,47€/$, a 31/12/2007; 1,20€/$, a 31/12/2017) - Preço do petróleo Brent no final de 2007 era de 71€/barril e em abril de 2018 é de 60€/barril, tendo atingido o seu máximo em agosto de 2008, com cerca de 90€/barril


Tal situação para além de ABSURDA, é deveras chocante!

Actualmente os gastos em importações de Petróleo equivalem a 2,4% do PIB da UE, representando a importação de Energia cerca de 50% das necessidades energéticas da Europa. Em 2030, se nada for feito até lá, 70% da Energia consumida na Europa será importada, representando a "fatia Petróleo" cerca de 94% desta.

Com este nível de dependência, cada aumento de 10 €/barril deverá representar um volume adicional de importações de cerca de 40.000 Milhões €/ano (cerca de 0,24€ habitante/dia).
Embora as consequências económicas imediatas sejam negativas, a evolução dos últimos anos dos preços do petróleo, bem como o expectável e continuado aumento deste, representam também um conjunto de novas oportunidades, que mais não seja, porque tal contribuirá para passar dos combustíveis fósseis para outras fontes de energia, o que até agora não foi conseguido através de medidas ambientais limitadas.

A actual crise energética, ilustra claramente o potencial do mercado prometedor dos Países emergentes e em desenvolvimento no sector das energias renováveis, bem como das tecnologias destinadas a aumentar a eficiência energética, colocando em evidência as taxas positivas de crescimento e emprego deste sector.

A Europa no seu todo e, os cidadãos europeus em particular, deverão aproveitar finalmente esta oportunidade de alteração de hábitos e não perder a liderança do mercado das tecnologias ambientais a favor dos Estados Unidos da América.

Só a título de exemplo, para se entender a dimensão económica e respectiva criação de “emprego tecnológico”, o montante necessário para suprir as falhas tecnológicas, em matéria de energia, seja na área dos combustíveis fósseis, produção hídrica ou nuclear, segundo dados da Comissão Europeia, apontam para cerca de 1.000.000 Milhões € (10^12 €) para os próximos 20 anos - qualquer coisa como 109€/Habitante/ano.
Aqui, as opções que temos tomam um de dois caminhos: podem ser investimentos nas fontes de energia tradicionais e na exploração das últimas reservas de Petróleo durante os próximos 20 anos ou podem ser investimentos que tomem outra direcção – a da sustentabilidade!

Algumas propostas estão neste momento já a fazer o seu caminho, em matéria de investimento futuro, nas diferentes instituições Europeias – Parlamento e Comissão. Eis alguns exemplos:

1) Elaboração por parte da Comissão Europeia de um PLANO detalhado para reduzir a dependência energética da União e realização de transferência para as "Energias Limpas", com avaliação de Impacto da eficiência energética;

2) Criação de um regime de apoio ao investimento por parte da Banca privada e das Instituições financeiras públicas, através de Fundos de Eficiência Energética que subvencionem Projectos neste domínio;

3) Os objectivos de eficiência energética irão ser também integrados noutras políticas sectoriais, nomeadamente a política fiscal, a política de transportes e a política de coesão. Irão ser propostos regimes de financiamento e instrumentos contratuais inovadores, como o micro-crédito e as parcerias de capital de risco entre as empresas privadas e as administrações públicas locais, afim de associar activamente os parceiros locais e os decisores;

4) As políticas fiscais irão desenvolver incentivos para o aumento do investimento a favor da eficiência energética, das energias renováveis e dos produtos respeitadores do ambiente e favorecer estas opções, integrando cada vez mais o princípio do "poluidor pagador";

5) Uma vez que o sector dos transportes representa 56% do consumo de Petróleo na UE e é o mais afectado pelo aumento dos preços do mesmo, irão ser adoptadas políticas relativas à eficiência energética no sector dos transportes e à mudança de paradigma no uso dos mesmos;

6) Irá ser estabelecida uma estratégia global para suprimir gradualmente a utilização de combustíveis fósseis no sector dos transportes e promovida a introdução no mercado de técnicas de baixa emissão de CO2, utilizando as tecnologias mais recentes de alimentação de motores por biocarburantes e/ou biohidrogénio.

Todo o processo e metodologia de alteração de paradigma no sector energético Europeu, irá assentar cada vez mais na alteração de uso individual e nas políticas locais e regionais do uso da mesma.

É minha convicção, que as Regiões e localidades que mais rapidamente entenderem que o caminho é por aí, mais rapidamente verão níveis de crescimento económico, ambientalmente sustentados, capazes de conduzir ao aumento do emprego e do necessário equilíbrio social.

O conceito base, bebe na visão do DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ou seja, aquele tipo de desenvolvimento que garantido as expectativas de crescimento das gerações actuais não coloca em causa o crescimento das gerações futuras, procurando o necessário equilíbrio entre desenvolvimento económico, social e ambiental.

A situação vivida na Europa nos Invernos de 2005/6 e 2006/7, no que ao recebimento de Gás Natural e de Petróleo da Rússia através da Ucrânia e da BieloRússia, por onde entram só através do pipeline da BieloRússia 12,5% do consumo da EU, obrigou a todos os níveis de poder no seio da nossa Europa a perceber que a mudança de paradigma e as acções necessárias “são para ontem”.

A permanente disputa entre a companhia estatal russa GAZPROM, que detém uma quota mundial de 20% de Produção de Gás Natural e os Estados satélites da Ucrânia e da BieloRússia, transforma a Europa num "actor indefeso" perante a "lógica Imperial Russa", comandada por interesses que têm o seu términus na estratégia norte-americana de controlo mundial da energia, numa lógica neo-liberal pura e dura.

Neste contexto a estratégia Alemã de desmantelamento das suas Centrais Nucleares, bem como a existência de regiões da UE sem produção de energia com recurso a essa tecnologia é na minha opinião, claramente insustentável - Portugal incluído.

Portugal é o País da Europa mais à mercê das oscilações dos preços globais da energia, apesar de ser o País da UE com maiores reservas de Urânio, que é o minério base que depois de um processo de enriquecimento permite a produção de energia em Centrais Nucleares.
Aliás, Portugal detém só o maior Porto de águas profundas da Europa – Sines, capaz de garantir a acostagem de navios de grande porte, capazes de transportar gás liquefeito de outras partes do mundo - por exemplo da Nigéria ou da Venezuela.

Aliás, Portugal detém também a maior média de horas de insolação por ano de toda a Europa, capaz de garantir uma produção de energia não displicente no contexto europeu, a partir da energia solar.

Está também em franco desenvolvimento a instalação de um verdadeiro cluster de Energia Eólica, tirando partido da exposição do País aos quase permanentes ventos do Oeste, soprando do Atlântico, varrendo praticamente todo o País.
Parque de energia Eólica da Nazaré - inaugurado em 2004

Não se julgue porém que só às autoridades europeias e nacionais compete intervir nesta matérias, pois as autoridades locais deverão encontrar as estratégias de intervenção no ordenamento do território e os investimentos e parcerias concretas, capazes de mudar o paradigma do uso dos transportes e da gestão colectiva da energia, em edifícios públicos por exemplo, levando a uma redução das emissões de CO2 - pagos a peso de ouro, mercê do Protocolo de Quioto.

Sempre defendi que a nossa sub-região, Médio Tejo, detinha uma capacidade instalada no setor da Ferrovia, capaz de alterar no espaço de uma década o uso dos transportes entre a nossa Rede de Cidades - Tomar, Torres Novas, Entroncamento e Abrantes.

Os desafios de futuro, colocados no âmbito dos financiamentos comunitários - (QREN - 2007-2013, Portugal 2020 - 2013-2020, Geração 2030 - 2020-2027), promoverão investimentos com base nas actuais NUTIII - no nosso caso o Médio Tejo, valorizando projectos integradores de cariz Inter-Municipal, com incidência especial na valorização do Território. nomeadamente no setor do Ambiente.

Uma Europa vista como um todo no contexto mundial, alicerçada em autoridades locais e regionais com visão e dimensão, é o desafio que se coloca a todos nós no sentido de deixarmos aos nossos filhos um mundo onde estes possam tomar as suas opções, sem estarem demasiado condicionados com aquelas que tomamos hoje.

Este é claramente o desafio que se coloca à nossa geração.
Saibamos assumi-lo, de espírito aberto e sem quaisquer dogmas!


O ATUAL DESAFIO LOCAL EM TOMAR - Face às alterações climáticas (3/2019)

Estratégia municipal de adaptação às alterações climáticas, apresentada pela Eng. Cátia Pouseiro, em Tomar, com a presença do Secretário de Estado do Ambiente, no âmbito do Programa Adapt - coordenado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde Tomar se inclui com mais 25 Municípios.
Denominado ClimAdaPT.Locap a estratégia de Tomar, passará pelo aumento do conhecimento, reduzir as vulnerabilidades, melhorar a eficácia, identificar as oportunidades criadas.
É um processo contínuo de avaliação, ação, correção e integração, com análise especial nos eventos dos últimos 14 anos, entre 1999 e 2013 - perfil de impacto local.

Para a avaliação dos riscos mais prioritários, identificaram-se fatores como a redução de 40% da precipitação, aumento de temperatura superior entre 1 e 4 graus, com aumento de fenómenos extremos, ondas de calor, diminuição de duas de geada. Maior deslizamento de vertentes e cheias rápidas, redução do potencial económico local, aumento é maior rapidez dos incêndios.

PRINCIPAIS RISCOS
Médio prazo - incêndios e cheias rápidas
Longo prazo - deslizamento de vertentes, outros fenómenos extremos

Que opções de adaptação temos então? [os dois primeiros Cascais e Almada]
13 opções de adaptação, passando por formação, sensibilização, manutenção de base de dados com registos extremos, programa gestão uso eficiência da água, hortas e energética. Planos municipais de contingência para cheias, secas, açudes e defesa da floresta.
O que é mais prioritário?
Através de análise multi-critério, concluiu-se que a formação contínua, a evolução do centro de monitorização e a manutenção da base de dados.

Os últimos são: Planos municipais de contingência para ondas de calor, secas e defesa da floresta - aqueles que têm maior relevância política.
No final estão feitas uma série de recomendações a serem avaliadas pelo poder político e discutidos pela sociedade.
Foi entretanto criado o Conselho Local de Acompanhamento, das alterações climáticas, composto entre outros, pelas juntas de freguesia, agentes de proteção civil e APA